PERSEGUIÇÃO POLÍTICA CONTRA PAGÃOS NA RÚSSIA? O CASO DE MARI EL

No actual império russo, somam-se as acusações de censura levada a cabo pelas autoridades estatais, em conluio ou não com a Igreja Ortodoxa, contra os grupos religiosos minoritários, em particular contra os pagãos.
Em foco estão, entre outros, os praticantes da religião étnica do Povo de Mari El, estirpe caucasóide sita quatrocentas milhas a leste de Moscovo, religião esta da qual já se falou aqui e aqui: trata-se provavelmente da mais antiga religião do mundo, visto que tem sido praticada, sem interrupção, desde há 7517 anos, segundo um dos seus sacerdotes ou «karts», Albert Rukovishnikov.
A administração central actual está cada vez mais parecida com a dos tempos soviéticos no que à perseguição de dissidentes diz respeito.
Rukovishnikov recorda que, quando era criança, esgueirava-se para dentro da floresta juntamente com a sua mãe, de noite, para levar a cabo rituais, até ao momento em que chegava a polícia, a deitar abaixo os caldeirões e a escorraçar os indígenas pagãos. Muitos santuários florestais foram arrasados durante a era soviética. Isto apesar de, paradoxalmente, Estaline ter tentado usar os poderes espirituais dos sacerdotes de Mari El ou «karts» para repelir a invasão alemã, em 1941, sempre segundo Rukovishnikov.
Os karts queixam-se de que há agora uma nova investida contra a sua religião e modo de vida, guiada sobretudo por motivos economicistas - para se apoderarem das florestas e fazerem negócio, o que parece detestável aos olhos destes pagãos, para os quais uma árvore é um ser vivo que merece respeito enquanto a via do enriquecimento à custa deste e doutros princípios tradicionais não é de todo uma boa escolha.
O combate destes pagãos confunde-se por vezes com uma acção de orgulho etnicista, nacionalista, o que ajuda a que seja desfavoravelmente pelas autoridades russas. Os karts pregam abertamente que a sua religião é o foco de unidade e garantia da unidade do Povo, e isto desperta suspeitas de separatismo.
O que é facto é que em 2006 o tribunal da região condenou o kart Vitaly Tanakov por incitação ao ódio religioso, aplicando-lhe uma pena de cento e vinte horas de trabalhos forçados. E, em 2009, o supremo tribunal de Mari El decretou que o panfleto de Tanakov intitulado «Fala Um Sacerdote» continha extremismo religioso, proibindo-o por isso em toda a Rússia.
No panfleto, dizia-se simplesmente que «as pessoas influenciadas pelo Alcorão e pela Bíblia perderam a harmonia entre o indivíduo e o Povo». Mais afirma que «a moralidade esvai-se, não há piedade, caridade, ajuda mútua; tudo e toda a gente está infectado pela falsidade.»

Tanakov prepara-se entretanto para levar o caso ao Tribunal Europeu.

Quer, também, que se institua um simpósio internacional de gente fiel às antigas religiões. Convidaria índios norte-americanos, e revela-se muito impressionado com os neo-druidas britânicos em Stonehenge, pois que, segundo diz, «embora não saibam ainda o que estão a fazer, seja apenas improvisação», e acrescenta: «com as nossas tradições, temos algo a ensinar-lhes.»

Houve já várias agressões contra pagãos de Mari El, da parte da polícia mas não só. Tanto assim é que vários dos seus militantes estão a pensar em procurar asilo no Ocidente.