segunda-feira, julho 21, 2014

ESTARÁ A TURQUIA A APOIAR O ESTADO ISLÂMICO DO IRAQUE E DA SÍRIA?

Um artigo de Daniel Pipes, colaborador do site anti-islamista Jihad Watch: http://www.minutodigital.com/2014/07/04/daniel-pipes-apoyo-turco-al-estado-islamico-de-irak-y-siria/
http://es.danielpipes.org/14507/apoyo-turco-estado-islamico-irak-siria
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Parece haver indícios de que a Turquia, Estado muçulmano que muitos ainda consideram, anacronicamente, como «laico», e que quer ingressar na União Europeia, tem apoiado pela calada o Estado Islâmico do Iraque e da Síria (EIIS), grupo sunita que combate no Iraque e na Síria e que domina já grande parte destes territórios. 
Esta possibilidade parece desmentida pelo facto de o EIIS ter atacado alvos turcos, na Turquia, bem como em Mossul, bem como pelo encontro recente entre os presidentes turco e iraniano, sabendo-se que o Irão, que é xiita, está contra o EIIS. 
Todavia este encontro só por si não garante nada. A oposição entre a Turquia e o Irão não desaparece com um encontro de presidentes. Esta tensão, crescente, é descrita pelo jornalista turco Burak Bekdil na mais recente edição da revista Middle East Quarterly:

«Nos últimos anos tem-se assistido frequentemente a discursos oficiais procedentes dos dois países a respeito do próspero intercâmbio bilateral e da solidariedade ideológica anti-israelita comum. Mas fora dos canais habituais observam-se indícios de rivalidade, desconfiança e receio sectário mútuo entre os dois países muçulmanos.»

Diz Pipes que mesmo que Ancara desminta estar a ajudar o EIIS, as provas desse apoio não deixam de existir. 
Escreve um colunista da imprensa turca, Orján Kemal Cengiz, que «ao termos nós (Turcos) a maior fronteira com a Síria, o apoio da Turquia é vital para os jihadistas na hora de entrar e abandonar o país.» E, segundo Pipes, os centros dos jihadistas aglutinam-se nas imediações das fronteiras turcas.
Curdos, especialistas académicos e forças da oposição política na Turquia concordam em dizer que muitos sírios, turcos (cerca de três mil) e estrangeiros (sobretudo sauditas, e também gente que parte da Europa) cruzaram a fronteira turco-síria sem dificuldade, para irem combater como voluntários no EIIS. Aquilo a que o jornalista turco Kadri Gursel chama «autoestrada jihadista de duas vias» não tem tido obstáculos nos controlos fronteiriços e às vezes parece que até implica o apoio activo dos serviços secretos turcos. A CNN chegou a elaborar um trabalho sobre «as rotas jihadistas clandestinas de contrabando através da Turquia».
Os residentes turcos próximos da fronteira síria falam de ambulâncias turcas que estariam acudindo a zonas de combate curdo-jihadista e que rapidamente evacuariam os feridos do EIIS para centros hospitalares turcos. Há efectivamente uma fotografia na qual se pode ver um comandante do EIIS, Abú Mohamed, numa cama hospitalar a receber tratamentos por feridas de combate no Hospital Público de Hatay em Abril de 2014. 
Um político turco da oposição calcula que a Turquia terá pagado ao EIIS cerca de oitocentos milhões de dólares por carregamentos de crude. Outro político difundiu informações relativas a efectivos regulares turcos que estariam a ministrar instrução militar aos membros do EIIS. Há críticos a afirmar que o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdoğán, reuniu-se em três ocasiões com Yasín al-Qadi, que teria vínculos estreitos com o EIIS e que o financiou.
O acima referido Cengiz escreve ainda que, quanto ao regime sírio de Bashar al-Assad, a Turquia «pensando que os jihadistas assegurariam uma rápida queda do regime de Assad na Síria, apoia os jihadistas, por mais que as autoridades (turcas) o desmintam» tal como «os países ocidentais e alguns países árabes em princípio e apesar das suas advertências posteriores.»
A cúpula da Rojava, região autónoma «de facto» [em Latim, algo que não está oficializado mas que se reconhece como factual] dos Curdos na parte ocidental do Curdistão, esta cúpula ou centro de comando está cada vez mais alinhada com o movimento independentista curdo PKK, radicado em parte na Turquia, uma vez que parte do Curdistão constitui a zona oriental do Estado Turco. A jornalista turca Amberín Zamán não tem dúvidas em dizer que «até há pouco, a Turquia estava disposta a permitir que os guerrilheiros jihadistas atravessassem livremente as suas fronteiras» para combater os independentistas curdos.
Deve entretanto registar-se que uma instituição de caridade com sede em Istambul e que tem como acrónimo HISADER adoptou a insígnia do EIIS, que contém o credo da fé islâmica («Não há outros Deus senão Alá e Maomé é o seu profeta»):

Insígnia do HISADER:



Insígna do EIIS:





É também de ter em conta que conforme assinala o analista turco Mustafá Akyol, Ancara aceitava que «qualquer um que combata al-Assad é bom» e albergava «certa inquietação ideológica com a aceitação de que os islamistas podiam fazer coisas atrozes». Isto produziu, diz, uma «certa cegueira» relativamente aos jihadistas violentos. O que não surpreende, acrescento eu, quando se recorda que o próprio primeiro-ministro turco defendeu o famoso «genocida de Darfur» argumentando que um muçulmano «não pode ter cometido crimes como os que lhe são imputados»...
Afirma Pipes, de resto, que o EIIS é muito popular na Turquia. E tal é o apoio turco que a publicação virtual Al-Monitor insiste para que a Turquia feche as suas fronteiras ao EIIS enquanto a Rojava (a zona curda acima referida)  ameaça Ancara com «duras represálias» a menos que a ajuda turca ao EIIS cesse.

Em suma, a Turquia, inimiga do regime de Assad e dos independentistas curdos, pode bem estar a apoiar o EIIS, o que pode agravar as tensões entre Turcos e Iranianos.

Esta é mais uma achega para se perceber o perigo que é deixar que a Turquia entre pela Europa adentro, como quer a generalidade da Direita capitalista e da Esquerda europeia.