terça-feira, outubro 23, 2007

MANIGÂNCIAS INTELECTUAIS TOTALITÁRIAS E VERDADEIRA TOLERÂNCIA

Vim a descobrir através desta página que certo escriba, autor de um Pasquim da Reacção, continua, como seria de esperar, a tentar fazer crer que a Democracia é opressiva, numa argumentação cuja demagogia barata só é superada pelo descaramento mais primário. Diz ele que, passo a citar,
Tolerar aquele que se submete às nossas finalidades não é tolerância, é apropriação e subordinação. Basta relembrar que o “Ensaio Sobre a Tolerância” de John Locke deixava de fora dessa benevolência os católicos e todos os que tivessem uma ordenação moral que não se submetesse caninamente à Corôa e à Constituição. A tolerância religiosa no Estado Moderno é, por isso, um mito. É pura submissão.

Com a cobardia intelectual que o caracteriza, o dito bloguista impediu-me de escrever no seu pasquim, pelo que aquilo que aqui é dito não pode ser lá publicado, pelo menos por mim.
Não é evidentemente por isso que os leitores do Novo Press que eventualmente passem pelo Gladius ficam sem a devida resposta - porque, de facto, John Locke está carregado de razão.

Ao fim ao cabo, o que diz John Locke?

Diz simplesmente o seguinte: que todas as religiões devem ser toleradas, excepto aquelas cuja natureza puder ameaçar a segurança do Estado.
Nunca Locke apelou a que se perseguisse fosse quem fosse pela sua doutrina, antes pelo contrário.
A postura deste filósofo anglo-saxão em matéria doutrinal é pois puramente defensiva (por estas e por outras é que as democracias anglo-saxónicas e norte-europeias em geral são verdadeiramente livres, ao contrário de certas democracias meridionais, francófilas e/ou católicas, onde o prioridade está na igualdade e a liberdade é tendencialmente desprezada, talvez porque o espírito mediterrânico oriental não europeu seja aí mais influente, enquanto o norte germânico está menos contaminado por essa mentalidade, sendo por isso mais fiel à antiga liberdade dos povos ocidentais).
Nisto Locke já mostra, logo à partida, mais tolerância do que a Igreja, sem apelo nem agravo, visto que ainda no século XIX a dita «Santa» Sé proclamou que a liberdade de culto não poderia ser permitida. De facto, a encíclica Libertas Praestantissimum, do papa Leão XIII, datada de 20 de Junho de 1888, declarou o seguinte: «Não é de modo algum permitido pedir, defender, ou acordar sem discernimento a liberdade de pensamento, de impressão, de ensino, de religiões, como sendo direitos que a natureza conferiu ao homem

Assim, enquanto Locke queria simplesmente que a organização papal não pudesse comandar ou ameaçar a vivência democrática, a Igreja exigia nada menos do que o direito de poder controlar as vidas alheias.

Ora o filósofo escreveu o que escreveu no século XVIII, isto é, cerca de um século antes da supracitada encíclica. Em matéria de tolerância não há pois comparação possível entre o pensador inglês e a instituição da qual Corcunda é servidor.

Sucede que Corcunda e afins acreditam mesmo que têm o direito de serem universalmente reconhecidos como a elite sábia que pode ditar à sociedade o que pensar e o que fazer - e, como estes «direitos morais» não lhes são atribuídos por ninguém a não ser por si mesmos, queixam-se de que «a democracia é uma farsa». Porque crêem, com toda a sinceridade, que deviam realmente poder impor os seus valores a tudo e a todos, dando-os, aos valores, como «universais», leia-se, acima de toda a discussão.

Infelizmente para eles, «tolerância» não é o mesmo que o mandamento cristão de dar a outra face, mas sim a prática pagã romana de permitir ao outro que pense, diga, adore e faça o que quiser desde que não ponha em causa a existência do «nós».

Por conseguinte, o Estado tem, não apenas o direito, mas até o dever de se defender de todo e qualquer credo que ameace a Nação. Ao contrário do que queria o beato da Reacção, nenhuma Internacional do Judeu Morto tem o direito de se sobrepôr aos Estados soberanos.

Tem, todavia, uma utilidade, a prosa do Marreco - deixa clara a incompatibilidade doutrinal entre a Igreja e a Democracia.
A partir daqui, leitores, escolham o vosso «lado» e façam as vossas «apostas».

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este sapo vai-me custar a engolir mas ai vai.

Eu sou dos anónimos que constantemente massacram o nosso prezado Caturo mas tenho de reconhecer que eu não conseguiria responder melhor a este trafulha bafiento.
Muito bem, estou inteiramente (!) de acordo contigo.

24 de outubro de 2007 às 03:42:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

você já vendeu essa prosa execravel ao presidente do seu partido? e que disse ele?

26 de outubro de 2007 às 19:28:00 WEST  

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