segunda-feira, maio 31, 2004

Mais Uma Máscara Arrancada

Reproduzo um texto do Diário de Notícias, da autoria de Vasco Graça Moura:

Casos de cárcere privado, com tortura e violenta agressão física; centenas de prisões arbitrárias; detenções sem invocação de razões e sem processo ao longo de meses e meses; interrogatórios à noite e não reduzidos a escrito; recusa de assistência de advogado; casos de tortura sistemática, de agressão violenta e de maus tratos físicos, por vezes com espancamento dos presos por vários agressores simultâneos; «sevícias sistemáticas sobre presos, com o fim de os humilhar e lhes infligir castigos corporais, traduzidos em agressões, rastejamento no solo, corridas forçadas, banhos frios com mangueira e imposição de beijarem as insígnias de uma unidade militar, incrustadas no pavimento»; tortura moral por insultos, intimidação e ameaças com armas de fogo; coacção psicológica por ameaça de prisão de familiares; vexames e enxovalhos públicos; subtracção de valores ou objectos na efectivação das prisões ou nas buscas às celas; incomunicabilidades, isolamentos, privação de correspondência, de artigos de higiene e de recepção de encomendas, até cinco meses; privação de exercício físico ao ar livre; desrespeito pelo natural pudor das pessoas na admissão dos detidos; graves deficiências de assistência médica, chegando a registar-se a morte de presos; impedimento de assistência a actos de culto...

E ainda queixas de simulações de execução; de agressão à dentada, espancamento e tentativa de violação de uma presa; de choques eléctricos nos ouvidos, sexo e nariz de um preso; de sevícias e torturas ao filho de outro preso, na frente deste, para extorsão de uma confissão.

Tão extremosas manifestações de humanidade não se devem à PIDE, nem aos franceses na Argélia, nem à guerra do Vietname, nem ao regime de Saddam, nem aos guardas de Guantánamo, nem às práticas sinistras de alguns militares americanos no Iraque.

Devem-se a militares e civis alinhados com o PCP e a UDP no rutilante Portugal dos cravos de 1974-75.

Dá-se aqui só uma pálida ideia de algumas das 56 conclusões do documento de 143 páginas publicado em 1976 pela Presidência da República, sob o título de Relatório da comissão de averiguação de violências sobre presos sujeitos às autoridades militares.

A brandura dos nossos costumes revolucionários no seu máximo esplendor torna ainda mais grotesco o enlevo de algumas lúgubres vestais comunistas e trotskistas, nas celebrações do 25 de Abril.

Oficiaram com estridor sobre a imprescritível «memória do fascismo». Mas a barulheira não abafa as memórias, assim edificantes e patrióticas, da gloriosa «construção do socialismo».

Na democracia norte-americana, conhecidas as sevícias nojentas perpetradas por alguns militares no Iraque, os nomes e fotografias dos responsáveis foram publicados, as autoridades exprimiram o seu repúdio, a comunicação social e a opinião pública fizeram livremente a sua avaliação indignada, os arguidos irão a tribunal e hão-de ser severamente punidos.

Na democracia francesa, as torturas na Argélia têm vindo a ser investigadas a quase cinquenta anos de distância.

Mas dá-se um doce a quem se lembrar de um só caso de julgamento em Portugal pelas selvajarias acima referidas.

Espera-se que comunistas, trotskistas e mais fauna da extrema-esquerda, que hoje tanto se abnegam pelos direitos humanos, façam o obséquio de esclarecer como, quando e onde, condenaram publicamente o que se passou entre nós naquela altura.

Já. Antes de guincharem mais.



De cada vez que oiço certo tipo de esquerdalha a mandar bocas, como se fosse detentora de toda a Boa Moral, sinto sempre asco. Sinto asco, não só pela arrogância do seu espírito totalitário, de quem se pretende único mensageiro da verdade absoluta que tem de ser aceite dê lá por onde der, mas também porque tentam sempre colar uma ideologia a uma determinada actuação criminosa como se isso invalidasse essa mesma ideologia: assim, segundo eles, não se pode, por exemplo, ser a favor da preservação e diferenciação das raças porque os nazis mataram, em nome da Raça, seis milhões de pessoas. Ora, para além da evidência de que em nome de qualquer doutrina se pode cometer qualquer acto criminoso, o que acaba sempre por vir ao de cima é que do lado da Esquerda os crimes não foram menores. Mas os defensores ou desculpabilizadores - ou partidários demasiado cobardes e desonestos para admitirem que o são - dessa Esquerda deitam essa parte para trás das costas com uma leveza extraordinária, puf, já está, que simples e limpinho é o seu revoltante e abjecto descaramento, próprio da gentalha mete-nojo.