quarta-feira, agosto 18, 2010

SOBRE MUNDIVISÕES VISCERALMENTE OPOSTAS

Excertos significativos do livro «Aqui, o Outro Lado», já aqui publicitado, da autoria de uma correligionária e camarada, que narra a história ficcional de uma rebelião numa distopia em que os casamentos dentro da mesma raça são proibidos, pelo que só os casamentos interraciais são permitidos, isto com o pretexto de que a união de dois indivíduos da mesma raça era contrária à saúde humana mas tendo por objectivo real a destruição das identidades:

(...)
Veja bem, o nosso projecto, não é de agora nem daqui. É um projecto com história. Desde há um século que a nossa organização existe para conduzir as sociedades àquilo que sabemos ser a melhor forma de realização do ser humano. (...)
Os nossos irmãos perceberam a mensagem de Deus, e planearam um mundo onde houvesse proximidade entre todos os povos. Onde as diferenças desaparecessem. Acreditamos numa terra sem terra, onde não existam pátrias nem países. Mas um só império mundial. Acreditamos numa geografia universal feita à escala planetária. Porque enquanto existirem dois, vão existir diferenças de perspectiva. – Jorge abuhad expunha as suas ideias num tom quase coloquial.
(...)
Descobrimos que os homens nascem diferentes, com corpos diferentes, mentalidades diferentes, em lugares diferentes. Este é o problema. A diferença com que os homens nascem, Matt, é uma doença congénita da irmandade humana. E cabe à sociedade e à política, curá-la, tratá-la até exterminar da terra esse vírus que tem sido a humilhação do “Outro” ser diferente de mim(...)
Mas digo-lhe: neste momento, as diferenças políticas, todas elas têm em curso um mesmo projecto em diversos contextos de evolução. Não há como escapar. Vá você para onde for, serão sempre as mesmas linhas mestras que lhe orientarão a vida, que conduzirão a humanidade para a coabitação pacífica. Neste momento todas as guerras existem para se saber quem vai colocar o último tijolo na casa comum. Porque se a finalidade é igual, os meios para o atingir são diferentes. Porque ainda desconfiamos uns dos outros. Porque temos métodos particulares de conseguir realizar a lei suprema da atracção dos corpos. Sim, Matt, porque se por um lado nascemos diferentes, por outro, todos os corpos se atraem mutuamente. A lei da atracção. É ela que nos move. Que move o mundo. Haverá o dia em que a desconfiança entre os homens gerada pela sua diferença, desaparecerá. Quando todos os homens forem, literalmente iguais. É preciso matar o Ego. É preciso que entre em mim, o Outro, para que o amor entre nós triunfe. Para que não desejemos coisas diversas. – Matt sentia que o homem estava completamente embevecido na sua loucura. Todo aquele discurso eloquente parecia fazer um certo sentido dentro de um qualquer paradigma esquizofrénico.



(...)


Sabia que era possível um sistema melhor do que aquele, onde a liberdade de cada um nunca fosse posta em causa, onde as pessoas poderiam pensar e agir por si próprias sem serem formatadas pela vontade dos outros, onde a honra e a glória suplantassem o medo da morte, ou do que quer que fosse. Onde a identidade de cada um, estivesse protegida e onde fosse respeitada. Onde houvesse espaço para se sentar e descalçar os sapatos sem que ninguém se incomodasse com isso. Onde cada um possuísse uma dignidade e uma honra que transplantasse tudo quanto existia e um amor aos seus Deuses e antepassados que lhe tivesse legado o seu território. Matt acreditava que cada um tinha direito à diferença e a manter essa diferença ao longo das gerações vindouras. Que essa diferença estava ligada com a identidade de cada povo, de cada lugar de cada recanto do mundo. E que era assim que as coisas se deviam construir. Com respeito pela identidade de cada povo. Todos os imperialismos deveriam desaparecer do planeta para que isso fosse possível. As palavras de Jorge Abulah eram, na verdade, básicas demais e extremamente dúbias. Toda aquela conversa sobre o império mundial, escondia um desejo enorme de poder; como se lhe subjazesse uma inveja primordial, um complexo de inferioridade que queria saciar-se na igualdade assassina de coisas tão humanamente diferenciais como a cor dos olhos ou do cabelo.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

pois, a inveja simiesca está na base destes lixos do 2.0..

18 de agosto de 2010 às 23:52:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Acabará por alguém querer enquadrar este livro ao nível de Minha Luta.

20 de agosto de 2010 às 15:29:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Acabará por alguém querer enquadrar este livro ao nível de Minha Luta.

pois, ja vão querer dizer que é um livro "nazi" e tal..hehe

como se os fascistas de vero não fossem os fundamentalistas sistemicos do 2.0 que há 45 anos só destroem tudo onde tocam..

21 de agosto de 2010 às 16:29:00 WEST  

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