terça-feira, junho 18, 2019

SOBRE A VIOLAÇÃO QUE A TURQUIA ESTÁ A COMETER CONTRA CHIPRE

A mais recente provocação da Turquia contra a República de Chipre, a prospecção de gás na Zona Económica Exclusiva de Chipre (ZEE) no Mediterrâneo Oriental, está dando margem a duras reacções da comunidade internacional.
Ao comparar a ingerência da Turquia a "uma segunda invasão", o presidente cipriota Nicos Anastasiades disse que a acção constitui uma "violação do direito internacional", o Ministério das Relações Exteriores apresentou um mapa delineando as fronteiras da ZEE com a Turquia às Nações Unidas. Além disso, o Ministro das Relações Exteriores de Chipre, Nicos Christodoulides salientou que o seu governo está-se a empenhar em conseguir um mandado de captura internacional contra a tripulação do "Fatih" a embarcação de prospecção despachada por Ancara para as águas cipriotas.
A Alta Representante e Vice-Presidente da UE, Federica Mogherini, de imediato emitiu um comunicado "apelando com a máxima urgência à Turquia para que aja com contenção, respeite os direitos soberanos de Chipre na sua zona económica exclusiva e se abstenha de qualquer acção ilegal à qual a União Europeia responderá de forma adequada e em plena solidariedade para com Chipre".
O Departamento de Estado dos EUA também exortou a Turquia a suspender a prospecção.
O Ministério das Relações Exteriores da Turquia não deixou por menos, respondendo com um comunicado próprio:
"os esforços de terceiros no sentido de actuarem como um tribunal internacional para delinear as fronteiras marítimas é inaceitável. Neste contexto, a declaração dos EUA chamando a atenção da Turquia para dizer que 'existem reivindicações greco/cipriotas na região' não é construtiva nem compatível com o direito internacional, dado o facto de que não há um acordo válido de delimitação marítima na região."
Numa entrevista recente ao Gatestone Institute, Harris Samaras, especialista na ZEE de Chipre e presidente do banco internacional de investimento Pytheas, explicou: "Embora a Turquia esteja violando a soberania de Chipre desde 1974, a actual situação política e económica interna da Turquia, altamente volátil, fez com que o governo turco se tornasse ainda mais agressivo no Mediterrâneo Oriental. O presidente Recep Tayyip Erdogan e o partido governista da sigla AKP têm que livrar a cara sustentando o dogma do supra-nacionalismo que concedeu poder a ele e ao seu partido."
"Outro factor que precipitou a acção da Turquia foi a confirmação da existência de hidrocarbonetos de valor comercial na ZEE de Chipre e o anunciado interesse de conglomerados de petróleo e gás, como a ExxonMobil, a ENI e a Total, a continuarem as suas actividades. No ano passado, a ENI foi obstruída a continuar com as operações por canhoneiras da Turquia. A ExxonMobil não. Porquê? Porque a ExxonMobil estava acompanhada pela Marinha dos EUA, de modo que a Turquia ficou de mãos atadas."
"Enquanto isso, as descobertas de gás natural pela ExxonMobil demonstraram que Chipre poderia eventualmente montar uma fábrica de liquefação para armazenar as reservas regionais cipriotas. Isto transformaria Chipre quase que automaticamente num centro regional de hidrocarbonetos e ao mesmo tempo reduziria a importância energética, os planos e os investimentos da Turquia."
"Politicamente, Israel é a maior ameaça regional aos interesses da Turquia. O elo energético mais robusto para Israel é Chipre, um Estado Membro, democrático, da UE. Portanto, para que os planos de Erdogan possam avançar, é preciso eliminar Chipre. Além disso, o Egipto é uma força regional significativa que conta dos campos de gás natural de Zhor no seu arsenal. A despeito das diferenças do passado, houve uma melhora no relacionamento entre israelitas e egípcios."
Erdogan está ciente de que será impossível para a Turquia alcançar os seus objectivos de hegemonia regional se os interesses dos EUA, em particular, mas também os dos Franceses, forem os de implementar uma cabeça-de-ponte sólida em Chipre. Este é o seu maior temor.
"Fora isso, o relacionamento da Turquia com a Rússia fortaleceu-se nos últimos anos. Se a Turquia acabar por instalar os S-400 russos, Erdogan sabe muito bem que o seu raio de acção e a sua influência geopolítica serão limitados das mais diferentes maneiras, visto que entrarão em conflito directo com os interesses dos EUA e de Israel. 'Neutralizar' Chipre, o elo mais fraco da equação, em muitos aspectos, desarma a eficácia geopolítica regional de Israel."
"De modo que o East Med Pipeline, inaugurado com a bênção dos EUA, é da maior importância. Na última reunião trilateral entre Israel, Chipre e Grécia, encontrava-se o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que apoiou o projecto. Se for adiante, será uma bofetada nos planos energéticos da Turquia."
Theodoros Tsakiris, professor assistente de política energética e geopolítica na Universidade de Nicósia, ressaltou ao Gatestone Institute: "A Turquia começou a visar a ZEE de Chipre em 2011, quando assinou um acordo de demarcação da sua plataforma continental com a área ocupada de Chipre pela Turquia, que apenas e tão somente ela própria reconhece como Estado independente, a assim chamada 'República Turca de Chipre do Norte' (RTCN). As operações turcas na ZEE de Chipre são ilegais, os navios turcos também estão a causar sérias dificuldades às empresas cipriotas e internacionais que operam na região. Em Fevereiro de 2018, por exemplo, a marinha turca bloqueou a prospecção da empresa petrolífera italiana ENI dentro da ZEE cipriota demarcada. Concomitantemente, mais navios de prospecção turcos podem estar a caminho."
"É necessário que sejam tomadas medidas concretas para impedir que a Turquia continue com as violações à ZEE de Chipre. Sanções deveriam ser impostas na esfera da Comissão Europeia às pessoas e empresas responsáveis pela prospecção. Todos os fundos a título de pré-adesão à Turquia deveriam ser bloqueados e o acesso turco a empréstimos do Banco Europeu de Investimento deveriam ser eliminados. Outras opções poderiam ser empregadas caso a Turquia agrave ainda mais a situação, como a imposição de sanções ao sector bancário da Turquia e o congelamento total do processo de acessão. Também é necessário que os Estados Unidos suspendam o embargo irracional de armas à República de Chipre imposto em 1987 e a ajude a rearmar-se e modernizar a sua capacidade de defesa, mantendo simultaneamente a missão de paz da ONU (UNFICYP) intacta."
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Uzay Bulut, jornalista da Turquia, Ilustre Colaboradora Sénior do Instituto Gatestone.
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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/14388/turquia-prospeccao-ilegal