UM REFLEXO DE LUZ ANTIGA NA SÉRIE «DA VINCI'S DEMONS»...
Foi uma agradável surpresa observar uma referência pagã bastante positiva no primeiro episódio de «Da Vinci's Demons» («Os Demónios de Da Vinci»), série de grande divulgação mediática - ou «mainstream», como se costuma dizer - actualmente exibida na Fox e publicitada em vários cartazes pela rua fora. O artista, inventor, cientista, engenheiro, sei lá que mais, italiano, considerado por muitos como o maior génio do segundo milénio da era comum, é visto aí a ter contactos privilegiados com uma espécie de seita secreta que teria salvaguardado os ensinamentos iniciáticos do culto a Mitra, grande Deus ariano da Verdade e da Luz, que foi das mais adoradas Divindades no Ocidente romano antes da imposição formal, e brutal, do Cristianismo. Como diz determinado mestre que revela segredos a da Vinci, «eles reprimiram o saber antigo» - não concretiza ao que se refere quando diz «eles», mas quem leu alguma coisa sobre o assunto sabe que estes «eles» são os mesmos que tudo fizeram para impor o culto ao Crucificado na Europa e no resto do mundo...
A ideia subjacente aqui já vem de há alguns anos, tem tido tratamento académico e é particularmente acarinhada em círculos pagãos: apesar da repressão cristã, ter-se-ia mantido um grupo selecto de intelectuais que secreta e subversivamente guardava e transmitia cultos e ensinamentos do passado pagão amaldiçoado e severamente perseguido pela Cristandade. E é uma teoria com pernas para andar, já que conhece pelo menos, pelo menos, um caso concreto, e que caso: sabe-se hoje que um dos maiores teólogos da Cristandade ocidental, Gemistos Pleto, já referido neste blogue, era secretamente pagão, ou pelo menos redigiu textos declaradamente pagãos, que manteve em segredo e foram descobertos apenas depois da sua morte. Não é impossível que outros exemplos houvesse e que ao nível da intelectualidade mais desenvolvida desses tempos se acoitasse uma corrente de transmissão de antigos conhecimentos e talvez cultos de uma espiritualidade arcaica, autêntica.
Entretanto o supramencionado mestre «mitraico» é turco, e antes disso outro membro da mesma malta secreta é judeu, isto assim de repente até dá ideia que se mistura aí a repressão cristã com a «discriminação» étnica, digamos que é a parte mais politicamente correcta e anti-racista da coisa, ao fim ao cabo a série é de grande divulgação e dificilmente podia escapar à tara antirra, dominante no seio da elite me(r)diática, mas enfim, é o que há...
A maneira como da Vinci é retratado também não é das mais interessantes. Aquela pinta de jovem espertalhaço e malandreco, sempre cheio de piadas e piadolas, espécie de «Dr. Who» metido na Renascença italiana, sempre bonzinho (e defensor de gente das minorias, por coincidência...) e irreverente contra a família, chega a enjoar de tão estereotipado e lugar-comum que inspira, mas, apesar disso, não dei o tempo por mal gasto ao ver o primeiro episódio da coisa.
4 Comments:
olha lá, não tem mal nenhum o leonardo da vinci ter sido alegadamente folgazão, era sinal de que não era morcão... era italiano, não era? os italianos não eram (são) conhecidos pela veia irónica e mordaz?...
a ironia não é um sinal de inteligência conceptual? então, qual é o problema?:)
não temos é qualquer prova de que tivesse sido defensor das minorias (judeus do getto? descendentes dos bizantinos fugidos para o sul de itália?).
quanto à propalada "rebelião" contra a família, não se trataria de choque gearacional? não é isso fenómeno mais que normal, e até salutar, por apelar ao contraditório e à imaginação funcional? contra a família? certamente que não. inconformismo, inquietude de temperamento, se calhar. os anos 50 dos "angry young men" e os "beatnicks" ainda estavam longe.
mas já se sabe que, com esta onda castrante do políticamente correcto, as deturpações biográficas são uma constante, com a agravante de pretenderem veicular formas de pensamento nada saudáveis nem democráticas...
O que é "folgazão"?
«olha lá, não tem mal nenhum o leonardo da vinci ter sido alegadamente folgazão,»
Não tem, mas aquela maneira de ser folgazão é um bocado infantil e irritante, pronto...
a ironia não é um sinal
acho que se impos tanto esse mito que ha alguns que só usam de ironia pra parecerem "cult" e "espertos"
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