A HARMONIA POLITEÍSTA PERANTE A INTOLERÂNCIA EXCLUSIVISTA CRISTÃ

Apeguemo-nos a este princípio: jamais, de modo algum, é preciso abandonar a Deus, de noite ou de dia, nem em público, nem em particular. Devemos continuamente, quer nas nossas palavras, quer nas nossas acções, e ainda quando não falamos nem agimos, manter a nossa alma virada para Deus.

Posto isto, que mal há em procurar chamar a benevolência dos que de Deus receberam o seu poder, e, em especial, o dos reis e dos poderosos da terra? Não é, com efeito, sem a intervenção da vontade divina que foram elevados ao lugar que ocupam.

Ah!, sem dúvida, se se tratasse de obrigar um homem piedoso a cometer alguma acção ímpia ou a pronunciar alguma palavra vergonhosa, ele teria razão em suportar mil torturas de preferência a fazê-lo; mas tal não é o caso, quando vos mandam celebrar o Sol ou cantar um belo hino em honra de Atena. São formas de piedade, e não poderá nunca haver nisso demasiada piedade. Admitis os anjos; porque não admitis os demónios ou Deuses subalternos? Se os ídolos nada são, que mal haverá em tomar parte nas festas públicas? Se há demónios, ministros de Deus todo-poderoso, não será necessário que os homens pios lhes prestem homenagens? Pareceis efectivamente honrar tanto mais o Grande Deus quanto melhor glorificardes essas Divindades secundárias. Ao aplicar-se assim a todas as coisas, a piedade ganha em perfeição.

In «Contra os Cristãos», de Celso, editorial Estampa, págs. 120 e 121.