terça-feira, junho 20, 2023

SUMANÁLIA, O RETORNO DAS NOITES




Vinte de Junho, celebração de Summanus, ou Sumano, Deus do Raio Nocturno em Roma, porventura uma Deidade de origem sabina, tendo de qualquer modo uma raiz indo-europeia; o historiador linguista francês Georges Dumézil teorizou que Sumano fosse o Deus Sombrio típico da dupla soberana indo-europeia, em que uma das Divindades é perigosa, terrível, pouco familiar, e a outra é luminosa, acessível, serena, amigável. Aduz Dumézil que, em Roma, o grande Diespiter, nome arcaico de Júpiter, é o lado diurno, sociável do duo soberano, por assim dizer, enquanto Sumano seria o aspecto sinistro e mais distante do Divino, como o Varuna da dupla indiana Mitra-Varuna (Mitra era o amigo da humanidade, por assim dizer) e o Odin da dupla nórdica (?) Tyr-Odin. Numa versão mais historicizada do mito, novamente em Roma, o fundador e primeiro rei, Rómulo, seria o soberano terrível, furioso, ao passo que Numa, monarca seguinte, se pautava por uma notória serenidade e carácter pacífico, além de uma vocação particularmente sacerdotal.

A celebração de Sumano na véspera do Solstício de Verão dever-se-ia, alvitra Dumézil, a um conceito de «nascimento do Deus», pois que, a partir desta data, as noites voltam a crescer, e Sumano é, de facto, um Deus Nocturno.

Um outro autor cujo nome não consigo recordar, mas que li há uns anos valentes e infelizmente não imprimi, é mais audacioso que o francês sem todavia parecer falhar - diz ele que no panteão indo-europeu primordial, e, também, em vários panteões indo-europeus historicamente conhecidos, o Deus Terrível, distante, como que situado num firmamento mais alto e sombrio, tem um nome derivado da raiz *Sus-, *Sius-, o que, com toda a evidência, recorda precisamente o nome de Sumano e, em menor grau, o do gaulês Esus...

Na celebração de 20 de Junho, sacrificavam-se a Sumano dois bodes negros - negros, correspondentes à noite - e bolos redondos em forma de rodas com raios, os sumanália.

Salta com fulgor à vista a semelhança - pelo menos formal - entre as sumanália oferecidas a Sumano e a roda que costuma acompanhar Taranis nas estatuetas da época galo-romana,


Arte contemporânea:


                


e, também, com um emblema que costuma ser atribuído a Perun, o Gromoviti Znaci:


Perun

Gromoviti Znaci


Ambos os símbolos são essencialmente rodas com vários raios, usualmente seis, facto que eu já aqui tinha salientado, neste artigo (e não só): http://gladio.blogspot.pt/2008/02/o-recrudescer-da-religio-nacional-na.html, no qual aparece também uma curiosa imagem medieval de Júpiter em que no escudo da Divindade se encontra uma estilização do Raio que acaba por consistir numa espécie de roda de seis raios: