sexta-feira, agosto 05, 2022

BATALHA DE ALCÁCER QUIBIR

Quatro de Agosto de 1578, há 444 anos, foi o negro dia do maior desastre militar da História de Portugal, o da batalha de Alcácer Quibir, em que Portugal perdeu milhares de soldados num embate mal sucedido contra a Moirama. Já li cornos mansos tugas a manifestarem regozijo pela derrota «tuga», como eles dizem, exagerando um bocadito o resultado da coisa - Portugal perdeu, sim, mas não deixou de massacrar milhares de norte-africanos num confronto que ficou conhecido como a Batalha dos Três Reis, porque nela pereceram, não apenas o monarca português, D. Sebastião, mas também Abu Maruane Abdal Malique I Saadi, conhecido nas fontes portuguesas como Mulei Maluco, o maior líder inimigo, e Abu Abedalá Maomé Almotauaquil, outro soberano mouro, que aliás estava do lado português, ou por outra, era Portugal que estava do seu lado, pois que Sebastião insistiu em ir-se meter num conflito entre mouros. Para derrota, podia ser pior...
Mulei Maluco avisou-o, a Sebastião, que não intervisse - debalde, porquanto o adolescente que assumia a coroa portuguesa tinha aceso o ânimo bélico de cruzado. Pudera - um jovem cercado de padralhame e outros nobres igualmente educados pela Igreja que só pensavam em peleja pela fé e, eventualmente, em vinhas & putedo, pois um rapaz nestas circunstâncias, o que poderia ele ter feito senão avançar pela espada contra a Moirama em nome da Fé e do Império? É com severidade excessiva que se tornou lugar-comum insultar-lhe o intelecto e a maturidade. O realíssimo loiro belicista não era tão parvo como o fazem. Sabia que poderia não voltar, pelo que encarregou o cardeal D. Henrique de nomear um sucessor se o pior sucedesse. Foi ingénuo, o petiz, como não podia deixar de ser, pois se era nos padres que estava toda a sua educação e fé desde o berço... Ora D. Henrique, não só não nomeou um sucesso, como nunca aceitou como candidato ao trono o nobre D. António Prior do Crato, o que não admira, pois que, coincidência ou não, o alto clero sempre foi pouco entusiasta da independência portuguesa... já em 1383 tinha esta gente preferido o partido castelhano contra o Mestre de Aviz... coincidência ou não, ainda, a Igreja Católica de Roma tardou que se fartou em reconhecer a soberania de Portugal, só se dignou a isso em 1179, é que até a coroa de Leão e Castela o tinha feito primeiro, em 1143... Curiosamente, talvez significativamente, não se ouve ninguém a falar nisto, talvez porque, à Direita, os copinhos-de-leite que contam a História têm o seu fraquinho pela Igreja, ao passo que, à Esquerda, já nem é preciso bater nos padres, é ideologicamente mais útil pisar os ídolos pátrios, nomeadamente o símbolo em que Sebastião se tornou... Há pois que recordar uma quadra que o povo ecoava nessa época:       
«Que o cardeal-rei dom Henrique
Fique no Inferno muitos anos Por ter deixado em testamento Portugal, aos Castelhanos».

Alcácer Quibir pode e deve, na sua tragédia e consequências, ficar na memória como um exemplo do que é meter-se a Nação em sarilhos de terras distantes entre alógenos, movida por pretensões imperiais ou quaisquer outras que contrariem a supremacia das fronteiras.