quarta-feira, maio 27, 2015

FESTIVAL DA EUROVISÃO DE 2015


Realizou-se mais um Festival da Canção na Europa que foi bem menos europeu do que o seu nome sugere. As músicas cantadas nas línguas nacionais são raríssimas. Impôs-se uma americanização não apenas musical e linguística mas até mesmo estética de maneira tal que assistir àquilo é pouco diferente de ver o canal MTV ou coisa parecida. O espírito basicamente competitivo conjuga-se com o molde dos gostos dominantes para que se imponha esse estado de coisas. Eventualmente acreditam, os concorrentes e autores, que as suas possibilidades de vencer aumentam exponencialmente se cantarem em Inglês e com trejeitos éMeTiVescos. Talvez tenham razão, mas o resultado é genericamente empobrecedor e tira valor ao que deveria ser um evento especificamente europeu. Valha, neste caso, o bom exemplo português, que por orgulho e/ou coerência dos autores e júris resiste sempre à baratice da competitividade e leva ao evento letras na língua pátria. Uma obrigatoriedade de que os representantes dos países cantassem cada qual na sua língua étnica faria todo o sentido, do mesmo modo que faria sentido proibir as selecções desportivas nacionais de incluírem atletas naturalizados. Sem isso ou medida equivalente, a descaracterização etno-musical permanece e torna-se em diversos casos deprimente quando não chocante.
Descaracterização étnica também sintomática foi visível na escolha das apresentadoras - uma negra, uma mulata e apenas uma branca europeia. Assim de repente dá aspecto de constituir uma concretização deveras primária, grosseiramente ostensiva, da ideia de que a Europa é para todos, quando a mais elementar legitimidade indica que a Europa é, enfim, o espaço específico dos Europeus, que é uma coisa para se dizer com calma e sobriedade mas sem ser preciso pedir muita desculpa...
Salvam-se os cenários e o palco, os efeitos luminosos epicamente magistrais, bons demais para o que por ali se ouviu, bons demais também para serem usados uma só vez.