terça-feira, agosto 09, 2022

A TRAGÉDIA DE NOVE DE AGOSTO DE 1945

A 6 de Agosto de 1945, os EUA fizeram descer sobre a cidade japonesa de Hiroxima a «Little Boy», que se tornou assim na primeira bomba atómica da História a ser usada num conflito amado; como os Japoneses não se rendessem, a nove de Agosto caiu em Nagasáqui a segunda, denominada «Fat Man», que matou quase tanta gente como a primeira. Tornou-se hábito considerar criminosa esta actuação dos Ianques, o que só pode aceitar-se quando se esquece que foram os Nipónicos quem iniciou o conflito, o que tem tanta justeza aqui como quando um pirralho acusa outro de ter começado a bulha - justiça é justiça, em todas as escalas da vida humana, e nenhum relativismo intelectual ou intelectualóide serve para abafar a óbvia relevância de saber quem tomou a iniciativa de agredir fisicamente, seja com punhos, seja com exércitos invasores. Estive para escrever «seja por punhos, seja por balas», estilisticamente calhava melhor, mas as balas são às vezes equívocas, pois que numa fronteira de alta tensão há pequenitas escaramuças e trocas de tiros entre soldados aí estacionados e às tantas não se sabe se foi o Jó dos Verdes ou o Tó dos Azuis quem primeiro deu ao gatilho, por estar num mau dia ou com um copito a mais, mas não há dúvidas de coisa nenhuma quando um corpo de tropas com milhares de jós ou tós invade território alheio e aí se estabelece. O Japão já há muito era uma potência imperial e o gosto por submeter tudo e todos parecia estar-lhe no goto, praticamente até ao seu catastrófico fim. Mesmo nas lonas e com a radiação nuclear a chacinar em Hiroxima e em Nagasáqui, o Japão tinha, a 10 de Agosto de 1945, a intenção de manter a Coreia como colónia imperial japonesa contra o avanço soviético, depois de o país de Estaline lhe ter declarado guerra, a 8 de Agosto. A miríade de violências imperiais japonesas cometidas nos anos anteriores à II Guerra Mundial não foi menos repugnante que quaisquer outras da época. Sabe-se, embora se fale pouco nisso, que milhares de chineses morreram depois de usados em experiências científicas absolutamente revoltantes, afigurando-se como cenários equivalentes aos dos mais repulsivos e aparvalhados filmes de terror americanos. A autorização para a constituição do grupo científico-militar que as levou a cabo foi dada pelo próprio imperador Hirohito. Ao todo, este agrupamento, conhecido como Unidade 731, veio a matar mais de meio milhão de pessoas não só em experiências científicas mais também pelo uso de armas bacteriológicas. Os oficiais japoneses responsáveis por isto nunca foram julgados por crimes de guerra. Se não há hoje ficção cinematográfica e televisiva a ilustrar tais horrores, incluindo a impunidade dos seus autores, como há por exemplo a respeito dos Campos de concentração nazis, tal silêncio mediático só pode justificar-se ou porque os Tarantinos, os Spielbergs e outros artistas endinheirados ainda não se lembraram disso ou porque não têm contra amarelos a mesma vontade de diabolizar que têm contra brancos europeus.
Já a sabedoria popular bem diz que quem vai à guerra dá e leva e, sobretudo, que quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Impingir aos outros o seu próprio império dá sempre chatice e é que começa a tragédia, que depois precisa de ser terminada, de uma maneira ou doutra. Neste caso, foi com uma solução «mais brilhante que mil sóis», como disse alguém ao descrever o cogumelo mais venenoso até à data, o atómico. Podia ter sido pior. Na guerra entre cowboys e samurais, podia ter vindo a morrer ainda mais gente de ambos os lados, aliás, houve mais vítimas mortais em Tóquio, bombardeada com armas convencionais, do que em Hiroxima; o governo ianque cumpriu uma prioridade que era seu dever cumprir, a de salvar vidas de soldados ocidentais. Os pobres civis de Hiroxima e de Nagasáqui não tinham culpa das decisões dos «xogums» que mandavam neles, mas os talvez não menos pobres John Does do exército americano também não. O ministro da Guerra japonês, Corechica Anami, chegou a perguntar-se se não «seria maravilhoso que toda esta Nação fosse destruída como uma bela flor»... Pouco interessa se a sua posição era uma questão de honra poética ou não - nenhuma espécie de honra que se faz à custa de honra alheia pode ser respeitada.
Passando isso, o caso ilustrado pela montagem de fotos que acima se contempla é bonito, talvez um sinal, de que, acima e independentemente das arrogâncias históricas, pode sempre prevalecer o cerne de uma identidade nacional.