domingo, julho 05, 2009

RELIGIÃO ÉTNICA DE MARI-EL CONTINUA VIVA E PUJANTE


Um agradecimento ao leitor Beto por ter aqui trazido este artigo
sobre o culto pagão dos indígenas da nação de Mari-El, que nos últimos dias de Junho passado celebraram num bosque sagrado da aldeia de Marisola um ritual (solstício de Verão?) em honra de Osh Kughu Yumo, ou «Grande Deus Branco», desta feita adorado sob o nome de Agaivairem, que designa ao mesmo tempo o Deus da energia criativa e também a festa do fim do trabalho da Primavera.
O ambiente da celebração é, como convém a um evento desta natureza, festivo, colorido e marcado pela abundância. Trata-se de um culto típico da religião nativa dos Mari, povo de etnia fínica (parente do Finlandês) que conta cerca de meio milhão de indivíduos e fala uma língua algures entre o Finlandês e o Turco, e que, como já se disse noutros artigos do Gladius, lograram manter a sua religião nacional, como que entrincheirada, numa região obscura sita oitocentos quilómetros a leste de Moscovo, aí sobrevivendo às avalanches cristã e muçulmana.

O sacerdote («Kart», na língua indígena) Vyacheslav Mamayev, líder da congregação do distrito de Sernur, explica que, na teologia Mari, Deus tem nove substâncias, ou hipóstases, do dador de vida Ilyan Yumo à Deusa do Nascimento Shochinava. E que toda a Divindade trabalha através da Natureza.

Tal como a maioria das tradições religiosas pagãs, a fé dos Mari não tem nem escrituras sagradas nem templos. «A Natureza é o nosso templo», diz Zoya Dudina, poetisa e intelectual. As orações e rituais são conduzidas sobretudo em bosques sagrados, onde por vezes se sacrificam animais.
Dudina afirma o seu orgulho por o seu povo ter voltado a poder praticar a sua fé tradicional, ao contrário do que acontecia na época soviética, quando os aldeãos que queriam honrar os Deuses da sua estirpe tinham de se esgueirar em segredo para os santuários sagrados à meia-noite, esperando que ninguém os visse a realizar cerimónias proibidas. Depois da queda do Comunismo e do Estado totalitário, a religião étnica de Mari recrudesceu notavelmente. E hoje é reconhecida neste pequeno país como um dos três credos tradicionais, a par do Cristianismo e do Islão. De tal modo que o Alto Kart Alexander Tanygin assiste regularmente às cerimónias oficiais de Estado juntamente com os líderes locais cristãos e muçulmanos.

Cerca de quinze por cento da população de Mari-El é praticante da religião tradicional. Significa isto que mais de um terço da população étnica pratica a religião étnica, tendo em conta que os verdadeiros Maris não serão mais do que quarenta e cinco por cento dos setecentos mil habitantes do país.
Até o clero local cristão, ortodoxo, reconhece o predomínio da fé étnica na zona norte desta república. Na aldeia de Marisola, por exemplo, dos dois mil e quinhentos habitantes, só dez ou quinze é que vão à igreja. O líder cristão local diz nada ter contra os pagãos, mas também assegura que estes não serão «salvos», precisamente porque não são crentes no Crucificado.
A população de Mari-El costuma ter ícones religiosos em casa - e os condutores têm imagens de santos nos tabelier dos seus automóveis (tal como muitos taxistas portugueses, de resto). Isto porque, em matéria de cultos, acaba por haver alguma mistura e fusão de conceitos e práticas. Muitos Maris são baptizados mas isso não os impede de assistirem às cerimónias pagãs. E foi mais a Igreja cristã que absorveu traços pagãos do que os pagãos absorveram elementos cristãos. Um missionário luterano que por lá andou durante dez anos, e que queria converter a população confiando em que uma igreja não russa (como a ortodoxa) faria sucesso junto da população (por questões de rivalidade étnica, o elemento russo seria rejeitado), afirma que apesar de sessenta por cento dos Mari serem baptizados, a verdade é que «no coração, eles são todos pagãos»...

Eles e ao fim ao cabo todos os povos tradicionais... como dizia o romeno Cioran, «A alma é naturalmente pagã»... mas isso é para amanhã...

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

outra região russa que devia ser independente

caralho, a russia dava umas 1000 ou mais nações

o problema é que muitas delas começam a desaparecer, por causa da mestiçagem e migraçoes internas da Russia.

6 de julho de 2009 às 00:04:00 WEST  
Anonymous Thor said...

"caralho, a russia dava umas 1000 ou mais nações"


ya concordo.

6 de julho de 2009 às 16:20:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

outra região russa que devia ser independente

caralho, a russia dava umas 1000 ou mais nações

o problema é que muitas delas começam a desaparecer, por causa da mestiçagem e migraçoes internas da Russia.

VC DISSE BEM; ESTES ESTADOS TRANSNACIONAIS KE NÃO RESPEITAM FRONTEIRAS ETNICAS JÁ SE AUTO-DESTROEM SÓ PELAS MIGRAÇÕES INTERNAS; IMAGINA SÓ COM O SOMATORIO DA IMIGRAÇÃO..!!

6 de julho de 2009 às 17:18:00 WEST  
Blogger betoquintas said...

}:) conte comigo para divulgar o Paganismo, embora discordemos em algumas coisas.

8 de julho de 2009 às 13:11:00 WEST  

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