PAN ALERTA PARA AUMENTO DA CRUELDADE NA TOURADA EM PORTUGAL
Apesar do cancelamento dos "toiros de fogo" em Benavente por fundada ilegalidade e da manifestação de preocupação de muitas entidades e cidadãos junto das autoridades policiais sobre o elevado risco do evento poder ocorrer à margem da lei, o violento espectáculo parece que se realizou, parcialmente ou não. Os "toiros de fogo" são uma deprimente tradição importada de uma das últimas localidades medievais de Espanha em que se prendem bolas de tecido ou de alcatrão ou pez às hastes dos animais, que depois são incendiadas, ficando com os cornos a arder durante o período habitual de uma hora.
O sofrimento físico que os touros experienciam quando os seus cornos ficam a arder é intenso. Para além dos cornos dos touros serem sensíveis, os touros acabam por ficar com o focinho, boca e língua gravemente queimados, ou mesmo com lesões nos olhos de gravidade variável. Não obstante o sofrimento emocional que resulta de serem obrigados a estas circunstâncias.
A lei 92/95 proíbe todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos em que, sem necessidade, se inflige a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal. E se é verdade que nesta mesma lei o legislador institucionaliza os maus tratos a animais ao excepcionar as corridas de touros porque entende que o direito cultural de nos divertirmos de forma alarve se sobrepõe ao direito do touro a não sofrer, o mesmo já não se aplica a outras práticas insólitas como esta de pegar fogo a animais.
E é perturbador quando o próprio autarca de Benavente vem minimizar publicamente a indignação que sente o "cidadão comum deste país que não está familiarizado com a nossa forma de estar e de ser" pois cria uma barreira clara ao excluir e criticar a esmagadora maioria da população portuguesa que rejeita a utilização do sofrimento e da morte de animais para nosso entretenimento. Mas, e a tradição? Todas as tradições devem ser colocadas em crise quando atentam contra a integridade de terceiros. Por todo o mundo as tradições tóxicas vão caindo. A escravatura era uma tradição e caiu.
Mas porque é que de repente começaram a proliferar eventos como este dos "toiros de fogo" e outras "brincadeiras" com touros?
Ano após ano, as touradas atingem mínimos históricos de corridas e de público no nosso país. Desde 2010 as touradas já perderam mais de 53% do seu público. A tauromaquia tem um peso cada vez mais insignificante em Portugal, não obstante todo investimento em marketing para transformar a sua imagem associada à brutalidade e decadência. A indústria tauromáquica está desesperada porque as praças de touros estão cada vez mais vazias e têm que dar respostas inventivas para continuar o negócio das castas das ganadarias, dos matadores e das empresas de eventos taurinos.
O caso de Benavente, felizmente mediatizado, está longe de ser único. Como as corridas vão perdendo público, esta indústria tem vindo, nos últimos dois anos, a operar cada vez mais na ilegalidade e a inventar novas formas de atrair pessoas, com eventos que envolvem sempre e mais violência, a marca distintiva deste sector. A Plataforma Basta estima que todos os anos se realizem mais de 150 eventos tauromáquicos ilegais - não licenciados pela IGAC - encapotados por designações imaginativas como demonstrações de toureio, festas camperas, aulas práticas de toureio, garraiadas, carnavais taurinos, convívios taurinos, entre outras. Estes eventos não obedecem às normas impostas pela legislação em matéria de condições de segurança e assistência médica nem às normas de bem-estar animal e decorrem sem que ninguém se responsabilize pelos acidentes ocorridos. Em muitos deles actuam crianças que frequentam "escolas de toureio" fortemente financiadas por dinheiro público através dos autarcas, como é o caso de Vila Franca de Xira, Moita ou Montijo.
Estagnados no tempo, tentam fazer-nos acreditar que a cultura taurina assenta nas raízes tradicionais dos afectos. Mas todos sabemos que o mundo da tauromaquia é um lodaçal imenso, para quem rasgar carne com bandarilhas e ver cuspir sangue já não é bastante, agora também querem que a cultura portuguesa evolua a incendiar touros.
A indústria tauromáquica enfrenta um problema muito grave: nada do que faça lhe aumenta os públicos e a influência. Se põe a máquina do marketing a funcionar, investem muito dinheiro e não tem retorno porque as pessoas continuam a não aparecer. Se faz ilegalmente, pela calada, continua a ter uma rejeição nacional massiva contra a violência e a brutalidade. E é esta união colectiva por uma evolução civilizacional holística e pacifista que justifica a existência de um PAN no espectro político.
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Fonte: http://www.sabado.pt/opiniao/detalhe/tauromaquia-uma-industria-cada-vez-mais-violenta-e-a-margem-da-lei
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Cada toiro que morra ainda de forma cruel para satisfação do maralhal tauromáquico é mais uma nódoa na dignidade da sociedade portuguesa. Quanto mais rápida e duramente se combater a tourada, mais se poderá de defender o bem-estar de animais que não fizeram mal a alarve nenhum de maneira a merecerem tão repulsivo fim.
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