SOBRE UM PARECER CONSERVADOR A RESPEITO DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Eis um artigo de um conservador beato ianque que condena o livro de Salman Rushdie https://www.theamericanconservative.com/rethinking-salman-rushdie/?fbclid=IwAR2vk_bcX_A1wzpnOKfpYTphBKExpwiRC3tRa_RCMvKdmJmhbeezsSwng-4 e que, não apoiando abertamente o ataque de que este foi vítima, procura todavia esvaziar o apelo da liberdade de expressão ecoado pelos que condenaram o atentado ao escritor indiano. O dito beato, Michael Warren Davis, chega ao ponto de querer inverter a acusação, afirmando que quem defende o direito de Rushdie escrever o que escreveu é que está a pôr em causa a liberdade de expressão...
Este Davis começa mal a sua invectiva, continua-a pior, e, no fim, repetindo a mesma inanidade que escreveu no início, só confirma como é nocivo o seu pensamento, subtil e «culturalmente» inimigo da Liberdade de expressão. Refiro-me à comparação com que inicia o seu texto e com que o termina: «se ofendem a nossa mãe, temos obrigação de ripostar (violentamente)». Davis compara esta ofensa à mãe com a ofensa «a Deus».
Ora isto mostra que Davis não tem noção, nem quer ter, do que é a Democracia - escapa-lhe que, para haver verdadeira liberdade de expressão, é crucial saber distinguir entre pessoas e ideias.
O Respeito é uma categoria que só se aplica às pessoas.
Não se aplica às ideias.
As ideias, ou se concorda com elas ou não.
Uma religião universalista como o Islão é uma ideia - uma ideia sagrada, ou sacralizada, mas uma ideia. Com uma ideia, ou se concorda ou não - «respeito» ou «desrespeito» não se aplicam às ideias, do mesmo modo que ninguém pode «respeitar» a lei da gravidade ou a teoria do «big bang». Ou se conhece ou não, ou se concorda ou não - não se respeita nem se desrespeita. Aliás, o próprio Islão não aceita muitas outras religiões, é mister ter isto em mente. O Islão considera que por exemplo o politeísmo é uma abominação e que prestar culto a outro que não Alá é «chirc», um dos piores pecados que se pode cometer. Na linguagem comum, isto não é «respeitar», nem de perto nem de longe...
Sintomaticamente, Davis, confesso católico, ecoa as palavras do papa, que aqui há tempos citou precisamente o exemplo que ele agora referiu - no contexto do ataque ao Charlie Hebdo, o argentino disse «Se insultarem a minha mãe, dou-lhe um soco», o que, na boca da figura, é especialmente grave, porque mostra que a suprema e infalível autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana também não sabe o que é liberdade de expressão nem está interessado em tal conceito. Está, entretanto, a falar para milhões e milhões de pessoas com baixo nível de literacia que vivem em países violentos e estão frequentemente predispostos a reacções violentas - é altamente improvável que o papa não soubesse disto tudo quando disse o que disse, e no entanto disse-o. Davis, sem surpresa, repete, mais de uma vez, o exemplo referido pelo papa e, por isso, também lamenta o caso da matança contra os jornalistas do Charlie Hebdo... porque acha triste que aqueles profissionais se tenham dedicado a morrer por algo que ele, Davis, considera como um nada, que é a liberdade de expressão... o ianque diz que os do Charlie Hebdo «nem sequer têm uma causa», o que só comprova a arrogância intolerante do escriba. Uma arrogância intolerante muito natural, aliás, em quem professa a sua ideologia, ou não fossem o Cristianismo e o Islão dois irmãos filhos do mesmo universalismo totalitário abraâmico.
Como disse alguém, o preço da Liberdade é a eterna vigilância - contra inimigos externos, como o que quis matar o indiano Rushdie, mas também contra inimigos internos, como os sequazes de totalitarismos cuja essência sempre foi incompatível com a multiplicidade de ideias e de cultos.
1 Comments:
O semitismo laico ateu filho do abraamismo e despotico nem conta no twitter deixam nao reds terem e nao sao religiosos nao
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