quarta-feira, janeiro 12, 2022

SOBRE O DESPUDOR TERRORISTA MUÇULMANO DO HAMAS

Um dos argumentos usados contra a recente decisão do governo britânico de classificar o Hamas como organização terrorista extremista é que o movimento radicado em Gaza, que não reconhece o direito de Israel a existir, já não é o mesmo e agora apoia a criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
Opositores da decisão do Reino Unido alegam que em 2017 o Hamas "moderou a postura em relação a Israel ao aceitar a ideia de um Estado palestino nos territórios ocupados por Israel na guerra de seis dias em 1967".
A pretensa mudança, argumentam eles, foi incluída num novo documento anunciado pelo líder do Hamas Khaled Mashaal em entrevista colectiva em Doha, no Catar. Segundo consta, Mashaal disse o seguinte: "o Hamas defende a libertação de toda a Palestina, mas está disposto a aprovar o Estado palestino nas fronteiras de 1967 sem reconhecer Israel nem ceder nenhum direito."
Um ano depois, no entanto, Mashaal salientou em entrevista com a rede de televisão Al-Jazeera, de propriedade do Catar, que o documento "não representava nenhuma mudança táctica nem estratégica", acrescentando que o Hamas não mudou nem abandonou o seu estatuto de 1988. "Queremos continuar a resistência contra Israel", ressaltou o líder do Hamas.
Há três pontos que precisam de ser levados em consideração ao abordar o documento de 2017 do Hamas.
Primeiro, o documento retratando o Hamas como grupo moderado que aceita a "solução de dois Estados" não passa de conversa fiada cuja intenção é fazer com que a comunidade internacional caia no conto do vigário. Como o próprio Mashaal explicou, ainda que o Hamas aceite um Estado palestino na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental, isso não quer dizer que algum dia reconheceria o direito de Israel de existir. O Hamas, em suma, está a dizer: vamos aceitar tudo o que nos for dado agora, começando com um Estado palestino e usá-lo-emos para massacrar Israel.
Segundo, o Hamas não renunciou à violência nem ao terrorismo. Na verdade, o grupo pretende continuar a "resistência" e a jihad (guerra santa) contra Israel depois do estabelecimento do Estado palestino com o propósito de "libertar toda a Palestina". Quando os líderes do Hamas falam em "resistência", estão-se a referir, entre outras coisas, ao assassinato de judeus por meio de atentados suicidas, esfaqueamentos, rajada de tiros disparadas do interior de um veículo em movimento e foguetes disparados da Faixa de Gaza contra cidades e vilas israelitas.
Terceiro, o novo documento não cancelou nem alterou o conteúdo da carta do Hamas que, de acordo com os líderes do Hamas, continua válida e relevante até aos dias de hoje.
Khaled Qaddoumi, representante do Hamas no Irão, confirmou em 2017 que o documento do Hamas não significa que o seu grupo "abrirá mão de algum espaço da Palestina" nem interromperá os ataques terroristas contra Israel. Qaddoumi esclareceu que a conversa sobre o Hamas aceitar um Estado palestino na Cisjordânia, Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental fazia parte do contexto de um plano de destruir Israel em fases.
Perguntaram a Qaddoumi: "entendemos que você (Hamas) está a tentar libertar a Palestina em fases?"
Respondeu explicando que mesmo que o Hamas aceite um Estado palestino nas fronteiras pré-1967, jamais reconhecerá o direito de Israel de existir: "não aceitamos o conceito de reconhecer a entidade sionista em troca de um Estado palestino. O conceito que nós aceitamos é o que diz que se pode libertar parte da pátria agora para libertar a outra parte (mais tarde). É isto que o Hamas quer dizer e foi exactamente isto que aconteceu quando a Faixa de Gaza foi libertada ou quando a entidade sionista foi despejada de lá à força. Após a retirada israelita, começámos a construir a nossa infra-estrutura militar e de equipamentos no sentido de prosseguirmos para o estágio da luta para a libertação."
Este funcionário de alto calibre do Hamas merece o reconhecimento pelo mérito de ser transparente sobre os verdadeiros objectivos do Hamas. Também está certo sobre o que aconteceu após a retirada israelita da Faixa de Gaza em 2005. Embora Israel se tenha retirado de todo o enclave costeiro, o Hamas continuou a disparar foguetes contra Israel.
O Hamas e outros palestinos viram a saída israelita como retirada diante do terrorismo. Além disso, viram a atitude israelita como sinal de fraqueza e uma oportunidade de usar a Faixa de Gaza como plataforma de lançamento para "libertar o resto da Palestina" e expulsar os Judeus não só da terra natal dos Judeus como também de toda a região. É exactamente a isto que Qaddoumi se refere quando fala sobre o Hamas caminhar para o "estágio da luta para a libertação".
A exemplo da maioria dos líderes do Hamas, Qaddoumi também salienta que o seu grupo permanece comprometido e leal ao estatuto de 1988, que traça assim a estratégia do grupo: "o Movimento de Resistência Islâmico (Hamas) sustenta que a terra da Palestina é uma Wakf islâmica (legado hereditário) para todas as gerações até ao Dia da Ressurreição, ninguém pode renunciá-la ou a parte dela, ou abandoná-la ou parte dela. Nenhum país árabe nem o agregado de todos os países árabes e nenhum rei ou presidente árabe... tem esse direito." (Artigo 11)
A seguir o que o estatuto diz sobre iniciativas de paz e planos para resolver o conflito árabe-israelita: "as iniciativas de paz, as assim chamadas soluções pacíficas e as conferências internacionais para resolver o problema palestino, são todas contrárias às convicções do Movimento de Resistência Islâmica. Porque renunciar a qualquer parte da Palestina significa renunciar parte da religião... o movimento educa os seus membros a aderirem aos seus princípios e a levantarem a bandeira de Alá sobre a sua pátria ao lutarem a jihad (contra Israel)... Não há solução para o problema palestino excepto a jihad." (Artigo 13)
O Hamas, obviamente, nunca perde a oportunidade de lembrar aos seus seguidores e ao resto do mundo que permanece fiel às palavras do profeta Maomé, que disse: "A hora do julgamento não chegará até que os muçulmanos combatam os Judeus e terminem por matá-los e mesmo que os Judeus se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará: Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venha e mate-o" (Artigo 7)
Enquanto os defensores do Hamas condenam a decisão britânica de rotulá-la de organização terrorista, os líderes do grupo continuam a discutir o seu inabalável compromisso com a destruição de Israel.
Dias após o anúncio da decisão, o líder da liderança do Hamas salientou em declaração publicada a 29 de Novembro de 2021: "a Palestina, toda a Palestina, do Mar Mediterrâneo ao Rio Jordão é para o Povo Palestino e não há lugar ou legitimidade para estranhos em nenhum centímetro dela. A resistência de fora a fora é um direito legítimo garantido por todas as leis internacionais, entre as quais se destaca a resistência armada contra o inimigo sionista que usurpou as nossas terras. Reverter os factos e integrar a ocupação na região não terá sucesso e o inimigo sionista continuará a ser o inimigo nº1 do nosso Povo Palestino e da Nação Islâmica."
Ao mesmo tempo em que os apoiantes do Hamas dizem que a decisão britânica é prejudicial ao processo de paz entre Israel e os Palestinos, os líderes do grupo continuam a debater a melhor forma de impedir qualquer tipo de normalização de relações entre árabes e judeus.
A 2 de Dezembro, Ismail Haniyeh, líder do Hamas, preconizou um "plano abrangente para impedir a normalização" entre Israel e o mundo árabe. "Temos de acabar com a normalização e evitar que este tumor cancerígeno se espalhe pelo corpo da nação islâmica", ressaltou ele. O líder do Hamas, na realidade, está a dizer que o seu grupo, com a ajuda de outros muçulmanos, está determinado a lutar contra os tratados de paz entre Israel e os países árabes.
O Hamas, evidentemente, não mudou nem "moderou" a sua posição em relação a Israel. A realidade é justamente o contrário. Desde que o documento de 2017 foi anunciado por Mashaal, o Hamas disparou milhares de foguetes contra Israel e realizou dezenas de ataques terroristas contra israelitas. As declarações dos líderes do Hamas mostram que eles se vestem muito menos em pele de cordeiro do que muitos dos seus defensores no Ocidente, que afirmam compreender o Hamas melhor do que o próprio Hamas sabe de si.
Os defensores do Hamas, especialmente os que não falam o idioma árabe, devem ficar de olho nas traduções do Árabe para compreender a verdadeira natureza do Hamas e às declarações dos seus líderes. Talvez isso faça com que alguns parem de dourar a pílula do Hamas e fazer mau uso dos factos, principalmente, e ao que tudo indica, por conta do ódio a Israel e da recusa em aceitar a sua presença no Médio Oriente.
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Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém.

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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/18115/hamas-grupo-terrorista