«A NOSSA "SEPARAÇÃO DE PODERES" EM QUE A NOSSA ELITE CONTROLA OS TRIBUNAIS E BLOQUEIA LEIS RACISTAS É QUE É A DEMOCRACIA...»

«... outra parte também muito importante, e que a mim me parece perigosa, o que vemos ou já começámos a ver, que é, de uma forma que já nem é escamoteada ou enviesada, mas sim de uma forma muito clara, vir com esta posição: quando ele confronta aquilo que nos EUA chamamos checks unbalances e a separação com a questão da justiça, quando ele enfrenta as decisões dos tribunais, o que se começa a ouvir por parte destas pessoas que acompanham Donald Trump, é o seguinte - como é que os tribunais podem pôr em causa aquilo que foi a decisão do povo. Ou seja, Donald Trump recebe o poder do eleitor, directamente do povo, e vai exercê-lo; e, partindo do princípio de que a Democracia é o princípio mais importante de tudo, não podem ser os jornais que vão pôr em causa a decisão do povo. Isto é um enorme perigo, porque isto é o primeiro quebrar do princípio da Democracia, da separação de poderes, em que o poder judicial e o poder administrativo estão separados mas que uns se respeitam aos outros.» - Miguel Baumgartner, comentadeiro da CNN.

Pois claro - um típico representante das elites não gosta que o povo possa mesmo eleger alguém com poder para pôr em prática a vontade popular, porque a «separação de poderes» tem que ser respeitada e tal, ou seja, o que os luísesmiguéis querem, na prática, é que as elites não eleitas democraticamente, que controlam os tribunais, possam impedir todo e qualquer líder democraticamente eleito de fazer a vontade do povo...

Sucede simplesmente que, ao contrário do que dizem os miguéisbaumgartners, «o princípio da Democracia» não é, nunca foi, jamais será, «a separação de poderes», muito menos uma separação de poderes sonsamente orientada para que o poder judicial possa bloquear o poder executivo, ou seja, para que uma elite não eleita possa limitar o poder de representantes eleitos pelo povo.

O verdadeiro e único princípio da Democracia é o da soberania da vontade popular. Tudo o resto são acrescentos. Neste contexto, a dita separação de poderes mais não é do que um instrumento para impedir que haja demasiado poder concentrado num só órgão de poder, mas isto tem um carácter meramente funcional e contingente, pois que, a partir do momento em que passe a colocar-se acima da vontade popular, então o regime deixa de ser democrático e passa a ser uma nova versão de despotismo esclarecido, ou seja, o regime em que uma elite que se considera dona dos únicos valores respeitáveis se dá ao luxo de impor ao povo esses valores, «governando então para o povo, mas sem o povo», como se dizia no século XVIII...

Os miguéisbaumgartners consideram tudo isto muito perigoso pelo simples motivo de que, de facto, a Democracia é, sempre foi, contrária ao poder e aos valores destes e doutros miguéisbaumgartners, por mais que estes gostassem de fazer crer que eram democratas, o que só confirma um ditado popular - quem o alheio veste, na praça o despe. Efectivamente, não é democrata quem quer.