segunda-feira, janeiro 21, 2013

HUMANISMOS RELATIVO-ABSOLUTISTAS E DIREITOS DOS ANIMAIS

O escrevinhador Daniel Oliveira (DO), típico representante da Esquerda caviar, apoiante do Bloco de Esquerda, teceu umas quantas considerações a respeito da petição que agora circula para que não seja abatido o cão, Zico, que matou uma criança - uma criança cigana. O seu chorrilho de lérias pode ser lido aqui:
Decerto irritado por ver que cada vez mais gente se borrifa para os seus pressupostos humanistas, que ele, apesar de se declarar relativista, queria dar como absolutos, vem a terreno garantir que os direitos humanos ficam fragilizados pelo facto de haver gente que reconhece direitos aos animais...
Pelo meio, e depois de ter dado como exemplos da universalidade dos direitos humanos independentemente do humano em concreto aos quais se apliquem - e aí põe em contraste alógenos não brancos ou tidos como tal com brancos racistas, não admira, vindo de quem vem e tanto alimenta a estima pelo Outro alienígena, mas isso é outra história... - espeta com aquele lugar-comum, também ecoado por Henrique Monteiro, de que «os animais não têm direitos, nós é que temos deveres para com eles». Ora tal jogo de palavras não tem nenhum conteúdo decisivo que ajude quem não gosta dos direitos dos animais - porque se achamos que temos deveres para com eles, é porque, forçosamente, lhes reconhecemos direitos. Portanto, eles, animais, têm direitos. Não há deveres para com aquilo que não tem direitos, obviamente.
Argumenta tal gente que só os humanos têm direitos porque só os humanos têm consciência da liberdade. Ora isto significaria que um deficiente mental profundo não teria quaisquer direitos...
Claro que, como diz DO, julgando talvez que está a revelar a descoberta da pólvora, não existem direitos na Natureza - o direito é uma criação da cultura humana. E, observa, o homem é a medida de todo o dever e de todo o direito, porque na verdade trata de maneira diferente um gato e uma vaca, ministra diferentes cuidados a diferentes animais consoante o seu grau de proximidade afectiva para com o ser humano. Ora não há nada nisso que invalide o conceito de direitos dos animais, uma vez que o reconhecimento de um direito, só é histórico e determinante, em termos civilizacionais, quando acontece da parte de um mais forte para com um mais fraco, humano ou não. Reconhecer algo em comum não implica reconhecer igualdade na totalidade, nem sequer que «o que nos une é maior do que o que nos separa». Reconhece-se a monstruosidade que é a escravatura, não porque se pense necessariamente que os Povos escravizados sejam iguais aos Povos que escravizaram, mas sim porque as pessoas sofrem - e, pelo menos na Europa, não se considera correcto fazer sofrer um inocente. Aliás, só mesmo os Europeus é que defendem os direitos dos animais, do mesmo modo que só mesmo os Europeus, a nível mundial, é que acabaram com a escravatura, e unilateralmente, impondo tal abolição ao resto do planeta - aos negros africanos que traficavam outros negros, bem como aos Árabes, alguns dos quais só aboliram oficialmente a escravatura já bem na segunda metade do século XX...
Considerou-se a dada altura que os escravos tinham os mesmos sentimentos que os seus possuidores e foi na medida, e sublinho medida, desse reconhecimento que a escravatura foi abolida. Aplica-se o mesmo, mesmíssimo, aos animais - nenhum defensor dos direitos dos animais diz que estes devem ter tantos direitos como os homens, mas sim que têm o direito a não sofrer, pura e simplesmente porque são inocentes e quando não fazem sofrer não se deve fazê-los sofrer. O reconhecimento do direito ao humano tem pois precisamente a mesma base que o reconhecimento do direito ao animal - o da proximidade em relação a nós na medida em que reconheçamos que dito animal ou pessoa sente o mesmo ou coisa particularmente parecida com aquilo que sentimos. É tão simples como isto.
Não há pois nenhum estatuto humano «incomparável», conceito que DO quer dar como adquirido, e que não passa de mais uma herança bacoca do pensamento cristão. Aliás, já o filósofo pagão Celso criticava, há mil e oitocentos anos, a pretensão cristã de que o humano seria essencialmente diferente dos outros animais...
Do mesmo modo, ninguém argumentará que um invisual deve ter tanto direito a pilotar um avião como qualquer outro cidadão, porque um invisual não é inferior a ninguém e etc.. Não se chama a isso uma redução ou uma limitação de direitos, simplesmente não se reconhece o direito à realização pessoal de um indivíduo sobre o direito à segurança de todos os outros. O invisual tem de resto todos os outros direitos de que todos os seus concidadãos gozam. Como o próprio DO diz, os direitos não existem à partida sem intervenção humana - são portanto concedidos, mesmo que posteriormente sejam reconhecidos à priori. Quer isto dizer que são estabelecidos a partir de um determinado momento civilizacional. Todo o direito reconhecido é um acrescento. Trata-se pois de acrescentar aos humanos um certo número de direitos, consoante o seu contexto individual e colectivo - e fazer o mesmo aos animais, de acordo com a condição destes.
Quanto a não se reconhecer às vacas os mesmos direitos que se reconhecem aos gatos, DO fala cedo de mais - isto é muito mais uma questão de tempo do que de outra coisa qualquer, como bem o previu Leonardo da Vinci, considerado por muitos como o maior génio do milénio passado, quando disse «virá o dia em que a matança de um animal será considerada tão grave como a matança de uma pessoa». E a verdade, factual, é que há cada vez mais gente a preocupar-se com as condições dos bovinos, e dos outros animais, nos matadouros; e cada vez mais gente questiona o hábito de comer carne precisamente pelo motivo do respeito para com os animais. E nada disto é tão novo e «modernaço» como os DOs e afins pensam que é. Na verdade, é até uma coisa muito ocidental, talvez árica... já no século VI a.c. o famoso Pitágoras dizia que «enquanto o homem continuar a ser destruidor impiedoso dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, matar-se-ão uns aos outros.." (Pitágoras) (leia-se mais aqui: http://www.think-differently-about-sheep.com/A_Rights_a%20History_Pythagoras.htm)

Quanto a quem em geral diz, nestas e em quaisquer outras ocasiões, que isso dos direitos dos animais «é treta» porque «interessam mais os direitos das pessoas do que dos animais», é quase sempre maralha que não gosta de animais mas que não tem coragem de o dizer e então arranja «manhosamente», com a chamada esperteza saloia, uma maneira de diminuir moralmente o valor dos direitos dos animais comparando-os aos direitos das pessoas, com base na falácia lógica de uma coisa impede a outra. É só deixar falar essa gente mais uns minutitos para acabar por ouvir, nas entrelinhas quando não com as letras todas, que de facto não têm qualquer estima pelos animais e têm raiva a quem a tenha, e têm raiva porque, inconscientemente ou não, sentem aí uma limitação ao seu poder sobre os mais fracos, e não gostam disso.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

É por causa destas e outras maluqueiras que foste expulso do grupo arte e cultura no facebook

21 de janeiro de 2013 às 14:49:00 WET  
Blogger Caturo said...

Por acaso não foi. Mas se fosse, eu bem real-cagava na intolerância de gajos que andam armados em ns e desprezam os direitos dos animais mas depois calam-se caladinhos quando se lhes atira à fuça que o regime NS foi dos primeiros a defender os direitos dos animais...

21 de janeiro de 2013 às 15:26:00 WET  
Blogger Caturo said...

http://en.wikipedia.org/wiki/Animal_welfare_in_Nazi_Germany

At the end of the nineteenth century, kosher butchering and vivisection were the main concerns regarding animal protection in Germany. These concerns continued among the Nazis.[7] According to Boria Sax, the Nazis rejected anthropocentric reasons for animal protection—animals were not to be protected for human interests—but for themselves.[8] In 1927, a Nazi representative to the Reichstag called for actions against cruelty to animals and kosher butchering.[7]

In 1932, the Nazi party proposed a ban on vivisection. In early 1933, representatives of the Nazi party to the Prussian parliament held a meeting to enact this ban. On April 21, 1933, almost immediately after the Nazis came to power, the parliament began to pass laws for the regulation of animal slaughter.[7] On April 21, a law was passed concerning the slaughter of animals. On April 24, Order of the Prussian Ministry of the Interior was enacted regarding the slaughter of poikilotherms.[9] Nazi Germany was the first nation to ban vivisection.[10] A law imposing total ban on vivisection was enacted on August 16, 1933, by Hermann Göring as the prime minister of Prussia.[11] He announced an end to the "unbearable torture and suffering in animal experiments" and said that those who "still think they can continue to treat animals as inanimate property" will be sent to concentration camps.[7] On August 28, 1933, Göring announced in a radio broadcast:[12]

Göring also banned commercial animal trapping, imposed severe restrictions on hunting, and regulated the shoeing of horses. He imposed regulations even on the boiling of lobsters and crabs. In one incident, he sent a fisherman to a concentration camp[12] for cutting up a bait frog.[10]

In 24 November 1933, Nazi Germany enacted another law called Reichstierschutzgesetz (Reich Animal Protection Act), for protection of animals.[13][14] This law listed many prohibitions against the use of animals, including their use for filmmaking and other public events causing pain or damage to health,[15] feeding fowls forcefully and tearing out the thighs of living frogs.[16] The two principals (Ministerialräte) of the German Ministry of the Interior, Clemens Giese and Waldemar Kahler, who were responsible for drafting the legislative text,[14] wrote in their juridical comment from 1939, that by the law the animal was to be "protected for itself" ("um seiner selbst willen geschützt"), and made "an object of protection going far beyond the hitherto existing law" ("Objekt eines weit über die bisherigen Bestimmungen hinausgehenden Schutzes").[17]


Enfim, luxos civilizacionais, manias de nórdicos esquisitos que não entendem a saloiada de merda que adora a matança sanguinária do porco e a tourada com muito sangue...



21 de janeiro de 2013 às 15:36:00 WET  
Blogger Caturo said...

Agora vai lá meter veneno para expulsar quem tu quiseres do grupito, ó anónimo, vai lá e diz que vais da minha parte.

21 de janeiro de 2013 às 15:37:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

bem, sobre os animais, nem 8 nem 80.

nem desprezo pelos animais ou pelos seus direitos...

...nem taras e psicoses politicamente correctas e obsessivas, de andar permanentemente a fazer militância por isso, ou a controlar e vigiar quem faz o quê, se andam a tratar bem os animaizinhos ou etc, etc

eu não desprezo os direitos dos animais, mas preocupam-me muito mais os humanos, e não sou obsessivo nem militante e quando os animais são perigosos ou agressivos, eu sou capaz de detestar esses animais e cago no politicamente correcto.

na vida, não há só a atitude militantemente "animalista" ou "zoófila" nem a atitude 180 graus oposta, a das touradas ou da matança do porco.

conceber só essas duas atitudes na vida, é pura infantilidade.

21 de janeiro de 2013 às 16:06:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"a matança sanguinária do porco"

Então, mas o derramar do sangue não é um louvar da fertilidade?... Isto não é ancestral, agora?:O
Não percebi:p

22 de janeiro de 2013 às 09:10:00 WET  
Blogger Caturo said...

Eu explico - os nossos ancestrais derramavam sangue mas... evitando o sofrimento do animal. É esta partezita que custa sempre perceber, mas sempre, sempre, invariavelmente, a todos os que se borrifam para os direitos dos animais, a parte da dor, porque uma coisa é doer aos animais outra é doer-lhes a eles, obviamente.

22 de janeiro de 2013 às 18:07:00 WET  
Blogger Caturo said...

«não há só a atitude militantemente "animalista" ou "zoófila" nem a atitude 180 graus oposta, a das touradas ou da matança do porco. conceber só essas duas atitudes na vida, é pura infantilidade.»


Depende do que se considera «atitude militantemente animalista ou zoófila» ou do que se considera exagero. Há por aí muita gente que consideraria excessiva sequer metade da obra do regime NS a respeito dos direitos dos animais, e que se calhar até cairiam no supremo ridículo de lhe chamarem «politicamente correcto».

Depende pois do que se considera «zoofilismo militante» - por exemplo, um sujeito que já aqui disse que os animais deviam estar afastados da humanidade não tem o melhor critério para determinar o que é ou não é excessivo a respeito dos direitos dos animais. Pura e simplesmente não gosta de animais, mas como consta que o seu ídolo Hitler gostava, não tem tomates para assumir que não gosta.


E agora, até Abril...

10 de março de 2013 às 18:50:00 WET  

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