sexta-feira, maio 21, 2004

LIVROS

Começa hoje mais uma feira do livro.
É sempre bom constatar que ao longos dos anos se tem mantido uma iniciativa que permite combater a tão criticada falta de cultura da população portuguesa.
Como dizia já não sei quem, um livro é uma ferramenta útil e um amigo: informa, repete as vezes que se quiser aquilo que se quiser entender melhor, pode pôr-se de parte quando tal apetecer e voltar depois quando for chamado, não faz barulho, não tem altos custos de manutenção (basta limpar-lhe o pó...), dura décadas ou mesmo séculos, é flexível e pode levar-se para qualquer lado.

E, se não estiver meio rasgado, amachucado ou demasiadamente encardido, também serve como elemento decorativo.

É verdade que o livro diz sempre a mesma coisa, seja o que for que se lhe pergunte; mas também há por aí muitos fulanos que são autênticas cassetes humanas - o livro, ao menos, tem a vantagem de não impor a ninguém um incomodativo mau hálito ou uns desagradáveis olhos esbugalhados de fanatismo.
Platão, nascido há dois mil e tal anos, desprezava a escrita, porque, segundo ele, o texto não se defendia quando atacado, além de que incentivava à preguiça da memória, servindo de muleta a quem não quisesse fazer um esforço mental para guardar em si o conhecimento. Os sábios celtas, os Druidas, por sua vez, teriam no seu sacerdócio uma espécie qualquer de proibição do uso da escrita para registar coisas importantes.
Não obstante, no mundo populoso e rigidamente dominado pelas limitações do tempo e das conveniências materiais, o livro tornou-se essencial como fonte mais ou menos segura de conhecimento e, sobretudo, de acesso relativamente fácil e regular a uma extensa quantidade de informações, de ideias, de sentimentos. Não é fácil nem praticável para o indivíduo comum deslocar-se a qualquer parte do mundo com o intuito de aprender com este ou com aquele mestre, oralmente, com perguntas e respostas, à maneira socrático-platónica. Além do mais, o livro oferece a grande vantagem de, como disse acima, permitir um estudo mais detalhado, pausado e reflexivo do que é afirmado por outrem, e, uma vez que dura décadas e mesmo séculos, confere ainda a possibilidade de abordar determinada informação ou ideia, ou sentimento, em épocas diferentes da História, tanto ao nível individual (ler uma mesma obra filosófica aos vinte ou aos trinta anos, não é a mesma coisa) como ao nível dos povos e das modas de cada época. Para além das correntes, das marés, dos gostos e dos desgostos de cada geração, fica o livro, sempre fiel ao que lhe ditou a intenção primordial com que foi escrito.
O livro é também um portal que permite circular entre pensamentos, ideias, mundos diversos, polos opostos, eras distantes ou mundos fantásticos.

Por isso, e por outros motivos que possam porventura existir mas que de momento não me ocorrem, ide comprar livros, leitores, ide.
São caros?
Sim, a maior parte dos livros são vendidos por preços exagerados, mas, na sua maioria, têm um preço perfeitamente acessível para a média dos cidadãos, e mesmo para os de fracos recursos - entretanto, quanto não se gasta em divertimentos festivos, em noites de copos, em roupas cujo preço levariam os prudentes a optar por peças de vestuário igualmente úteis mas sem o peso monetário que determinada marca famosa impõe?

É, na maior parte dos casos, uma questão de prioridades e de opções.

De qualquer modo, existem bibliotecas, onde a leitura é gratuita.

Sendo assim, levantem os entorpecidos corpos da frente do ecrã e vão à feira adquirir (sem roubar) resmas de papel com letras impressas, instruam-se, alienem o miolo, tomem contacto com ideias estranhas que nunca vos passaram nem passariam pela mona, ou então passem umas horas de monótona mas tranquila leitura, e depois não digam que não sou vosso amigo.