terça-feira, julho 23, 2019

PATRIMÓNIO MEGALÍTICO DE BELAS AO ABANDONO E A SER DESTRUÍDO


Um trabalhador da autarquia destruiu uma galeria funerária e nas obras da AE 16 as explosões deitaram abaixo uma anta. A água que se acumula na CREL desagua em cima de um obelisco classificado.
Alguns monumentos megalíticos existentes na freguesia de Belas, concelho de Sintra, estão a ser destruídos por incúria. No mês passado, uma galeria funerária foi desmantelada para uma obra de construção civil. Um ano e meio antes foi destruída uma anta em consequência de diversas explosões ocorridas aquando da construção de um nó rodoviário. E também há um obelisco, este erguido já no século XIX, para cima do qual escorrem todas as águas pluviais de um viaduto da Circular Regional Exterior de Lisboa (CREL), Uma deficiente leitura de um mapa levou os técnicos a confundirem o monumento com um poço natural.
Em Abril passado, responsáveis da associação "Verde Foi o Meu Nascimento", um organismo sem fins lucrativos localizado em Belas e que se dedica à promoção lúdica e cultural daquela zona, denunciaram à junta de freguesia a destruição da galeria funerária do Pego Longo. "A galeria, classificada como imóvel de interesse público desde 1990, tinha cerca de dois metros e meio de comprimento e foi destruída por maquinaria de um empreiteiro contratado pela Câmara de Sintra. Retiraram as lajes que se encontravam soltas e também as que constituíam as paredes interiores", disse ao PÚBLICO um dos fundadores da associação, Filipe Borregana. As lajes retiradas do local destinavam-se a ser utilizadas na construção de um muro para sustentação de terras junto à Biblioteca Municipal Rui Belo, no Pendão, Queluz.
"Em parte, a destruição desta galeria foi culpa nossa [da associação] porque limpámos a zona, coberta de ervas e mato, possibilitando que as lajes ficassem expostas e assim fossem vistas pelo operário que as utilizou na construção do muro", adiantou o mesmo responsável. Filipe Borregana diz, no entanto, que há outros exemplos do que considera ser uma "enorme incúria" na protecção do património megalítico de Belas. Há cerca de um ano e meio, aquando da construção do nó rodoviário que liga a A16 à CREL, foram utilizadas cargas explosivas. Os rebentamentos terão sido responsáveis pela quebra das enormes lajes que constituíam a chamada Pedra dos Mouros ou Pedra Alta. "Até seria possível proceder à recuperação das pedras, mas a verdade é que ninguém faz nada", acrescentou.
Abandono e lixo
Os exemplos de abandono do património são vários. Filipe Borregana diz que junto a alguns dos monumentos da freguesia se acumula lixo e até peças de automóveis que, supostamente, terão sido furtados e depois desmantelados. Um cenário que se repete por cima do túnel de Carenque, da CREL. "As pegadas dos dinossauros [de Pego Longo] foram cobertas de modo a poderem ficar preservadas, mas, à superfície, só existe lixo que ninguém remove".
O exemplo que este dirigente associativo considera mais caricato arrasta-se há vários anos, mas não tem nada a ver com o período megalítico. Diz respeito ao obelisco erguido no século XIX, em homenagem a D. João VI, na Quinta do Marquês - também chamada do Senhor da Serra -, e classificado como imóvel de interesse público. O viaduto da CREL, situado à entrada de Belas, foi construído por cima do monumento e no projecto havia, no lugar da edificação, um pequeno círculo que pretendia sinalizar um vestígio. Os técnicos responsáveis pela obra entenderam, no entanto, que esse círculo simbolizava o local onde deveriam cair as águas pluviais que tinham de escorrer do viaduto. E vai daí o obelisco tem vindo a levar com descargas directas de água sempre que chove, acentuando-se a sua degradação, bem como a dos terrenos em seu redor.
O PÚBLICO contactou o presidente da Junta de Freguesia de Belas, Guilherme Dias, que confirmou os factos relatados pelo dirigente da associação. "Isto é uma vergonha! Um país da treta! A responsabilidade tem de ser dividida entre a Câmara de Sintra e a Direcção-Geral dos Monumentos, mas, quando os contactamos, cada um sacode a água do capote e ninguém responde a nada", afirmou o autarca socialista. E acrescentou: "No caso da galeria do Pego Longo, por exemplo, a junta de freguesia foi avisada pelos moradores da zona. Descobrimos que a galeria foi destruída por gente da câmara, que, por sua vez, nada nos disse".
Uma fonte da Câmara de Sintra explicou que a galeria funerária foi desmantelada "por exclusiva falta de informação do trabalhador da câmara", que desconhecia tratar-se de um monumento classificado. O terreno em causa é privado e não existia qualquer identificação da galeria. Apesar de ter sido aberto um inquérito, o funcionário "foi advertido" e as pedras voltaram a ser colocadas no seu local original. 
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Fonte: https://www.publico.pt/2012/05/26/jornal/monumentos-megaliticos-de-belas-estao-abandonados-e-a-ser-destruidos-24608066?fbclid=IwAR0Qf0KTJXSb4slvm8vhkIV_Y4xlOeVXgTS7R-0cdcuU6I35FS6QRRK3IHg