quarta-feira, março 22, 2017

O PROTESTO DO PNR DIANTE DA FCSH

Umas grandoladas contra o Hino Nacional ou "A Portuguesa" contra a mítica canção de Zeca Afonso, conforme a sequência dos cânticos entoados por alunos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa e manifestantes do Partido Nacional Renovador (PNR), que na terça-feira se concentraram na Avenida de Berna, em Lisboa, frente aquela faculdade.
Assim se pode resumir a banda sonora de uma tarde/noite em que algumas palavras de ordem perderam qualquer conteúdo político e se limitaram a disparar palavrões, se-tu-dizes-um-eu-respondo-ao-quadrado-ou-ao-cubo, e a liberdade de expressão, e desta vez também de reunião e de manifestação, voltou a assombrar a FCSH.
A iniciativa do PNR estava anunciada há duas semanas (para protestar contra a decisão da direção da FCSH que adiara uma conferência de Jaime Nogueira Pinto) e foi autorizada pela polícia.
Mas um pouco antes da hora anunciada para o início do protesto (marcado em defesa da "liberdade de pensamento, opinião e expressão" e contra o "marxismo cultural" que no entender do PNR vigora na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas), largas de dezenas de alunos da faculdade saíram do seu interior e colocaram-se entre os manifestantes e o portão da escola.
Primeiro, os estudantes ocuparam apenas a zona do passeio e a faixa de rodagem contígua (corredor a que estava confinado pela polícia o grupo do PNR). Nessa altura, os alunos e ex-alunos da faculdade seriam em número três ou quatro vezes superior ao dos manifestantes. Depois, a massa de gente saída da faculdade foi alastrando a outras faixas de rodagem da Avenida de Berna, obrigando mesmo ao corte do trânsito no sentido da 5 de Outubro para a Praça de Espanha durante mais de meia hora.
Assim, quando se preparavam para iniciar o protesto, as cerca de duas dezenas e meia a três dezenas de elementos do PNR tinham já à sua frente uma força de bloqueio. O número máximo de estudantes terá atingido, numa estimativa feita pelo Expresso, mais de três centenas. Ou seja, para cada manifestante do PNR havia cerca de 10 contra-manifestantes. Por esta razão, algumas das curtas intervenções (parte delas meros chistes e provocações) dos nacionais-renovadores eram, apesar do microfone e da pequena aparelhagem, completamente abafadas pelos gritos e palavras de ordem dos alunos.
HINO NACIONAL CORTADO POR GRITOS DE "FASCISTAS"
Eram cerca de seis da tarde quando a tensão entre os dois grupos – cujas filas da frente estiveram durante algum tempo (antes de as coisas aquecerem) apenas separadas por um ou dois metros, e sem um cordão policial a toda a largura – atingiu o ponto mais crítico.
Por essa altura já havia cerca de um quarto de hora de troca de galhardetes. "Guardem a droga que está chegar a polícia!", disse o vice-presidente do PNR João Pais do Amaral. Antes, abrira as hostilidades: "A partir de agora já podem começar a insultar".
Alguns estudantes morderam o isco. Uma jovem gritou: "Fachos de merda, racistas de merda!". O speaker do PNR riu-se na cara dela e afirmou: "Tens de gritar mais alto", tendo, ato contínuo, estendido o microfone à interlocutora. Esta caiu no engodo: "Vão para casa. Racistas! Colonialistas de merda!".
Pouco depois, outro dos manifestantes envolve-se em picardias com o grupo dos estudantes. No que pareceu de início algo causal mas depois se tornou ostensivo, o elemento do PNR deixou à mostra no antebraço interior a tatuagem de uma cruz suástica, pois tinha as mangas arregaçadas.
Com o crescimento da tensão, a polícia – que chegou a ter no local cerca de três dezenas de efectivos, entre os quais elementos da Equipa de Prevenção e Resposta Imediata e das Brigadas de Intervenção Rápida – foi aumentando o contingente entre os dois grupos, para dissuadir qualquer contacto.
Numa espécie de desgarrada anárquica, os estudantes vão repetindo as principais estrofes de "Grândola Vila Morena". Os elementos do PNR respondem com o Hino Nacional. Muitos dos jovens interrompem-nos aos gritos de "fascistas, fascistas". Os militantes e simpatizantes do partido nacionalista e de Extrema-Direita ripostam, dando um "Viva Portugal". Os alunos não encaixam e respondem "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais" (antes fora o PNR a insurgir-se "contra o fascismo de Esquerda").
E assim andaram os jogos florais desta tarde/noite de terça-feira: Grândola e Hino Nacional em campos opostos, hossanas a Portugal e o elogio do 25 de Abril em diferentes trincheiras, como se fossem fortes antagonismos. De permeio, certos apartes brejeiros, algumas palavras de ordem marialvas, fascistas para cá e para lá (pois cada um atribuía ao outro essa condição), desafios para duelos "lá fora" feitos na barba da polícia, acertos de contas que nunca se deram pois tudo ficou pela garganta e pelas meias-tintas.
Um dos elementos mais interventivo do grupo dos estudantes (que se assumiu como ex-estudante de Sociologia da FCSH) disse a dada altura, quando questionado por um jornalista, que estava "no meio de uma manifestação espontânea". A tese da casualidade é que não convenceu a polícia, que acabou por identificar um dos elementos do que considerou ser uma "contra-manifestação".
O MOMENTO DO RASTILHO
Foram duas horas e meia de tensão, mas sempre com a polícia a controlar a situação. Só num momento as coisas pareceram precipitar-se, o que levou á pronta intervenção dos agentes da PSP.
Quase do nada, o presidente do PNR José Pinto Coelho fez um gesto brusco, tirando o cinto das calças e parecendo querer investir contra alguém. Foi prontamente manietado pela polícia. O líder do PNR explicaria pouco depois que fez tal gesto em legítima defesa: "Foi para me defender, pois começaram a arremessar objectos", disse aos jornalistas.
Instantes antes, comentara o ambiente que se sentiu na Avenida de Berna. "Sabem porque houve esta manifestação [contra nós ]? Eles já andam nervosos", disse José Pinto Coelho. O "eles" é "uma faculdade extremista dominada pelo Bloco de Esquerda", sublinhara antes. O "eles" são também "uns comunistas do pior", afirmou noutra altura. Por junto serão, repetiu mais do que uma vez, "uns cobardes que só aceitam a liberdade de expressão para eles".
Sentindo que as coisas estão a correr bem, com a inesperada força de bloqueio estudantil que lhes caiu do céu, o líder do PNR afirma: "O nacionalismo está a crescer e é bom que os portugueses percebam isso... Houve o Brexit e o Trump, estas coisas vão surgindo, são dinâmicas", diz José Pinto Coelho aos jornalistas.
Os mesmos jornalistas que, minutos antes, haviam sido zelosamente filmados por um elemento do PNR. De telemóvel na mão, não se coibiu de o apontar durante largos segundos para o canto onde estavam muitos profissionais da comunicação social.
(NÃO) DISPARAR SOBRE O MENSAGEIRO!
Não foi só no discurso do líder do PNR que os jornalistas estiveram na mira: "A comunicação social boicota-nos!", afirmou.
Cerca de duas horas antes, na esplanada da faculdade, num debate sobre "Liberdade de expressão e neutralidade dos media", também os jornalistas estiveram no centro do debate e foram visados nas intervenções, embora de forma indirecta. Até parece que a polémica da conferência de Jaime Nogueira Pinto, adiada há duas semanas pela Direção da FCSH, se deveu a qualquer "erro de percepção" do mensageiro.
O debate contou com a presença da directora da edição portuguesa do "Le Monde Diplomatique", Sandra Monteiro, e de uma representante da direcção do Sindicato dos Jornalistas, Isabel Nery (mas esta só chegou mais tarde, já a conversa ia a meio). Por isso, Isabel Nery não ouviu o moderador do debate, Daniel Cardoso, ex-aluno e actual professor auxiliar da FCSH, lançar o tema da "neutralidade jornalística" e afirmar que "o jornalismo não pode ser neutral em relação à própria democracia".
O debate sobre a liberdade de expressão e a neutralidade dos media foi uma iniciativa do movimento "Primavera na FCSH, Contra o Fascismo", que lançou um manifesto a convocar os estudantes para comparecerem na faculdade, às quatro horas da tarde. O objectivo da concentração, não declarado, era fazer uma jogada de antecipação ao protesto do PNR. "Não podemos pactuar com o silêncio num momento em que ideologias fascistas e xenófobas se mobilizam para atacar o pluralismo e a democracia, componentes incontornáveis do ensino no nosso país", lê-se no documento.
Entre os signatários do texto (cerca de quatro centenas e meia, entre atuais e antigos professores/investigadores e alunos da FCSH), estão figuras conhecidas como a jornalista Alexandra Lucas Coelho e os historiadores Fernando Rosas, Irene Pimentel, José Neves e Raquel Varela.
O manifesto reafirma "o compromisso com uma cultura de conhecimento crítico, de ensino plural e de liberdade de expressão que tem caracterizado a FCSH ao longo dos tempos e que, estamos certos, continuará a ser uma marca fundamental desta instituição de ensino".
Quando decorria o debate sobre a neutralidade dos media, em conversa com o Expresso, e questionado se tal chamamento à concentração "Contra o Fascismo" não seria "dar demasiada importância" ao PNR, Fernando Rosas responde que não.
Já jubilado da FCSH, Rosas estava no local porque acabara de dar um seminário sobre a "história do Fascismo". O historiador definiu que o objectivo da iniciativa era que a FCSH estivesse "serena face à provocação" da Extrema-Direita. "Estamos aqui para defender o bom nome da faculdade".
Apesar de diversos contactos feitos na segunda-feira, o Expresso nunca conseguiu saber quem foram os patrocinadores do manifesto "Contra o Fascismo". O menos evasivo dos comentários foi o de que "é um movimento o mais alargado possível". Já ao final da manhã desta terça-feira a FCSH esclareceu que a iniciativa foi "organizada por docentes, investigadores e alunos, tendo sido autorizada pela Direcção. Consta de um debate, leitura de poemas e outras atividades de cariz cultural".
O problema é que a dinâmica gerada (entre outras coias, "em nome da liberdade de expressão") galgou depois para fora dos portões da faculdade e viria a travar um protesto (também em nome da "liberdade de expressão") que estava devidamente autorizado pela polícia. "O povo é calmo, o povo é sereno", poderia esperar-se, mas quando se trata de jovens às vezes as coisas fogem ao controlo dos criadores. No folhetim da "liberdade de expressão" na FCSH, isto será só fumaça?
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Fonte: http://expresso.sapo.pt/politica/2017-03-22-Contra-manifestacao-de-alunos-boicota-protesto-do-PNR

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E assim se confirmou exactamente o que o PNR denunciava - a atitude totalitária dos semi-estudantes cujos donos os doutrinaram para guinchar de maneira a que a voz do oponente ideológico não se possa ouvir. Sim, é a táctica mais infantil de todas, mas na cabeça de alguns «resulta» - é, aliás, a mesma táctica que os donos desta espécie de alunos adopta por vezes nos grandessíssimos mé(r)dia para abafar a voz dos Nacionalistas. Desta vez a indecência ficou bem a nu e pessoalmente até tive o gosto de com o megafone lhes chapar que até os gajos que fizeram o 25 de Abril têm vergonha de meninos destes, e tanto têm vergonha que a Associação 25 de Abril ofereceu as suas instalações para a realização da conferência de Jaime Nogueira Pinto. Diante disto, os meninos pretensamente antifas ou se calaram ou continuaram a gritar «fasciiiiiiiiista!» e daí não avançaram... E quando gritavam «Somos mais de dez!», do nosso lado lhes respondíamos «Nós também!», além de «Dez não valem um!», rematando com «Somos vinte e sete mil»... E quando os pivetes antirras repetiam o já estafado «Não passarão!» (é engraçado que quem originalmente gritou isso foi uma militante comunista durante a Guerra Civil de Espanha antes de os Franquistas passarem mesmo por cima dos seus camaradas...), respondíamos nós «Já passámos!»...

Enfim, uma tarde bem passada.