quarta-feira, maio 26, 2004

O PAÍS NÃO MERECIA UMA COISA DESTAS

Ontem à noite, pôde ver-se Miguel Sousa Tavares a dizer de sua «justiça» sobre o modo como, segundo ele, o Futebol Clube do Porto tem sido tratado pela comunicação social.
Disse ele que nos últimos dias se deu muito mais destaque ao caso do Benfica poder perder a taça do que ao jogo de hoje do FCP, que decidirá o vencedor da Liga dos Campeões.

Ora, sabendo-se que os média, com a sua habitual pobreza de espírito, quase que não têm falado de outra coisa para além desse jogo, chega-se à conclusão que Miguel Sousa Tavares está fanatizado. Mas fanatizado de um modo particularmente imbecil, como bem o demonstra aquela pérola de tristeza labrega, cito, «Este país não merece o FCP».

Durante um quarto de hora, ou pouco mais, houve outra notícia do futebol que também deu que falar e, por isso, o país não merece o FCP. Até parece ter sido dito por algum hooligan tocado pela pinga que está a tentar arranjar motivos para andar à bordoada, mas não, foi proferido, na televisão, em horário nobre, por um conhecido «opinion maker», jornalista muito afamado, comentador político e, ao que parece, também desportivo (no Portugal de hoje em dia, todo o bicho careta se mete na bola) e que também é advogado.

Isto é sintomático - que uma das figuras mais conhecidas do pensamento mediático, fazedora de opiniões, licenciada e engravatada de todo, dando um imenso ar solene a si própria, se lembre de largar uma bacorada saloia de tal quilate, mostra bem como é que o País está estupidificado pela acção do esférico correndo sobre a relva.

A Pátria que se forjou na guerra de uma Nação europeia contra a Moirama, palmo a palmo, regando a terra com sangue e suor e que, mais tarde, deu sal dos seus olhos às águas de Neptuno, a Pátria que, num canto pobre da Europa, preservou o último Império Europeu em paragens longínquas e que, mais importante do que isso, tem insistido, ao longo dos séculos, em ser dona do seu Destino - esta Pátria merecia gente melhor do que a que neste momento a domina.

Não é o País que não merece o FCP.
É esta gente que, transformada em maralhal ridiculamente mesquinho, não merece o País que tem.