NA GRÉCIA - IGREJA ORTODOXA AMEAÇA SOCIEDADE LAICA COM REBELIÃO
"A Grécia trocou o Cristianismo ortodoxo por dinheiro!", eis o lema ouvido há semanas não apenas no país, mas fora também. O mundo ortodoxo está seriamente preocupado com a lei, aprovada pelo governo da Grécia, que permite aos cidadãos maiores de 15 anos mudar de sexo.
Os moradores do país ortodoxo estão se preparando para o pior, acusando o primeiro-ministro Alexis Tsipras de favorecer Berlim e Bruxelas.
Neste artigo, a Sputnik explicará porque é que a lei adoptada é capaz de provocar uma catástrofe para as autoridades gregas e como o escândalo bate em todas as portas da Europa cristã.
"Igreja é mais forte do que o governo"
Uma moradora de Atenas, Aleksandra, recorda que, quando adolescente, ouviu em uma igreja as palavras de um sacerdote sobre gays "criarem outros gays", que a propagação da homossexualidade fará com que o país fique "extremamente vulnerável a possíveis ataques da Turquia".
"Mas agora sou lésbica que passei pela cirurgia de mudança de sexo e sinto-me livre e orgulhosa. A Igreja pode encarar as coisas à sua maneira, mas as suas perspectivas não devem afectar os direitos humanos fundamentais na Europa unida", afirmou ela.
Contudo, a maior parte dos conterrâneos de Aleksandra não compartilha dessa opinião. Muitos gregos apoiam a Igreja, que conta com uma autoridade gritante no país. Na constituição, o Cristianismo Ortodoxo é "a religião dominante na Grécia"; mais de 90% dos cidadãos dizem-se ortodoxos.
A Igreja da Grécia, uma igreja autocéfala sediada em Atenas, é praticamente uma instituição estatal já que o seu clero recebe dinheiro público.
Porém, apesar de tudo, a lei foi aprovada, com uma preponderância mínima de votos. A discussão em torno do documento envolve até mesmo pessoas mais influentes do país. Assim, respondendo à observação de um parlamentar grego de que a Igreja "opõe-se demasiado", o patriarca Jerónimo II de Atenas apelou para que a política e a religião não se separem: "Você pergunta qual é o papel da Igreja não apenas na Europa, mas em todo o mundo? Eu respondo: a nossa Igreja pode oferecer mais do que todas as embaixadas da Grécia", replicou o patriarca ao seu oponente.
É facto, o poder da igreja ortodoxa grega é colossal. Une milhões de gregos dentro e fora do país. O clero grego até tem acesso à Casa Branca. Graças a essa instituição religiosa, Alexis Tsipras reforçou relações amistosas com o mundo islâmico, iniciadas com um projecto de restauração da capela que guarda o túmulo de Jesus, tendo a Jordânia como país financiador da iniciativa.
"Mancha negra" para o primeiro-ministro
Há muito tempo, o clero grego deu a Tsipras uma "mancha negra". Em 2015, Grécia tornou-se no primeiro país ortodoxo a legalizar casamentos homossexuais, fazendo com que bispos influentes quase que unanimemente amaldiçoassem o primeiro-ministro, desejando-lhe que "ardesse no inferno".
Em resposta, a autoridade política do país não hesitou em declarar publicamente que não acredita em Deus. Agora o assunto em questão trata-se do destino do primeiro-ministro, mas ele continua firme e forte no seu cargo.
"Eu peço aos políticos que votaram a favor da aprovação da lei para parar de frequentar igrejas, bem como de nos mentir em busca de votos nas eleições. Para que precisamos deles?", ressaltou um metropolita grego.
Monges de Atos agem contra Tsipras ainda mais radicalmente. O Monte Atos constitui praticamente um governo dentro do governo, e os seus "cidadãos" contam com uma grande autoridade na vida social do país. Os monges de Atos viajam por toda a Grécia pregando ensinamentos, aparecem na televisão e até têm os seus próprios programas de discussão. Até mesmo integrantes do partido Gregos Independentes, que apoia o de Tsipras SYRIZA, juntaram-se aos monges de Atos.
"Na nossa Pátria ortodoxa a vontade de Deus está legalmente e abertamente desafiada", monges de Atos profetizaram "catástrofe" na Grécia.
Outros monges da Grécia referem-se a políticos gregos como Judas, por terem usado a lei para conseguir dinheiro da União Europeia. E afirmam que vão "defender até ao fim" a regra antiga: só podem entrar homens no Monte Atos.
Porém, oficialmente, a Igreja da Grécia age em conformidade com as tradições da diplomacia bizantina: um dia reclama contra as acções de Tsipras, mas noutro deseja-lhe "grandes êxitos na política externa". Este tipo de comportamento irrita os monges de Atos, bem como os simples fiéis. Alguns especialistas até apontam para a probabilidade de grande divisão de igrejas.
Démarche de milhões
Vale recordar que, em 2016, os monges de Atos permitiram que o presidente russo, Vladimir Putin, entrasse no Monte Atos, mas proibiram Tsipras de fazer o mesmo. Os ortodoxos da Grécia acreditam que o líder russo transparece "valores tradicionais", já o primeiro-ministro grego é "político morto" para eles.
"O facto de ele [Putin] ter recebido permissão para entrar no Monte Atos demonstra admiração e reconhecimento pelo trabalho do governo russo. Não deixaram Tsipras entrar e tal decisão é bastante lógica. Antes de permitir que alguém entre na região, os seus moradores analisam a actividade política do interessado. Tsipras é um político esquerdista, que valoriza mais as considerações seculares do que as religiosas, sendo isso suficiente para que a sua entrada no Monte Atos seja proibida", frisa Arkady Maler, especialista russo em política e filosofia.
De acordo com o especialista russo, é importante destacar a posição da Igreja russa, que tem fortalecido a sua influência no mundo ortodoxo. Há muito tempo que o seguimento religioso ortodoxo russo defende valores tradicionais. Foi a Igreja russa que avisou a Grécia e toda a Europa sobre a possibilidade de rebelião dos discípulos de Cristo.
De acordo com o chefe do Departamento de Relações Exteriores da Igreja do Patriarcado de Moscovo, metropolita Ilarion Volokamsky, actualmente na Grécia é percebida a situação "em que as autoridades legalizam acções contra a doutrina ortodoxa, impulsionando, assim, organização de rebelião civil pela Igreja".
Tudo indica que todas as opções estão a ser analisadas pela Igreja da Grécia. No país, abalado por problemas económicos, isto pode resultar em protesto maciço.
"A Igreja já por várias vezes entrou em confronto com o governo de Tsipras, quando as autoridades cortaram drasticamente o financiamento da Igreja durante a crise. Mas isto não resultou em 'queda' do primeiro-ministro. Neste caso, a situação é diferente, já que o senso moral está envolvido, que contradiz dogmas ortodoxos, destruindo a identidade cristã da Grécia", acredita Roman Lukin, especialista russo em política e professor do Instituto da Europa.
O clero ortodoxo já fez a sua "démarche política marcante" ao soar os sinos por todo o país como forma de protesto e por vários dias. Além disso, acrescenta Lukin, na Grécia há movimentos sociais ortodoxos que "desempenham um papel determinante na vida política e social na defesa das tradições conservadoras".
Enfim, a maioria ortodoxa envia a Bruxelas e Berlim um sinal claro: caso a União Europeia bata na face direita dos ortodoxos, o outro lado não será oferecido. Ao invés de submissão, há muitas chances de a Igreja não se calar.
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Fonte: https://br.sputniknews.com/europa/201711089788360-grecia-igreja-ortodoxa-rebeliao/
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Para além do velho escarcéu catastrofista com que os auto-proclamados directores de consciência do povo anunciam as mudanças que lhes afectam o domínio espiritual sobre aquilo que davam por certo como sendo seu, ressalta aqui o arrogante à vontade com que afrontam o poder político democrático... o que esta gente ainda faz, embora cada vez menos, na Grécia, era o que queria poder fazer em toda a Europa... Europa esta que, ao seguir cada vez mais o génio que lhe é próprio, o da Liberdade, escapa por isso mesmo, cada vez mais, aos pretensos donos da verdade que se basearam num credo alógeno totalitário para durante quase dois milénios imporem os seus valores aos Europeus...
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