quarta-feira, junho 28, 2023

UCRÂNIA - PORQUE LUTA QUEM DEFENDE A NAÇÃO

Nesta semana, perto de Bakhmut, leste da Ucrânia, tive a oportunidade de passar um tempo com comandantes e soldados que lutam contra a invasão russa na cidade já em ruínas, às vezes por meses a fio. Esta tem sido uma das batalhas mais longas, qualquer que seja o parâmetro, desde 1945 e de longe a mais sangrenta da guerra, russos e ucranianos muitas vezes em combate corpo a corpo, artilharia devastando a cidade, cenas que lembram Estalinegrado e um nível de carnificina jamais visto em qualquer outra cidade nesta execrável guerra comandada por Putin.
Ao conversar com estes homens exaustos pela batalha, era palpável e às vezes emocionante, ver a gratidão pelo fornecimento de armas, munições e equipamentos do Ocidente. Agradeceram-nos por mantê-los vivos e a lutar. Perguntei do que mais precisavam eles, no momento, dos nossos países. Obviamente mais armas, mais munição, mais tanques, mais foguetes e aviões de combate apareciam sempre na conversa. Outra resposta, tão consistente como marcante, ainda que nada surpreendente: não queira forçar o nosso país a fazer a paz com os invasores.
Isto vindo de homens que viram irmãos de armas serem mortos a tiro, explosões de bombas e dilacerantes estilhaços de projécteis, de homens que lutaram para impedir o agravamento da condição dos seus camaradas mutilados, que suportaram a percussão entorpecente de intermináveis bombardeamentos de artilharia e que arriscaram as suas próprias vidas a cada hora na devastada cidade. A certa altura, a fatídica realidade da vida em Bakhmut foi transportada de volta para casa por frotas de ambulâncias que passavam por nós, deixando para trás o campo de batalha.
Com a afervorada rejeição das negociações de paz, refutavam estes combatentes as palavras do general norte-americano Douglas MacArthur no seu famoso discurso «Dever, Honra, País» em West Point: "o soldado acima de todos os demais reza pela paz, pois é o soldado que sofre e paga com as mais profundas feridas e cicatrizes da guerra"?
Eu não lhes fiz esta pergunta porque entendi imediatamente o que estava por trás da sua determinação sombria de continuar lutando, apesar dos horrores que os cercavam.
Anteriormente, visitei a adjacente Izium, onde a ocupação russa está presente não só pelas escolas, hospitais, casas e prédios de apartamentos destruídos por balas e escombros, como também por covas rasas no meio da floresta, agora vazias e cada uma marcada por um símbolo de cruz de madeira talhada feito à pressa.
Depois de os Russos serem expulsos pela contra-ofensiva do exército ucraniano em Setembro passado, 447 corpos foram exumados aqui, a maioria de civis, homens, mulheres e crianças, quase todos evidenciavam sinais de morte violenta, muitos foram executados, alguns foram mutilados e outros foram mortos com as mãos atadas. A floresta circunvizinha encontra-se danificada por ranhuras devido à passagem de tanques, havia enormes crateras no solo onde os veículos blindados russos ficaram escondidos para protecção da artilharia e fogo anti-tanque e para ajudar na ocultação tanto por terra quanto por ar. Uma dessas ranhuras continha 17 cadáveres de soldados ucranianos. Antes de jogar terra sobre eles, os Russos, para completar, colocaram uma mina anti-tanque em cima dos corpos, cuja intenção era a de matar e mutilar os encarregados de desenterrá-los.
Alguns dos civis mortos foram trazidos para estas florestas da cidade de Izium e de Balakliia, que ficam a poucos quilómetros dali. Em ambas as cidades, tive a oportunidade de passar por esquadras de polícia com celas em condições sub-humanas e porões sem luz onde os Russos tinham amontoado os seus cativos, homens, mulheres e crianças, onde os aterrorizavam, torturavam, abusavam sexualmente e os assassinavam.
Poucos dias depois, vi locais com as mesmas condições sinistras em Bucha, perto de Kyiv. Lugares como este podem ser encontrados em inúmeras cidades e vilarejos ocupados pelos Russos. Lembram hediondamente os centros de tortura e extermínio nazis que visitei na Polônia, na França e na Ilha do Canal de Alderney. A exemplo daqueles, esses locais deveriam ser preservados, tanto como alerta do que homens maquiavélicos são capazes de fazer quanto como memorial às pobres almas que sofreram de forma tão abominável sob a bota militar russa.
Nas regiões do país que o exército de Putin ocupou desde a invasão em Fevereiro passado, eles também sequestraram crianças ucranianas, incluindo bebés, em escala industrial. Até agora, o governo de Kyiv documentou o sequestro de 19393 crianças, provavelmente há muitas mais que ainda não foram identificadas.
Algumas ainda estão detidas em regiões da Ucrânia ocupadas pelo exército russo, outras foram transportadas para território russo. Assim como tortura e assassínio de civis em Izium e em outros lugares, a execução sumária de prisioneiros de guerra, são crimes de guerra. É por causa destes sequestros que o Tribunal Penal Internacional emitiu em Março mandados de prisão contra Vladimir Putin e a assim chamada Comissária dos Direitos da Criança, Maria Lvova-Belova.
As forças de Putin e os burocratas civis sequestraram crianças de orfanatos, as arrancaram à força dos seus pais ou as levaram a "abrigos" depois de assassinarem as suas famílias. Algumas foram levadas para serem criadas ou adoptadas à força em cidades como Moscovo, São Petersburgo e Rostov. Nomes e datas de nascimento eram por vezes alterados para não poderem ser localizadas. As crianças que defendem a sua terra natal, cantam o hino nacional ou falam mal de Putin são "reeducadas" pelas autoridades russas, um processo que inclui longos períodos de detenção e confinamento solitário, bem como intimidação e violentos espancamentos. Algumas crianças foram alistadas num "exército jovem" russo, onde são treinadas e preparadas para um dia lutar contra o seu próprio Povo.
Em Kiev, conheci as mães, com olhos vermelhos de tanto chorar, algumas dessas crianças, cada uma delas passando por um inferno na terra que nunca irá terminar até que os seus filhos e filhas voltem para casa. O governo ucraniano e a ONG Save Ukraine, bem como pais, isoladamente, que têm condições, estão a fazer de tudo para resgatar os filhos, mas até agora somente um número infinitesimal foi levado de volta para casa. Embora não haja como reverter a tortura e o assassínio, o sequestro de crianças pela Rússia pode, e não dá para entender porque não há até agora massiva indignação internacional.
O sequestro de crianças ucranianas ecoa grotescamente o Terceiro Reich, que retirou à força pelo menos 20 mil crianças polacas às suas famílias e transportou-as para a Alemanha, o mesmo número de crianças, de que temos notícia, foram sequestradas por Putin até ao momento. Muitas delas enfrentaram um destino quase idêntico ao das crianças ucranianas sequestradas hoje.
Voltando aos defensores de Bakhmut, o simples facto de saber dessas acções destrutivas é o motivo da sua luta e porque eles e os combatentes em outros campos de batalha da Ucrânia continuam determinados a continuar a atacar, mantendo os invasores longe das portas das suas famílias até que eles os expulsem das suas fronteiras, custe o que custar.
-
O Coronel Richard Kemp é um ex-comandante do exército britânicoTambém foi chefe da equipa que trata de terrorismo internacional do Gabinete do Reino Unido e agora é escritor e palestrante sobre assuntos internacionais e militares. É Shillman Fellow no Gatestone Institute.
*
Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/19741/relatos-da-ucrania

2 Comments:

Blogger mensagensnanett said...

Vivemos uma época histórica: é cada vez mais urgente um «cisma» civilizacional!!!
.
--->>> Urge dizer não à civilização da pilhagem!
Pois é, HÁ 500 ANOS QUE A EUROPA FUNCIONA ASSIM:
- querem investimentos... querem dinheirinho em impostos pagos... têm que estar em conluio com interesses económicos "construtores de caravelas"; isto é, em conluio com:
- interesses económicos que investem em pilhagem de riquezas...
- interesses económicos que investem na existência de outros como fornecedores de abundância de mão-de-obra servil...
[uma nota: negócios da BlackRock na Ucrânia: mais do mesmo -> financiar o caos... para depois fazer negócios no caos]

28 de junho de 2023 às 23:12:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

A Europa nunca irá vencer a Rússia!!
Enquanto a Rússia manda presídiarios para a guerra a Europa importa lixo do terceiro mundo.

29 de junho de 2023 às 05:50:00 WEST  

Enviar um comentário

<< Home