Triste(s) exemplo(s)
Manuel Maria Carrilho, considerado como uma das principais figuras da cultura nacional, esteve numa reunião de homens de letras de vários países hispânicos. Embora rodeado de portugueses, espanhóis, argentinos e outros, de línguas ibéricas, resolveu dizer a sua parte em Francês.
Só estava presente um francês, e, ainda assim, o sujeito achou por bem fazer a sua palestra na língua de Rosseau.
Quando, indignados, os outros participantes da tertúlia lhe perguntaram porque não tinha discursado em Português, ele respondeu «Eu nestas coisas, só falo em Francês ou em Inglês».
Pode chamar-se a isto subserviência cultural e saloiice da mais novo-riquista, mas é demasiado óbvio para estar a dizê-lo.
Poderia dizer-se que é uma vergonha ter «vultos culturais» desta índole a representar Portugal, mas eu, sinceramente, não acho que tenha sentido ficar-se envergonhado só porque uma pessoa do Povo ao qual se pertence comete um acto desprezível ou ridículo.
O que interessa mais salientar é que este indivíduo foi ministro da cultura em Portugal. O facto de ter chegado a ocupar tal cargo, e a continuar a dar que falar como homem de cultura, é talvez indício do estado actual da intelectualidade nacional. Perante exemplos destes, não é de admirar que haja tão poucas obras importantes editadas em Portugal - é que, enquanto os Espanhóis, por exemplo, traduzem tudo o que podem para o seu idioma, os manda-chuvas das letras tugas, quando os seus alunos, nas universidades, lhes perguntam o que podem ler sobre determinada matéria, respondem simplesmente que é preciso saber ler noutras línguas, e que quem não lê noutras línguas não pode tirar um curso superior, o que, não sendo mentira, não passa de um laxismo intelectual de quem despreza o valor da própria língua, o valor da comunicação cultural na sua própria língua como vector dinamizador de um desenvolvimento, de uma vida nacional intelectualmente autónoma.
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