NOTÍCIAS ANTIGAS SOBRE ENDOVÉLICO E O SEU TEMPLO
Restos do santuário de Endovélico, em Terena |
André de Resende confessa ignorar totalmente a etimologia da palavra I'Endovelico", supondo apenas que ela fosse porventura um nome derivado da cidade mais vizinha que poderia chamar-se Endovélia; mas os geógrafos antigos não dãü notícia de tal cidade, como observa o seu escoliador Diogo Mendes de Vasconcelos. Este dá-lhe mais duas interpretações, puramente cerebrinas, imaginando que aquele nome seja derivado da dicção grega Balos ou Va-los, para designar 0 deus Término dos romanos? ou que a palavra Endovélico proviesse do verbo latino Vellere (arrancar), como se este deus tivesse por virtude própria arrancar dos corpos objectos estranhos, neles espetad0S. Faria e Sousa na sua Europa Portuguesa é de parecer que Endus si-gnifica o mesmo que Marte ó la Naturaleza en esta estacion (a primaverasš?
Por Fim, já neste século, sai-se António da Visitação Freire, sócio corresPoflüente da Academia Real das Ciências de Lisboa, com as suas Observações sobre a divindade, que os Lusitanos conheceram debaixo da denominação de Endovêlico, as quais Foram impressas nas Memórias da mesma Academia) .
Por Fim, já neste século, sai-se António da Visitação Freire, sócio corresPoflüente da Academia Real das Ciências de Lisboa, com as suas Observações sobre a divindade, que os Lusitanos conheceram debaixo da denominação de Endovêlico, as quais Foram impressas nas Memórias da mesma Academia) .
Novais, na sua Relação do Bispado de Elvas, refere mais o seguinte: conta Aládio (Lib. 4, cap. 2 e 29) "uma cousa muito notável; e é, que na noite em que nasceu Nosso Senhor Jesus Cristo, se achou nele (templo de Endovélico) a estátua de Cupido caída pelo chão e toda desfeita, e que o mandaa terram dizer para Roma por grande maravilha; mas que o Imperador, semna conta de tal, mandou recolher a prata do ídolo e fazer outro de metaldourado.
Ora este «Cupido» é como o autor chamava a Endovélico, porque pensou que o Deus indígena Endovélico era na verdade o Deus grego Cupido, ou um Seu equivalente, devido ao aspecto da iconografia que lá encontrou. Significa isto que o culto indígena a Endovélico terá recebido uma influência clássica greco-romana no que à iconografia diz respeito.
A notícia faz também eco, creio, das destruições iconoclásticas levadas a cabo pelos cristãos contra os cultos politeístas.
Ora este «Cupido» é como o autor chamava a Endovélico, porque pensou que o Deus indígena Endovélico era na verdade o Deus grego Cupido, ou um Seu equivalente, devido ao aspecto da iconografia que lá encontrou. Significa isto que o culto indígena a Endovélico terá recebido uma influência clássica greco-romana no que à iconografia diz respeito.
A notícia faz também eco, creio, das destruições iconoclásticas levadas a cabo pelos cristãos contra os cultos politeístas.
A história da fundação do templo de Endovélico acha-se na Monarquia Lusitãnia donde extrairei a maior parte das noticias que vou dar(z) .
Quando os cartagineses dominavam nas Espanhas e mandavam para aqui governadores seus, veio um chamado Maharbal, cerca de 350 anos antes de Cristo.
Era este homem um cidadão de muita nobreza e mais afeiçoado à genteda Lusitânia e Transtagânia que quantos até ali haviam entrado nesta penígsula; e trouxe o louvável proposito de engrandecer as colônias cartaginesas e célticas já existentes, e de fundar outras de novo. Desembarcando no cais, que teve o nome de Porto de Aníbal (hoje Vila Nova de Portimão), no Algarve, sucedeu aportar ali uma nau de gregos, com quem os cartagineses andavam em guerra; e, sendo logo a nau acometida e entrada por Força, não obstante abraçarem-se os gregos com os idolos de Vénus e de Cupido que consigo traziam como protectores da sua pátria, prenderam-lhes como cativas as mulheres e dos homens fizeram escravos para trabalharem nos campos, deixagdo apenas livres umas sacerdotisas da deusa Vénus em reverência da sua dignidade sacerdotal; e isto com tanta superstição (é Brito quem Fala) que o próprio Maharbal aliviou muito o cativeiro dos gregos em seu respeito e atenção.
Quando os cartagineses dominavam nas Espanhas e mandavam para aqui governadores seus, veio um chamado Maharbal, cerca de 350 anos antes de Cristo.
Era este homem um cidadão de muita nobreza e mais afeiçoado à genteda Lusitânia e Transtagânia que quantos até ali haviam entrado nesta penígsula; e trouxe o louvável proposito de engrandecer as colônias cartaginesas e célticas já existentes, e de fundar outras de novo. Desembarcando no cais, que teve o nome de Porto de Aníbal (hoje Vila Nova de Portimão), no Algarve, sucedeu aportar ali uma nau de gregos, com quem os cartagineses andavam em guerra; e, sendo logo a nau acometida e entrada por Força, não obstante abraçarem-se os gregos com os idolos de Vénus e de Cupido que consigo traziam como protectores da sua pátria, prenderam-lhes como cativas as mulheres e dos homens fizeram escravos para trabalharem nos campos, deixagdo apenas livres umas sacerdotisas da deusa Vénus em reverência da sua dignidade sacerdotal; e isto com tanta superstição (é Brito quem Fala) que o próprio Maharbal aliviou muito o cativeiro dos gregos em seu respeito e atenção.
Alguns meses depois se meteu o capitão cartaginês pelo interior do país com grande número de gente, a fim de visitar as nossas comarcas; e, tendo notícia da cidade de Elvas, que já então era povoação notável, tomou para lá caminho.
Vista a cidade e assentada a paz com os seus moradores, passou a visitar outros lugares vizinhos onde lhe sobreveio uma doença tão perigosa que o pôs às portas da morte; consultados os agoureiros, responderam que 0 deus Cupido estava muito irado contra ele e convinha edificar-Lhe um templo para reparar o desacato que Lhe fizera; e bem assim restituir aos gregos, seus protegidos, a liberdade e os haveres,de que tinham sido privados.
Com medo da morte, deu aos gregos liberdade o capitão Maharbal e fez lggo principiar a fundação do templo naquele mesmo ano de 347 antes de Cristo, ficando acabado inteiramente antes de ele se retirar, e `já posta no altar a imagem de Cupido que era de prata finissima e, segundo Aládio, não tinha olhos, mas via-se-lhe um coração na boca e asas nos pés.
Com medo da morte, deu aos gregos liberdade o capitão Maharbal e fez lggo principiar a fundação do templo naquele mesmo ano de 347 antes de Cristo, ficando acabado inteiramente antes de ele se retirar, e `já posta no altar a imagem de Cupido que era de prata finissima e, segundo Aládio, não tinha olhos, mas via-se-lhe um coração na boca e asas nos pés.
Um templo edificado assim tão ligeiramente não podia ser magnífico e sumptuoso, mas é natural que depois recebesse melhoramentos importantíssimos, porquanto passou a ser frequentado por gentes que de muito longe ali iam oferecer sacrifícios e cumprir romagens, como acrescenta o citado Brito; e, como essas gentes falavam as linguas fenícia e céltica, deram ao ídolo o nome de Endovélico.
Havia no templo sacerdotisas, a que chamavam Flâminas, para o trazerem asseado; e estas eram moças gentis e nobres que obedeciam a um sacerdote,sob cuja direcção estavam todos os mais ministros.
Os dons oferecidos a este deus eram um cordeiro branco. ´
Para o sacrificar, despia 0 sarcedote os seus vestidos usuais; e depois envergava uma vestidura branca ou alva como as cristãs que lhe dava pelo peito do pé com tal arte que o braço e espádua esquerda ficavam desnudados e tudo o mais vestido. Tomando assim o cordeiro vivo, abria-lhe o peito com a mão direita, e com a esquerda arrancava-lhe o coração para o lançar num Fogareiro de brasas vivas.
Dizem que a razão por que o sacerdote conservava descoberta a parte do coração era "para que não parecesse ter o coração coberto quem ti-nha por` ofício oferece-los a deus descobertos. . . "»
Para o sacrificar, despia 0 sarcedote os seus vestidos usuais; e depois envergava uma vestidura branca ou alva como as cristãs que lhe dava pelo peito do pé com tal arte que o braço e espádua esquerda ficavam desnudados e tudo o mais vestido. Tomando assim o cordeiro vivo, abria-lhe o peito com a mão direita, e com a esquerda arrancava-lhe o coração para o lançar num Fogareiro de brasas vivas.
Dizem que a razão por que o sacerdote conservava descoberta a parte do coração era "para que não parecesse ter o coração coberto quem ti-nha por` ofício oferece-los a deus descobertos. . . "»
Voltemos à fundação do templo.
Maharbal, concluído este, passou a Lacobriga. . . Qual?
Na Lusitânia houve três cidades com este nome, como hei-de provar mais adiante! Brito disse que era a do Algarve, e assim o têm repe-tido os seus copistas; eu, porém, tenho nisso toda a dúvida porque reputo existir já então outra Lacóbriga apenas légua e meia para 'o norte do templo em questão.
Diz Brito (continuando a sua narrativa) que Maharbal se retirou de Terena para Lacóbriga, no Algarve, e embarcando ali, foi visitar a Turdetânia ou Andaluzia. Não foi pequena a volta, podendo ir logo daqui por caminho mais curto! . . .Resta-me dizer ainda que os gregos por ele postos em liberdade, como dito é, pediram-lhe um lugar onde se estabelecessem; e ele deu-lhes terras em que fundaram uma colónia que teve o nome de Meróbriga e é hoje Santiago do Cacém.
Maharbal, concluído este, passou a Lacobriga. . . Qual?
Na Lusitânia houve três cidades com este nome, como hei-de provar mais adiante! Brito disse que era a do Algarve, e assim o têm repe-tido os seus copistas; eu, porém, tenho nisso toda a dúvida porque reputo existir já então outra Lacóbriga apenas légua e meia para 'o norte do templo em questão.
Diz Brito (continuando a sua narrativa) que Maharbal se retirou de Terena para Lacóbriga, no Algarve, e embarcando ali, foi visitar a Turdetânia ou Andaluzia. Não foi pequena a volta, podendo ir logo daqui por caminho mais curto! . . .Resta-me dizer ainda que os gregos por ele postos em liberdade, como dito é, pediram-lhe um lugar onde se estabelecessem; e ele deu-lhes terras em que fundaram uma colónia que teve o nome de Meróbriga e é hoje Santiago do Cacém.
Continuando os cartagineses com as suas expedições à Espanha, mandaram,entre outros capitães-governadores, a Amílcar Barcino, pai do grande Aníbal, o qual era homem de muito valor para a guerra e de muita piedade para deuses; do que deu testemunho visitando aqui 0 templo de Endovélico e oferecendo-Lhe riquíssimos dons, entre os quais se contam um arco, aljava e setas de ouro puríssimo.
Quando mais tarde Júlio César veio às Espanhas, também visitou o templo deste ídolo; porém, os seus soldados, mostrando-se menos religiosos, roubaram as alfaias que nele havia, não escapando o arco, aljava e setas de ouro que Amílcar dera ao ídolo e que ele tinha a uso. Causou este procedimento sacrílego imenso escândalo nos povos da Transtagânia, escândalo agrâvado ainda com o furto da imagem de Vénus, que também era de prata, e recebia culto num templo situado no cimo da serra d'Ossa, onde hoje está a Ermida de S. Bens; mas o tão celebrado capitão romano fez restituir todos estes objectos, mandando até desagravar os dois deuses com muitos sacrificios.
Depois, marchou para a serra de Marvão (Hermínio menor) a fazer uma campanha contra os povos Hermínios, que se não conformavam ainda em obedecer aos romanos.
Depois, marchou para a serra de Marvão (Hermínio menor) a fazer uma campanha contra os povos Hermínios, que se não conformavam ainda em obedecer aos romanos.
E agora mais um pedacito do texto, este especialmente intrigante:
Diz-se que Pedro Aládio escrevera em latim um livro dos sacrifícios dos Lusitanos, do qual existia uma cópia na Biblioteca do Convento de Alcobaça, mas essa cópia não existe há muito e até o livro é reputado por apócrifo (veja-se a Biblioteca Lusitana do Abade Barbosa); no entanto, Pedro Dinis cita este escritor lusitano, a pág. 233 das Ordens Religiosas em Portggal.
Diz-se que Pedro Aládio escrevera em latim um livro dos sacrifícios dos Lusitanos, do qual existia uma cópia na Biblioteca do Convento de Alcobaça, mas essa cópia não existe há muito e até o livro é reputado por apócrifo (veja-se a Biblioteca Lusitana do Abade Barbosa); no entanto, Pedro Dinis cita este escritor lusitano, a pág. 233 das Ordens Religiosas em Portggal.
Um quê, livro contendo os sacrifícios religiosos da religião lusitana? Era bom de mais para ser verdade...
2 Comments:
Esqueceste da fonte do texto no final.
Já tinha posto no início do texto.
De qualquer modo obrigado pela atenção.
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