APONTAMENTOS SOBRE O NEO-PAGANISMO NA RÚSSIA... E O DEUS ENDOVÉLICO DA LUSITÂNIA ROMANA
Celebração do Equinócio, ostentando bandeira com a versão eslava da suástica.
O nosso ponto de vista é o seguinte: o "Livro de Veles" contém muito de contraditório. Primeiro, os primeiros fragmentos datariam do século V da nossa era, uma época em que os povos eslavos não conheciam nenhum tipo de escrita; seguidamente, nenhum texto da Antiguidade menciona os ataques "Oriyanos" dos proto-Russos; por último, o nosso cepticismo vem pelo facto de que o texto é escrito numa língua grandiloquente, que recorda curiosamente o Antigo Testamento.
Mas, independentemente do julgamento que se possa fazer sobre o "Livro de Veles" e sobre as peripécias da sua descoberta e da sua exploração, não se pode negar o facto de que os mitos, as lendas e as narrativas são de uma importância capital para os homens, sobretudo os homens de hoje, que é necessário fazer sonhar, enquanto são tomados no ritmo trepidante da vida moderna, que destrói e aniquila as identidades. Mostrar-lhe um passado onde tudo era possível é por conseguinte uma boa coisa.
Imagens do Paganismo Eslavo, ao som de música de banda pagã metálica.
«Noite de Véspera de Ivan Kupala», pintura a óleo na tela, da autoria de Henryk Siemiradzki, datada da década de 1880, exposta na Galeria Lvov, Ucrânia. Ivan Kupala é a celebração do solstício de Verão. Observe-se que as pessoas aí representadas saltam por sobre uma fogueira, como se faz genericamente nas tradições do solstício de Verão na Europa Ocidental, incluindo, evidentemente, Portugal.
Vale a pena reparar nas intrigantes semelhanças entre o eslavo Veles e o hispânico Endovélico: ambos são Deuses ligados ao mundo subterrâneo dos mortos, ambos são Deuses ligados à medicina, ambos são Deuses oraculares e ambos têm nos Seus nomes a partícula «Vel-».
Este «Vel-» tem dado muito que falar e que especular aos especialistas em religiões e línguas antigas que estudam a natureza de Endovélico a partir do escasso contributo das inscrições pétreas gravadas em época e língua latina como oferenda ao Deus.
Houve quem (Leite de Vasconcellos) visse em «Vel» um familiar do Celta (Galês) «Gwell», significando «Bom», enquanto a parte «Endo» derivaria do Celta «Nd», partícula intensiva, daí que Endovélico significasse «O Muito Bom», mas «Muito Bom» no sentido de eficiente, à semelhança do Deus celta irlandês Dagda, Cujo nome significa, isto sabe-se com solidez, «Dago + Devos», isto é, «O Bom Deus».
Houve por outro lado quem (António Tovar) fizesse derivar o «Vel-» da raiz basca «Beltz», significando «Negro», daí que Endovélico fosse «O Muito Negro», como conviria a uma Divindade subterrânea.
Recordo-me entretanto de ter ouvido o professor Cardim Ribeiro a dizer, numa aula da da disciplina que lecciona na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa («Divindades e Cultos Paleo-Hispânicos»), que o «Veli-» de Endovélico poderia ter relação com uma arcaica raiz indo-europeia expressando a noção de «Vontade» (como a latina «Voluntas», por exemplo), pelo que Endovélico seria afinal «O da Vontade Forte», o que aliás condiz com uma referência a uma ordem do Deus, numa das epígrafes que Lhe foram dedicadas, como «Ex Imperato Averno», ou seja, «De acordo com ordem vinda do Inferno», isto é, comando vindo do mundo inferior (não confundir com o inferno cristão, que é o local/estado da maldade).
Sendo verdade que há muito tempo e espaço a separar os Eslavos dos Celtici do Alentejo, não deixa todavia de parecer digna de nota a estranha similitude que parece existir entre uma das principais Divindades eslavas e a Divindade hispânica de Cujo culto mais provas se encontraram. Acresce que o nome de Endovélico tem, nas inscrições, a variante de «Endovolico»; ao mesmo tempo, uma das variantes do nome de Veles é precisamente «Volos». Pode eventualmente suceder que se explique tal paralelismo linguístico-religioso através do conceito do chamado Europeu Antigo, isto é, de uma arcaica língua indo-europeia que em tempos muito recuados teria abrangido toda a Europa antes que começassem a definir-se as diferenciações linguísticas regionais e étnicas, fazendo assim com que este remoto idioma fosse substituído, localmente, pelos ramos indo-europeus historicamente conhecidos, tais como o Traco-Frígio, o Grego, o Ilírio, o Italiota, o Celta, o Germano, o Balta e o Eslavo.
Mais um indício, ténue mas nem por isso indigno de menção, é a semelhança linguística (desconheço se funcional) entre a Divindade trácia Bendis, a Divindade ilírica Bindus e a Divindade Lusitano-Galaica Bandua (e parece-me sugestivo lembrar que a trácia Bendis é considerada como funcionalmente equivalente à grega Ártemis, que por sua vez é equivalente à latina Diana, e, na Crónica Geral de Hespanha, é dito que o nome da Lusitânia deriva do nome da Deusa Diana, e, aqui, é curioso verificar que uma das Divindades mais adoradas na Lusitânia e na Galécia foi precisamente Bandua).
Os Baltas (Lituanos e Letões), vizinhos e parentes próximos dos Eslavos, detentores da língua mais puramente indo-europeia da actualidade (especialmente os Lituanos), têm na sua herança religiosa o equivalente ao eslavo Veles, que é o báltico Velinas (lituano) ou Vels, Velis (letão). Vale a pena dar uma aturada vista de olhos a esta magnífica página, que fornece mais dados, a meu ver, que podem aproximar a Divindade subterrânea eslavo-balta e o ibérico Endovélico.
Um dos dados que me parecem significativos é a existência da palavra lituana «veles», que designa a sombra dos mortos, o que se relaciona perfeitamente com Aquilo que se pensa ser a natureza de Endovélico; o outro, é a possível derivação do teónimo Velinas a partir do radical indo-europeu *Wels, o qual, representando a noção de «visão», «visão interior», «avistamento», corresponde a uma das características de Endovélico, que é a de Divindade oracular (que revela segredos, ou revela o futuro, ou, no caso de Endovélico, revela a cura ao doente, através dos sonhos).
Esta é outra página na qual se pode ler sobre a etimologia indo-europeia de Veles: https://www.encyclopedia.com/environment/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/veles-volos
Esta é outra página na qual se pode ler sobre a etimologia indo-europeia de Veles: https://www.encyclopedia.com/environment/encyclopedias-almanacs-transcripts-and-maps/veles-volos
14 Comments:
Mais uma lição, sempre do agrado de quem quer saber mais.
O meu muito obrigado.
Subscrevo. Outra coisa Ó Caturo, há uns dias conheci um francês que podia jurar tratar-se da tua pessoa, é que as posições dele são, sem tirar nem por, precisamente as tuas sobre vários assuntos, mas é que são mesmo iguais, o tipo assina Thunder no fórum do GRECE. Ou tens uma alma gémea em França ou afinal ocultaste a tua real nacionalidade e vens da terra dos gauleses :).
emenda:pôr
Rodrigo
Ahahahh, eu que nem Francês falo, é que praticamente nem leio.. :) (É curioso que esse francês use um nick inglês).
Por acaso achei isto muito divertido, desde as opiniões sobre a raça, à democracia ateniense, ao paganismo, tudo é precisamente similar à tua argumentação e, esta parte, foi o mais engraçado, o indivíduo até é formado na tua área. Tens de polir o teu francês e conhecer aquele gajo, vai ser como debateres contigo próprio.
LOOOL Pagava para te ver falar francês:P
Ahaha, nota que ainda agora descobri que até mesmo as ideias dele sobre a problemática dos judeus e dos islâmicos é semelhante à tua!Acho que estás a fazer escola em França, ainda vais parar ao GRECE quando o Benoist esticar o pernil, de certeza que o voto do teu alterego francófono está garantido.
Mesdames et messieurs je vous présente ...Caturé, le Gaulois.
correcção:"são semelhantes às tuas"
Rodrigo
Se é para falar em Gauleses, faço notar que na Gália havia um Deus chamado Caturix, ou Rei do Combate... :)
Agora sobre o GRECE... então se o líder disso é o Alain de Benoist, e se tal sujeito prefere os muçulmanos aos Judeus, esse tal sósia da minha pessoa deve estar em choque com a linha central do seu grupo, não?...
Sim, o Caturix está em dissonância com alguns deles mas o tipo dá conta do recado, escreve uns 50 posts a rebater tudo e o resto da malta não acompanha o ritmo.
Reparei que a página pessoal dele é um fórum:
FORUM SOCIALISTE DE LA NATION EUROPEENNE
Conheço esse fórum...
Este meu sósia francês será porventura aquele que no fórum que indicaste assina «Ferrier»?
Não faço ideia, apenas o conheço do fórum do GRECE, mas notei que no perfil dele aponta esse outro espaço como página de internet...
vc sabe onde um link para baixar o livro de veles?
Não, mas deve haver.
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