NORTE-AFRICANO VITIMA MULHERES DIMINUÍDAS MENTAIS FRANCESAS PARA ADQUIRIR CIDADANIA
Em Burdéus, França, um tunisino de vinte e oito anos foi detido depois de sequestrar uma mulher deficiente mental, de sessenta e três anos, para com ela casar e assim obter direito a uma residência.
A sexagenária foi raptada em Agosto de 2011, meses depois da chegada do imigrante ilegal, que com ela assinara um contrato de aluguer de apartamento em troca da execução de tarefas domésticas. Assim que se instalou, o norte-africano começou a maltratar a indígena, pretendendo com ela unir-se em matrimónio para assim regularizar a sua presença em solo francês. A mulher conseguiu todavia escapar, refugiando-se em casa de um vizinho e alertando a polícia. Um exame médico posterior provou que a senhora tinha sofrido numerosas contusões e abusos físicos.
O tunisino fugiu então para Itália, onde permaneceu durante alguns meses, para depois retornar a Burdéus, onde ficaria a viver num apartamento de uma jovem, também deficiente mental. Mudou as fechaduras das portas. Uma testemunha identificou-o, todavia, o que permitiu a sua detenção por parte das autoridades. E, tal como sucedera no caso anterior, a sua nova vítima também precisou de ser internada no hospital devido aos mau tratos a que foi sujeita.
Enfim, uma aventura das Arábias a contribuir com o seu calor humano e intensidade almiscarada para o enriquecimento da fria e asséptica vivência europeia...
5 Comments:
ODE A WALT WHITMAN (1933)
F. Garcia Lorca
Através do East River e do Bronx
os rapazes cantavam mostrando as cinturas,
com a roda, o azeite, o couro, e o martelo
Noventa mil mineiros extraíam prata das rochas
e os rapazes desenhavam escadas e perspectivas.
Mas ninguém dormia,
ninguém queria ser o rio,
ninguém amava as folhas grandes,
ninguém a língua azul da praia.
Através do East River e do Queensborough
os rapazes lutavam com a indústria,
e os judeus vendiam ao fauno do rio
a rosa da circuncisão
e o céu desembocava pelas pontes e telhados
manadas de bisões empurradas pelo vento.
Mas ninguém se detinha,
ninguém queria ser nuvem,
ninguém buscava os fetos
nem a roda amarela do tamboril.
Quando a lua saía,
as roldanas rodaram para derrubar o céu;
um limite de agulhas cercara a memória
e os ataúdes levarão os que não trabalham.
Nova York de lama,
Nova York de espanto e de morte.
Que anjo levas oculto na face?
Que voz perfeita dirá as verdades do trigo?
Quem o sonho terrível de tuas anedotas manchadas?
Nem um só momento, velho e formoso Walt Whitman,
deixei de ver tua barba cheia de mariposas,
nem teus ombros de veludo gastados pela lua,
nem tuas coxas de Apolo Virginal,
nem tua voz como uma coluna de cinzas;
ancião formoso como a névoa
que gemia igual a um pássaro
com o sexo atravessado por uma agulha,
inimigo do sátiro, inimigo da vide
e amante dos corpos sob o tecido rude
Nem um só momento, formosura viril
que em montes de carvão, anúncios e ferrovias
sonhavas ser um rio e dormir como um rio
com aquele camarada que poria em teu peito
uma pequena dor de ignorante leopardo.
Por isso não levanto a voz, velho Walt Whitman
contra o rapaz que escreve
o nome da menina na sua almofada,
nem contra o menino que se veste de noiva
na escuridão da rouparia,
nem contra os solitários dos casinos
que bebem com asco a água da prostituição,
nem contra os homens de olhada verde
que amam o homem e queimas seus lábios em silêncio.
Mas sim contra vós, venenos das cidades,
de carne tumefacta e pensamento imundo,
mães de lodo, harpias, inimigos sem sonho
do Amor que reparte coroas de alegria.
Contra vós sempre, que dais aos rapazes
gotas de morte suja com amargo veneno.
Contra vós sempre,
Fadas da Ameŕica do Norte,
Pássaros de Havana,
Podres do México,
Sarasas de Cádiz,
Touros de Sevilha,
Cancos de Madrid,
Flores de Alicante,
Adelaides de Portugal.
Poetas de todo o mundo, assassinos de pombas!
Escravos da mulher, putas das suas camas,
abertos nas praças com febre de abano
ou emboscadas rígidas paisagens de cicuta.
Não há abrigo! A morte
emana de vossos olhos
e agrupa flores cinzas nas beiras dos cílios.
Não há abrigo! Alerta!
Que os confundidos, os puros,
os clássicos, os assinalados, os suplicantes,
fecham para vós as portas do bacanal.
E tu, belo Walt Whitman, dorme às margens do Hudson,
com a barba até ao peito e as mãos abertas.
Argila branca ou neve, tua língua chama
camaradas que velem tua gazela sem corpo.
Dorme, não sobra nada.
Uma dança de muros agita as pradarias
e a América se afoga de máquinas e pranto.
Quero que o ar forte da noite mais funda
acalme flores e letras do arco onde dormes
e um menino negro anuncie aos brancos do ouro
a chegada do reino da espiga.
SAUDAÇÃO A WALT WHITMAN
F. Pessoa
Portugal-Infinito, onze de Junho de mil novecentos e quinze...
Hé-lá-á-á-á-á!
Daqui de Portugal, todas as épocas no meu cérebro,
Saúdo-te, Walt, saúdo-te, meu irmão em Universo,
Ó sempre moderno e eterno, cantor dos concretos absolutos,
Entusiasta pelo conteúdo de tudo,
Meu herói entrando pela Morte dentro aos pinotes,
E aos urros, e aos guinchos, e aos berros saudando Deus!
Grande democrata epidérmico, contíguo a tudo em corpo e alma,
Carnaval de todas as acções, bacanal de todos os propósitos
Irmão gémeo de todos os arrancos,
Jean-Jacques Rousseau do mundo que havia de produzir máquinas,
Homero do insaisissable do flutuante carnal,
Shakespeare da sensação que começa a andar a vapor,
Milton-Shelley do horizonte da Electricidade futura!
Incubo de todos os gestos,
Espasmo p’ra dentro de todos os objectos de fora
Souteneur de todo o Universo.
Eu, de monóculo e casaco exageradamente cintado,
Não sou indigno de ti, bem o sabes, Walt,
Não sou indigno de ti, basta saudar-te para o não ser...
Eu tão contíguo à inércia, tão facilmente cheio de tédio,
Sou dos teus, tu bem sabes, e compreendo-te e amo-te,
E embora te não conhecesse, nascido pelo ano em que morrias,
Sei que me amaste também, que me conheceste, e estou contente.
Sei que me conheceste, que me contemplaste e me explicaste,
Sei que é isso que eu sou, quer em Brooklyn Ferry dez anos antes de eu nascer,
Quer pela rua do Ouro acima pensando em tudo que não é a rua do Ouro,
E conforme tu sentiste tudo, sinto tudo, e cá estamos de mãos dadas,
De mãos dadas, Walt, de mãos dadas, dançando o universo na alma.
Quantas vezes beijo o teu retrato.
Lá onde estás agora (não sei onde é mas é Deus)
Sentes isto, sei que o sentes, e os meus beijos são mais quentes (em gente)
Meu velho Walt, meu grande Camarada, evoé!
Pertenço à tua orgia báquica de sensações-em-liberdade,
Sou dos teus, desde a sensação dos meus pés até à náusea em meus sonhos,
Sou dos teus, olha pra mim, de aí desde Deus vês-me ao contrário:
De dentro para fora... Meu corpo é o que adivinhas, vês a minha alma —
Essa vês tu propriamente e através dos olhos dela o meu corpo —
Olha pra mim: tu sabes que eu, Álvaro de Campos, engenheiro,
Poeta sensacionista,
Não sou teu discípulo, não sou teu amigo, não sou teu cantor,
Tu sabes que eu sou Tu e estás contente com isso!
(Continuação)
Atravesso os teus versos como a uma multidão aos encontrões a mim,
E cheira-me a suor, a óleos, a actividade humana e mecânica
Nos teus versos, a certa altura não sei se leio ou se vivo,
Não sei se o meu lugar real é no mundo ou nos teus versos,
Não sei se estou aqui, de pé sobre a terra natural,
Ou de cabeça p’ra baixo, pendurado numa espécie de estabelecimento,
No centro do tecto da tua intensidade inacessível.
Abram-me todas as portas!
Por força que hei-de passar!
Minha senha? Walt Whitman!
Sim — eu franzino e civilizado, meto dentro as portas,
Porque neste momento não sou franzino nem civilizado,
Sou EU, um universo pensante de carne e osso, querendo passar,
E que há-de passar por força, porque quando quero passar sou Deus!
Tirem esse lixo da minha frente!
Metam-me em gavetas essas emoções!
Daqui p’ra fora, políticos, literatos,
Comerciantes pacatos, polícia, meretrizes, souteneurs,
Tudo isso é a letra que mata, não o espírito que dá a vida.
Que nenhum filho da puta se me atravesse no caminho!
O meu caminho é pelo infinito fora até chegar ao fim!
Prá frente!
Meto esporas!
Sinto as esporas, sou o próprio cavalo em que monto,
Porque eu, por minha vontade de me consubstanciar com Deus,
Posso ser tudo, ou posso ser nada, ou qualquer coisa,
Conforme me der na gana... Ninguém tem nada com isso...
Loucura furiosa! Vontade de ganir, de saltar,
De urrar, zurrar, dar pulos, pinotes, gritos com o corpo,
De me meter adiante do giro do chicote que vai bater,
De ser a cadela de todos os cães e eles não bastam,
De ser o volante de todas as máquinas e a velocidade tem limite,
De ser o esmagado, o deixado, o deslocado, o acabado,
E tudo para te cantar, para te saudar e (...)
Dança comigo, Walt, lá do outro mundo esta fúria,
Salta comigo neste batuque que esbarra com os astros,
Arre! Vamos lá prá frente!
Se o próprio Deus impede, vamos lá prá frente... Não faz diferença...
Infinito! Universo! Meta sem meta! Que importa?
Pum! pum! pum! pum! pum!
Agora, sim, partamos, vá lá prá frente, pum!
Pum
Pum
Heia...heia...heia...heia...
Desencadeio-me como trovoada
Em pulos da alma a ti,
Com bandas militares à frente [...] a saudar-te...
Com um [...] contigo e uma fúria de berros e saltos
Estardalhaço a gritar-te
E dou-te todos os vivas a mim e a ti e a Deus
E o universo anda à roda de nós como um carrocel com música dentro dos nossos crânios,
E tendo luzes essenciais na minha epiderme anterior
Eu, louco de [...] sibilar ébrio de máquinas,
Tu célebre, tu temerário, tu o Walt
,Tu [sensualidade porto?]
Eu sensualidade com [...]
Tu inteligência (...)
não entendo de onde tiraram que a europa é fria e limpinha demais, pois a maior parte dela tem origem barbara
belos poemas. fernando pessoa foi influenciado por walt whitman na juventude e isso nota-se em algumas passagens do heterónimo álvaro de campos.
de resto, o conhecimento da lírica whitmaniana na europa foi impulsionado pelas traduções feitas pelos simbolistas franceses.
este influxo deu-se ainda em chesterton e em alguma música de gustave holst e vaughan-williams.
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