terça-feira, dezembro 01, 2020

SOBRE O DIA DA RESTAURAÇÃO


Na antiga Roma, ancestral parcialmente étnica e civilizacional de Portugal, realizava-se no Primeiro de Dezembro o culto a Pietas, que é, no sentido original do termo, não a compaixão dos cristãos, mas sim o dever pagão para com os Deuses e para com a Estirpe. Um templo de Neptuno foi nesta data restaurado por Augusto. Salácia, Deusa consorte de Neptuno, raiz do topónimo Alcácer do Sal, era também homenageada neste dia. Igualmente homenageada eram Vénus e Cupido, e Vénus é, nos Lusíadas, a Divindade mais favorável aos Portugueses, visto que os considera latinos, isto é, Seus descendentes. Iniciava-se entretanto o mês consagrado a Vesta, Deusa do Fogo Sagrado do Lar e da Pátria.

Por aprazível coincidência,  digo eu, este dia é celebrado em Portugal como Restauração da Independência Nacional. Percebe, quem tiver pelo menos um mínimo de tino patriota, a real dimensão da traição que é a abolição deste feriado - a dimensão simbólica, que é, mesmo que muitas vezes se não saiba, o espelho ideológico da realidade. A propósito disto, é oportuno lembrar que o PCP falou diversas vezes contra a supressão dos feriados, considerada por este partido como um roubo aos trabalhadores, um roubo de tempo de descanso, que é transformado em tempo de trabalho a favor do patronato. Dezassete mil milhões de euros foi quanto os trabalhadores portugueses perderam, diz o «Avante»: http://www.avante.pt/pt/2191/trabalhadores/138060/
Falou bem, nestas ocasiões, a cambada da foice-e-martelo, e agora que está no governo já andou a agitar as águas, juntamente com o BE, pelo retorno dos feriados, mas parece que por burocracias legais a coisa não pôde ser de imediato discutida, e os direitinhas cêdêésses e pêéssedês todos contentes porque coisa e tal o que é preciso é concertação social em vez de tanto «parlamentarismo» (ou seja, entregar a decisão da questão aos tubarões do costume, que não foram eleitos pelo povo), como aqui se pode ler: http://www.tvi24.iol.pt/politica/parlamento/ainda-nao-e-desta-que-a-reposicao-dos-feriados-e-discutida
De notar que a Esquerda parlamentar quis repor os feriados já em 2016, enquanto a «Direita» PSD/CDS o que queria fazer em 2016 era «começar a discutir a questão», com a manha saloia que caracteriza os lacaios do patronato: http://observador.pt/2015/11/16/psd-e-cds-apresentam-projeto-para-repor-quatro-feriados/
Felizmente que nisto a comunagem fez alguma coisa em condições, ao menos serviu para isso...

Restauração é, por motivo óbvio, a palavra do dia. Quem diz Restauração, que nomeia esta data, diz também Renovação. Não é por acaso que o único partido nacionalista português tem na sua designação o termo «Renovador».
Ora o símbolo desta formação política é precisamente a Chama – a Chama que já em Roma simbolizava a vida sagrada da Família e da Nação. Não é de olvidar que vários outros partidos nacionalistas de países latinos têm a Chama como emblema, o que constitui valiosa coincidência, como se fosse alguma espécie de memória étnica inconsciente por Vesta ser latina. No caso português, a coincidência parece dizer mais pelo facto de o Dia da Restauração se celebrar no início do mês consagrado a esta Divindade.
Em Roma, o fogo do templo de Vesta tinha de ser periodicamente reacendido e dele se reacendiam todos os fogos dos lares romanos, talvez para renovar a Estirpe no seu vigor. Renovada, no caso português, em 1640, por meio da Recuperação da sua soberania, feita por uma revolução. Revolução por reacção contra um estado de coisas de todo injusto ou prejudicial à salvaguarda e/ou à dignidade da Estirpe.
Revolução, reacção, como a Reconquista foi - a Reconquista que, de certo modo, está em grande parte na origem de Portugal como Estado.
Já antes disso, Viriato, ancestral da Portugalidade, alcançara a sua glória trágica mas acima de tudo imorredoira ao reagir contra a ocupação romana, resistindo às legiões do Lácio e declarando, segundo fontes clássicas, que «a Pátria está na Liberdade.»
Por coincidência ou não, até no Hino Nacional há versos a evocar um retorno como dever pátrio - «A Portuguesa» manda levantar hoje de novo o esplendor de Portugal, manda também, diz a letra de Henrique Lopes de Mendonça, que «o eco de uma afronta» seja «o sinal de Ressurgir», para que, apesar de tudo, a Terra inteira saiba, pelo Brado Uníssono da Nação, que «Portugal não pereceu».
O determinante é por conseguinte a acção, ou reacção, revoltosa, de quem não se conforma com o rumo que os acontecimentos tomaram por intervenção de uma força aparentemente muito superior, e, presumivelmente, imbatível. Perante um poder avassalador, que os lacaios desse poder queiram dar como «facto consumado e inevitável», pode sempre levantar-se resistência, quanto mais não seja como imperativo ético. Há deveres cujo cumprimento está além do valor do sucesso. Porque a mais elevada virtude de quem luta é a que faz lutar independentemente dos resultados, como bem ensina o indiano Bagavad-Gita, espécie de «manual espiritual» do guerreiro ário. Há combates que devem ser levados a cabo mesmo que não se lhe vislumbre hipótese de vitória - isto não só para quem acredite que há valores superiores ao da vida humana, mas, também, para quem perceba que ninguém sabe, de facto, as reviravoltas que o Destino tem guardadas para o futuro. Os Povos que sobrevivem são os que passam por cima dos fatalismos trágicos, das evidências alegadamente «racionais» que indicam que determinado oponente é invencível, por cima também das fraquezas do próprio povo, e de todas as condicionantes nefastas.

No fundo é simples: ou se quer sobreviver ou não. Os Judeus, mesmo militarmente derrotados, não se deixaram eliminar por Babilónios, Assírios, Romanos, e hoje exercem a sua influência no Ocidente, além de possuírem o mais desenvolvido e poderoso país do médio oriente; os Parses, mesmo tendo de fugir da sua terra natal, que era o Irão, foram para a Índia e aí prosperaram. Antes disso, os seus antepassados Irânicos do século terceiro, saudosos do Império Aqueménida, foram capazes de erguer novo império, o Sassânida. Os Gregos, por sua vez, continuam a falar a sua língua, vinda de há mais de três mil anos, mesmo depois do longo e opressivo domínio turco.

É sempre uma questão de vontade, colectiva. Uma vontade axial e vertical, que não tenha medo de ser desumana, inumana, eventualmente porque, mercê precisamente da sua invariabilidade e carácter condutor trans-temporal, pode ser um reflexo de uma ordem de existência superior à do devir e/ou ao que é humano. Uma vontade que, por mais grandiosamente que se la pinte, ou, contrariamente, por mais que se tente denegri-la, está sempre ao alcance do simples popular que, em dichote famoso, assevera que «antes quebrar que torcer», contra e apesar de tudo, mesmo quando acompanhada pelo terror ou pelo desespero, como o marinheiro que Fernando Pessoa faz enfrentar o Adamastor. Uma vontade fatalista, seja, conquanto cumpra o seu desígnio original, e que, por cima de dores e pavores, ordena fazer das tripas coração ou o que mais for preciso para salvaguardar, ou, em casos mais drásticos, reconquistar, um direito fundamental que se encontre em perigo ou que esteja a ser desrespeitado.
Este direito é o da liberdade que toda a identidade exige. Toda a unidade de existência humana - indivíduo, família, nação, etnia, raça - tem à partida o direito ao respeito, só por existir. Uma das condições essenciais para que esse respeito se verifique é a posse da liberdade. Porque não ser livre é estar sujeito, estar submetido, estar sob o poder de outrem. Como bem dizia Viriato, e há que repetir, a Pátria está na liberdade (declaração que lhe foi atribuída pelo autor clássico Diodoro Sículo). Ao nível individual, cada pessoa tem um corpo e uma mente. A cada corpo corresponde pois uma só mente. A Justiça, como se sabe, mandar dar a cada um aquilo que é seu. Por conseguinte, só pode haver Justiça quando um corpo obedece à mente que lhe corresponde e não a outra qualquer. Se uma mente comanda dois corpos em vez dum, então uma das duas mentes está a ser subjugada.
O que se aplica ao indivíduo aplica-se igualmente às famílias, às Nações e às Raças. No que respeita à Nação em particular, que é neste contexto que se insere a comemoração de hoje, afigura-se cristalinamente evidente não dever nenhum Povo estar sob o poder de outro. É esse o motivo que faz com que todos os impérios constituam, ao fim ao cabo, uma injustiça em forma de poder político. E hoje Portugal está, ainda, no seu devido lugar: é um país livre sem império. Toda a Nação submetida é um Estado soberano abortado ou, na melhor das hipóteses, adiado.

Revoltam-se as entranhas ao imaginar-se que, se não fosse o sucesso da Reposição de 1640, hoje teriam os Portugueses de falar Castelhano como língua oficial, aprendido na escola por sobre a língua nacional. O mesmo devem sentir os Bascos, os Catalães, os Galegos, ainda obrigados a dar primazia, na sua própria terra, à língua de Castela. Ora tudo isto se passa entre irmãos - Galaico-Portugueses, Castelhanos, Catalães, são todos  mui manos entre si, constituindo a família hispânica do grande clã europeu. E, se entre parentes próximos é assim, o que não será entre Povos sem nenhuma afinidade étnica ou racial entre si, inteiramente alienígenas, independentemente dos contactos que tenham tido no passado. É neste sentido que, pior do que falar-se Castelhano por imposição, seria a eventualidade de que em Portugal o Português viesse a ser sobrepujado pelo crioulo cabo-verdiano, ou por algum novo crioulo nascido em virtude da maciça presença de angolanos em solo português. Se o Castelhano se impôs pela via da força militar, ou dos compromissos dinásticos (ainda bem que a monarquia ficou para trás, em Portugal...), o Crioulo ou similares linguajares impor-se-ão pelo número que os ventres das mulheres negras conseguirem produzir em território luso. É por isso que urge combater e defenestrar os novos Miguéis de Vasconcelos, aqueles que colaboram com a iminvasão. E, ao mesmo tempo, preparar-se uma longa guerra política, forjando prontidão para marchar nem que seja contra os canhões, pois que também os portugueses do século XVII o fizeram, suportando e vencendo uma conflito que durou vinte e oito anos, marcado pelos grandes êxitos militares lusos do Montijo, de Ameixial, de Castelo Rodrigo e de Montes Claros, batalhas homenageadas pelo monumento da Praça dos Restauradores.
A celebração da Restauração da Independência Nacional é uma homenagem à vontade orgulhosa de uma Nação e um monumento à memória do combate por tudo aquilo que, aparentemente moribundo ou mesmo desaparecido, foi contudo recuperado – porque nem tudo o que se perdeu está perdido para sempre. A continuidade seja de que instituição for - de uma soberania, de uma religião - não é condição sine qua non para que exista em diferentes épocas. Quer isto dizer que, em havendo vontade, tudo o que foi interrompido pode ser com sucesso restaurado, assim haja vigor de alma, um vigor reacendido pela voz dos egrégios avós, ouvida entre as brumas da memória e pulsando nas veias dos de boa cepa. Fala-se de um princípio que pode conhecer diferentes versões consoante as épocas em que seja defendido, com variação de limites históricos e territoriais.
O mundo não é hoje como era há quinhentos ou seiscentos anos, mas o princípio de que se fala permanece precisamente o mesmo.
No dia 1 de Dezembro de 1640, um grupo de quarenta nobres conjurados, obedecendo a um plano preciso, engendrado na sequência de várias revoltas menores que eclodiam por todo o País, e na esteira do sentido independentista que crescia entre os Portugueses, venceu os guardas castelhanos do Terreiro do Paço e defenestrou Miguel de Vasconcellos, secretário da Duquesa de Mântua, vice-rainha de Portugal. A defenestração foi o sinal que o Povo, reunido no Terreiro do Paço, aguardava, para saber se a Revolução tinha sido bem sucedida ou não.

Castela não aceitou esta rebelião, pelo que os Portugueses tiveram de enfrentar cerca de vinte anos de guerra, a qual se marcou por episódios militares decisivos, tais como a Batalha do Montijo (1644), a Batalha das Linhas de Elvas (1659), a Batalha do Ameixial (1663), a Batalha de Castelo Rodrigo (1664) e a Batalha de Montes Claros (1665).
Também em 1640 tinha estalado uma revolta na Catalunha, a qual consumiu boa parte dos esforços do aparelho militar castelhano. É pois plausível dizer-se que a independência de Portugal teria sido ainda mais árdua de conquistar se a Espanha não tivesse no seu seio outra nação a querer alcançar a soberania, isto é, a libertação relativamente ao poder de Castela.
Urge por isso unir os Nacionalistas de toda a Europa, numa só frente contra os inimigos de todas as Nações - combater pelas Identidades e, a médio e longo prazo, pela Restauração da Verdadeira Europa, a única Europa digna de tal nome: a Europa das Estirpes Europeias, integralmente europeia, do Sangue à Religião étnica.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Viva Portugal viva a Europa
infelizmente cada vez mais estamos sob ocupação não europeia

1 de dezembro de 2020 às 20:31:00 WET  

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