terça-feira, dezembro 07, 2021

IRÃO - EX-CHEFE DA AGÊNCIA NUCLEAR IRANIANA CONFIRMA QUE HOUVE PROGRAMA MILITAR NUCLEAR

No aniversário do assassinato do cientista nuclear Mohsen Fakhrizadeh, e na véspera da retomada das negociações nucleares entre o Irão e o P5 + 1, Fereydoon Abbasi-Davani, ex-chefe da Agência de Energia Atómica do Irão (2011-2013), confirmou que Fakhrizadeh era activo num programa para construir armas nucleares. Esta é a primeira admissão deste tipo de um funcionário do governo na história da República Islâmica.
Há dezoito anos, a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) lançou as suas primeiras investigações sobre o possível programa nuclear do Irão. As dúvidas e perguntas persistiram desde então. A República Islâmica tem afirmado constantemente que o seu programa nuclear é apenas para fins pacíficos, em deferência a uma fatwa do aiatolá Khomeini que proibiu a produção, armazenamento e uso de armas nucleares. É claro que, na tradição xiita, qualquer pessoa cuja “fonte de emulação” escolhida não seja Khamenei não é obrigada a seguir as suas fatwas.
Em 2003, o então chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, visitou a  instalação de enriquecimento nuclear de Natanz para avaliar a situação do programa nuclear iraniano. Encontrou-se então com o presidente Mohammad Khatami e ficou surpreendido com o conhecimento de Khatami sobre os aspectos muito técnicos do enriquecimento de urânio. Isto deixou-o desconfiado: “O presidente Khatami, um clérigo com formação, acabara de se referir a um meio de testar a frio uma centrífuga sem usar material nuclear. O seu ponto é que o Irão não violou nenhum requisito de relatórios nucleares. Mas porque saberia Khatami sobre testes com gás inerte? questionei-me”, escreveu ElBaradei no seu livro Age of Deception: Nuclear Diplomacy in Treacherous Times."
Durante a mesma visita ao Irão, ElBaradei também se encontrou com o antecessor de Khatami, Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, que era então presidente do Conselho Guardião. Nas suas memórias nucleares, ElBaradei escreveu que Hashemi Rafsanjani lhe disse: “Eu vi muitos dos nossos Povos serem mortos com armas químicas durante a guerra Irão-Iraque. Eu não poderia estar a defender o diálogo entre civilizações e ao mesmo tempo a desenvolver armas nucleares”.
Mais tarde, ElBaradei reflectiria: “Várias pessoas me disseram, inclusivamente o presidente Mubarak, do Egipto, que, de acordo com a teologia xiita, às vezes é aceitável enganar pela causa certa. O conceito tem o nome de taqqiya [dissimulação], que significa proteger a si mesmo ou a quem está sob os seus cuidados contra danos. Deixei claro ao nosso homólogo iraniano que, independentemente das origens deste comportamento, as suas negações e encobrimentos em curso feriram profundamente a sua credibilidade perante a comunidade internacional. Desde o início, cavaram um buraco que prejudicaria os seus próprios esforços diplomáticos, ao que chamei começar com um déficit de confiança”.
O cérebro por trás do projecto de armas nucleares
Agora, quase duas décadas depois de ElBaradei ter levantado preocupações sobre um “déficit de confiança”, o ex-chefe da Agência de Energia Atómica Fereydoon Abbasi-Davani tornou-se na última autoridade iraniana a provar que este déficit existe. Abbasi-Davani deu uma entrevista ao jornal estatal Iran, na qual afirmou abertamente que não só é verdade que Mohsen Fakhrizadeh liderou esforços para construir uma arma nuclear, mas também que outros com a mesma “mentalidade e visão de mundo” que ele estavam hoje envolvidos no programa nuclear iraniano.
“Está bastante claro que a nossa restrição sobre as armas nucleares foi baseada na fatwa explícita do exaltado Líder Supremo”, disse Abbasi-Davani. “Mas Fakhrizadeh criou o sistema e o seu motivo não era apenas defender o nosso país - porque o nosso país apoia a Frente de Resistência [anti-Israel]. Quando se se depara com estas questões, os sionistas tornam-se sensíveis. E não foi apenas o Sr. Fakhrizadeh. Existem outros no nível gerencial da nossa organização que possuem as mesmas características."
Fakhrizadeh foi assassinado na tarde de 27 de Novembro numa pequena cidade dos arredores de Teerão. Tinha sido sancionado desde Março de 2007 pela Resolução 1747 do Conselho de Segurança da ONUEm Abril de 2018, depois de agentes da Mossad roubarem um tesouro de documentos de dentro do Irão, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu identificou publicamente Fakhrizadeh como  a figura-chave  do programa nuclear do Irão, Amad: uma operação aparentemente militar que busca a viabilidade de construir uma arma nuclear.
A AIEA tinha aberto um caso sobre as “possíveis dimensões militares ([PMDs)” do programa nuclear do Irão, que incluía dezenas de questionários para cobrir todos os seus aspectos. Por causa do conhecido - embora mal definido - papel de Fakhrizadeh no programa nuclear do Irão, os inspectores da AIEA há muito pediam para entrevistá-lo. Mas as autoridades iranianas nunca permitiram.
O caso PMDs acabou por ser encerrado de forma inconclusiva em 2015, nos últimos dias das negociações do JCPOA. Isto ocorreu em parte devido à pressão do secretário de Estado dos EUA, John Kerry, e do então vice-ministro das Relações Exteriores do Irão, Abbas Araghchi - que havia  consultado o próprio Fakhrizadeh  sobre a questão nuclear.
O Irão quase dominou todos os desafios técnicos
Três anos depois do JCPOA, os documentos roubados foram apresentados por Netanyahu numa tentativa de mostrar ao mundo que a República Islâmica estava, afinal, tentando construir armas nucleares. Alegou-se que uma das razões pelas quais o presidente Donald Trump decidiu retirar os EUA do JCPOA foi o ter-lhe sido mostrado um documento contendo as declarações de Fakhrizadeh sobre a necessidade de fabricar armas.
Alguns dos documentos já foram publicados, no livro de 2021,  Iran's  Perilous Pursuit of Nuclear WeaponsOs inspectores da AIEA detectaram sinais inconfundíveis de que o Irão já tinha dominado quase todos os desafios técnicos da construção de uma arma e precisava apenas de uma fonte confiável de combustível físsil: urânio enriquecido ou plutónio. Não se acredita que tenha atingido a fase de produção. De acordo com este livro e com a investigação PMDs da AIEA, a República Islâmica suspendeu o programa em 2003, pouco antes da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. Se foi retomado ou não mais tarde, nunca se estabeleceu de forma conclusiva.
Na sua entrevista, Abbasi-Davani não apenas confirmou que o motivo de Fakhrizadeh era fazer uma arma nuclear, mas usar a bomba para promover os objectivos de grupos de “resistência”: os da República Islâmica, a Síria de Assad e o Hezbollah libanês. Foi uma revelação chocante.
As negociações para reviver o JCPOA foram retomadas hoje na capital austríaca. Mas estas revelações, do ex-chefe da Agência de Energia Atómica do Irão, nada menos, ressaltam a necessidade de uma supervisão muito mais rígida dos Estados que não se sentem obrigados por convenções internacionais como o Tratado de Não Proliferação. Um destes Estados é o Irão, que não apenas tem um histórico de acobertamentos nucleares, mas considera mentir um dever religioso, se for conveniente.
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Taqiyya como conceito específico com este nome foi desenvolvida durante a época do sexto Imam, Jafar al-Sadiq, em meados do século VIII, quando os xiitas estavam a ser perseguidos pelo califa sunita al-Mansur. A taqiyya permitiu que os xiitas fingissem ser sunitas para se protegerem dos sunitas que estavam a matar os xiitas. Até à conversão da Pérsia ao xiismo, a taqiyya era um elemento importante da sobrevivência xiita, pois os sunitas, em maioria em quase todos os lugares, não raro assumiam a responsabilidade de limpar a terra daqueles a quem chamavam Rafiditas, isto é, rejeitadores - aqueles que rejeitaram os califados de Abu Bakr, Umar e Uthman.
Alguns pensadores xiitas transformaram em virtude o segredo que se tornara numa necessidade. O erudito xiita medieval Ali ibn Musa ibn Tawus, que morreu em 1266, ensinou que Alá havia revelado o xiismo secretamente e que cabia aos crentes praticá-lo em segredo. No final dos dias, Allah admitir-los-á secretamente no Paraíso. Alguns segredos nunca deveriam ser revelados em nenhuma circunstância. O quinto imã, Muhammad al-Baqir, que morreu em 732, certa vez deu um livro a um dos seus discípulos, dizendo-lhe: "Se transmitir algum deles, a minha maldição e a maldição dos meus antepassados ​​cairão sobre si."
O sexto Imam, Jafar Al-Sadiq, que morreu em 765, tinha um servo que era suspeito de ter revelado alguns dos segredos da fé. O Imam ensinou: “Quem quer que propague a nossa tradição é como quem a nega... Esconda a nossa doutrina e não a divulgue. Deus eleva neste mundo aquele que oculta a nossa doutrina e não a divulga e faz dela no outro mundo uma luz entre os seus olhos que o conduzirá ao Paraíso. Deus humilha neste mundo aquele que divulga a nossa tradição e a nossa doutrina e não as esconde, e no outro mundo remove a luz de entre os seus olhos e transforma-a em trevas que o levarão ao inferno. Taqiyya é nossa religião e a religião dos nossos pais; aquele que não tem taqiyya não tem religião”.
Outros imames também enfatizaram a importância fundamental da taqiyya, aparentemente não apenas porque os xiitas estavam sob constante ameaça dos sunitas, mas porque o islamismo xiita continha doutrinas que deveriam permanecer escondidas dos forasteiros. Algumas palavras dos Imams incluem: “Aquele que não tem taqiyya não tem fé”; “Aquele que abandona a taqiyya é como aquele que abandona a oração”; “Aquele que não segue a taqiyya e não nos protege das pessoas comuns ignóbeis não faz parte de nós”; “Nove décimos da fé estão dentro de taqiyya”; “Taqiyya é o escudo do crente (junna), mas para taqiyya, Deus não teria sido adorado.”
Em última análise, a Taqiyya é praticada para proteger o Islão e a comunidade muçulmana. 
No Irão contemporâneo, é usada para tentar evitar um escrutínio mais próximo do programa nuclear do país.

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Fontes:
https://iranwire.com/en/features/10863
https://www.jihadwatch.org/2021/12/irans-former-atomic-energy-agency-top-dog-confirms-islamic-republic-has-active-nuclear-weapons-program?fbclid=IwAR0be2pSmTER_53-k9lS2QQcoRou715-4wcOnvkWDUNPE9KbrPzkWYMdYwU

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Quem diria que o caraças do Trump e dos sionistas islamófobos tinham mais uma vez razão...


3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o nacionalismo do leste é bem menos indigno que esses anglo askenazes que nos impoem trans negras as tulhas

8 de dezembro de 2021 às 23:46:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

esse teu blog é pre historico a gente rola pro final pra ver mais posts e acaba e nao tem virar pagina como outros

8 de dezembro de 2021 às 23:49:00 WET  
Blogger Caturo said...

É fácil. É só clicar na página dos comentários do artigo do fundo da página e depois continuar a andar para trás através dos títulos na coluna da direita.

10 de dezembro de 2021 às 23:08:00 WET  

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