quarta-feira, dezembro 02, 2020

IRMANDADE MUÇULMANA APOIA BIDEN

Será que o novo governo dos Estados Unidos, provavelmente sob o comando de Joe Biden, irá ajudar a ressuscitar a Irmandade Muçulmana, considerada uma organização terrorista pelo Egipto, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Síria? Porquê tanto regozijo da Irmandade Muçulmana em relação à "vitória" de Joe Biden?
Certa parcela da população árabe diz estar preocupada em ver a Irmandade Muçulmana celebrar os resultados da eleição presidencial americana. Eles receiam que a Irmandade Muçulmana, apoiada pelo Catar e pela Turquia, se esteja a preparar para voltar a ficar na crista da onda diante da provável administração Joe Biden.
A mensagem que os Árabes estão a mandar ao novo governo dos EUA é a seguinte: não repita os erros do ex-presidente Barack Obama, cujo governo tomou partido do então presidente egípcio Mohammed Morsi, membro da Irmandade Muçulmana. Os Árabes também querem lembrar à nova administração americana, caso seja confirmada, que os islamistas e seus apoiantes são mentirosos deslavados que só olham para os seus próprios umbigos.
"Activistas da Irmandade Muçulmana e os órgãos de imprensa parecem entusiasmadíssimos com o progresso do candidato democrata Joe Biden nos resultados das eleições americanas", segundo o jornal londrino The Arab Weekly.
"Analistas atribuíram tal entusiasmo ao desejo da Irmandade Muçulmana de revivenciar a era do ex-presidente Barack Obama, na qual desempenharam um papel notável, nadando de braçada nos levantamentos da 'Primavera Árabe'"...
"Activistas pró-Irmandade Muçulmana e profissionais da média do Egipto, Tunísia, Iémen e países do Golfo não disfarçam as suas preces a favor de Biden...
"Desde o início a Irmandade Muçulmana não escondeu o seu forte viés a favor de Biden. Pintaram-no como apoiante do Islão e dos muçulmanos, destacando o facto de que menciona os hádices do Profeta (Maomé)..."
Na semana passada, a Irmandade Muçulmana publicou uma declaração no seu site oficial na qual destacou que "admira o processo eleitoral americano, que resultou na conquista do cargo de Presidente dos Estados Unidos por Joe Biden, vitória esta que prova que o Povo Americano ainda é capaz de impor a sua vontade."
A organização tachada de terroristasalientou, de cara fechada, que "deseja a Joe Biden, ao Povo Americano e aos Povos do mundo todo que continuem a viver com dignidade sob os princípios da liberdade, justiça, democracia e respeito pelos direitos humanos".
A Irmandade Muçulmana pediu a Biden "que revise as políticas de apoio às ditaduras árabes e aos crimes e violações cometidos pelos regimes tirânicos nos quatro cantos da terra."
A declaração causou espécie a um punhado de árabes, muitos dos quais zombaram da conversa da Irmandade Muçulmana sobre "liberdade, justiça, democracia e respeito pelos direitos humanos". O escritor saudita Tariq Al-Homayed observou: "como era de se esperar, a organização Irmandade Muçulmana saiu da toca emitindo um comunicado felicitando Joe Biden, aproveitando o ensejo para pedir que ele aja contra aquelas às quais ela chama ditaduras... Dizemos como era de se esperar, porque a Irmandade Muçulmana, que costumava condenar aqueles que a criticavam como agentes do Ocidente e sionistas, revelaram a sua face e agora pedem que os Estados Unidos intervenham nos nossos países dando ouvidos à sua conversa fiada sobre democracia".
Al-Homayed pondera não ter ficado claro se as ditaduras que a Irmandade Muçulmana se refere incluem o Irão, a Turquia e o Catar. "    Refere-se a Irmandade Muçulmana àquelas ditaduras que querem proteger os países árabes do mal da Irmandade Muçulmana, das suas mentiras e do seu terrorismo?", perguntou.
Al-Homayed destacou que a Irmandade Muçulmana ficou enlutada com a morte de Qassem Soleimani, comandante da Força Quds do Irão, "que lutou contra iraquianos, sírios e libaneses e foi o arquitecto da devastação na região".
Soleimani foi assassinado em ataque cirúrgico de drones americanos em 3 de Janeiro de 2020 em Bagdade. Foi punido com sanções pelas Nações Unidas e também pela União Europeia, além de ter sido classificado como terrorista pelos EUA em 2005.
Ao reagir à declaração da Irmandade Muçulmana, a analista política e escritora egípcia Israa Ahmed Fuad, ressaltou que a organização terrorista "procura inúmeras alternativas para tirar proveito de qualquer vicissitude internacional a fim de se reciclar e aumentar a sua visibilidade depois de o seu projecto de sabotagem na região dar com os burros n'água com o colapso do seu regime no Egipto em 2013"; referência à queda do presidente Mohammed Morsi.
"Há um sem-número de informes que confirmam o apoio da Irmandade Muçulmana a Biden para que a organização tenha condições de driblar as restrições aos movimentos políticos islâmicos", destacou Fuad. "A era Obama foi um período ideal para eles. Agora, esperam que os EUA os retirem da lista das organizações terroristas."
O cientista político marroquino Amin Al-Alawi salientou que a "aclamação de Biden pela Irmandade Muçulmana reflecte a nostalgia da era das revoluções e do apoio dos democratas à Primavera Árabe". A Irmandade Muçulmana, acusa ele, "é parceira das administrações democratas na arruinação da região e sustentação do extremismo. A Irmandade Muçulmana acredita que Biden os conduzirá de volta ao poder (no Egipto), especialmente depois de a presença de quatro anos de (presidente Donald) Trump abortar as suas ambições."
Khaled Salah, redactor-chefe do jornal egípcio Al-Youm Al-Sabi ', ridicularizou as saudações da Irmandade Muçulmana a Biden. Salah salientou que a Irmandade Muçulmana alimenta a esperança de que Biden pressione o Egipto a soltar da prisão os membros do alto escalão da organização terrorista. "A toupeira (Irmandade Muçulmana) está dançando de alegria com a vitória de Biden, como se estivesse a preparar-se para voltar ao poder a mando da Casa Branca", comentou.
Nabil Na'im, ex-membro da Organização Jihad Islâmica Egípcia, disse também acreditar que a Irmandade Muçulmana está a querer "virar a página" no que diz respeito ao novo governo dos EUA. Ao felicitar Biden, Na'im argumenta que a Irmandade Muçulmana espera que o Partido Democrata a adopte, defenda a sua existência e abra caminho para a sua volta à arena política.
Nenhuma administração americana se pode dar ao luxo de fazer pouco caso dos árabes que soam o alarme em relação à cartada da Irmandade Muçulmana de se apresentar como grupo pacífico que quer trazer liberdade e democracia ao mundo árabe.
Os islamistas estão desesperados para retornarem ao poder no Egipto, e é por isso que estão dispostos até mesmo a seduzirem o "Satanás" americano para que possam alcançar esse objectivo. Esses são os mesmos islamistas que condenam os árabes que mantêm qualquer contacto com os Americanos. Neste momento de possível mudança na administração dos Estados Unidos, os árabes que não apoiam a Irmandade Muçulmana, particularmente os que vivem no Egipto e nos países do Golfo, esperam fervorosamente que o alarme no tocante aos islamistas seja ouvido em alto e bom som por Biden e sua equipa.
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Khaled Abu Toameh é um jornalista premiado radicado em Jerusalém, também é Shillman Journalism Fellow no Gatestone Institute.
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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/16768/irmandade-muculmana-saiu-toca