DEPUTADO DA ESQUERDA ALEMÃ DENUNCIA APOIO DA ALEMANHA E DE OBAMA À ARÁBIA SAUDITA

A ministra da Defesa da Alemanha visitou pela primeira vez a Arábia Saudita com o objectivo oficial de apoiar as reformas. Mas por que razão, neste caso, Berlim enviou a Riade a ministra da Defesa? Durante as negociações foi tomada a decisão que a Alemanha irá não apenas fornecer armas à Arábia Saudita, mas também treinar oficiais do seu exército.

Alexander Neu, deputado do Bundestag pelo partido A Esquerda (Die Linke) e que é membro da direcção do comité parlamentar da defesa, criticou duramente essa decisão em entrevista para a Sputnik Alemanha. 

Sputnik: Senhor Neu, o que há de errado com o facto de a nossa ministra da Defesa ir apoiar a Arábia Saudita na sua intenção de realizar reformas?

Alexander Neu: A cooperação entre a Alemanha — um país que defende valores como a liberdade, a democracia e os direitos humanos, e uma ditadura que não tem problemas em cortar as cabeças de prisioneiros, é por si só surpreendente. Demonstra a dupla moral dos círculos políticos alemães. Na minha opinião, significa que os valores ocidentais, no fundo, também têm um carácter de ideologia e propaganda.

S: Sr. Neu, deixe-me discordar do senhor, porque a Arábia Saudita é membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU — ao contrário da Rússia. Por isso, é um membro reconhecido da comunidade ocidental em termos de valores.

AN: A pertença ao Conselho dos Direitos Humanos da ONU não é a garantia de que um país realiza alguma política particularmente humanista. Os membros do Conselho são eleitos. Aqui trata-se simplesmente de poder. 

S: A Arábia Saudita é a segunda maior importadora de armas do mundo e compra armas, em particular, à Alemanha. O que faz ela com todas essas armas?

AN: As armas são-lhe necessárias para reforçar a sua própria dominação no Médio Oriente e o seu próprio papel como potência regional. Agora isto é mais visível no Iémene, que está sendo bombardeado pelos sauditas porque aí houve uma revolução provocada por forças xiitas. O Ocidente, entretanto, olha envergonhado para o lado e, por princípio, não quer levantar a questão sobre os eventos no Iémene.

S: A Alemanha vai aumentar ainda mais o apoio militar à Arábia Saudita e ensinar na academia militar de Hamburgo de três a cinco oficiais do exército da Arábia Saudita por ano. 

AN: Sim, durante seus estudos eles terão de todos os dias, das oito da manhã até as oito da noite, enfrentar o problema dos direitos humanos. S: A Arábia Saudita é um país membro da coligação internacional criada pelos Estados Unidos da América para combater o Daesh (organização terrorista proibida em muitos países incluindo a Rússia), mas ao mesmo tempo está financiando grupos islâmicos como a Frente al-Nusra na Síria. Além disso, os sauditas estão conduzindo uma guerra no Iémene. Será que é possível que o nosso governo federal não sabe a quem está fornecendo apoio militar?

AN: Eu não acho que o nosso governo seja tão ingénuo que não saiba isso. A orientação ideológica da casa real saudita — o wahhabismo — é idêntica à orientação ideológica do Daesh, Frente al-Nusra e outros jihadistas. Embora a Arábia Saudita tenha de participar oficialmente na luta contra o Daesh — mesmo que não seja muito a sério — está a fazê-lo, em particular, para suprimir a concorrência ao wahhabismo. Assim, é evidente que o governo alemão está a apoiar jihadistas e islamitas que na Europa seriam considerados terroristas, mas já na Síria são considerados rebeldes que tentam libertar o país de Bashar Assad. A Alemanha, os outros países europeus e os EUA estão a apoiar os jihadistas na Síria e, assim, de facto, estão a agir em conjunto com a Arábia Saudita.

S: Actualmente, os média estão a publicar muitas notícias de Aleppo sobre alegadas atrocidades do exército sírio — essencialmente acusando disso simultaneamente a Rússia. Será possível que após a libertação de Aleppo se revele de que "insurgentes" inofensivos realmente se tratava?

AN: Eu não acho que os políticos e os média alemães reconheçam que essas figuras são realmente terríveis. Porque neste caso eles teriam de admitir que durante muitos anos eles, por assim dizer, "apostaram no cavalo errado". Eles vão continuar a falar de vítimas, rebeldes legítimos, oposição moderada, cujas fileiras podem conter acidentalmente dois ou três islamitas, o que não muda a essência. Eles vão contar a mesma lenda para no final, se possível, entregarem ao Tribunal Penal Internacional o governo sírio e, ao mesmo tempo, a Rússia.

S: A Arábia Saudita desenvolve a sua actividade em muitos países. Agora soube-se que mesmo os serviços de inteligência alemães já alertam sobre o apoio dado a salafistas na Alemanha por parte de organizações religiosas da Arábia Saudita e do governo desse país. Será que o nosso governo não se preocupa com isso?

AN: Aparentemente, não está muito preocupado com isso. Estamos a lidar com um parceiro que está a ameaçar a segurança interna da Alemanha. Nos EUA, a situação é semelhante. Recentemente foi publicado o relatório da investigação aos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001, que contém evidências de que personalidades oficiais da Arábia Saudita estiveram envolvidas. Assim, cidadãos americanos receberam o direito legal para processar esse país. No entanto, Barack Obama, prestes a deixar o cargo de presidente, está a tentar impedir que essa lei entre em vigor.

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Fonte: https://br.sputniknews.com/europa/201612157178097-bundestag-alemanha-jihadismo-siria/

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Há, efectivamente, esquerdistas sérios... Independentemente de quais sejam as suas posturas a respeito doutros temas, tudo o que aqui diz nesta entrevista pode e deve ser ecoado por todos os militantes nacionalistas europeus, para que cada vez mais gente do povo se aperceba do que está em causa na ligação política dos seus países europeus ao Estado saudita - a contribuição para um califado muito maior e mais perigoso do que o actual califado da Síria e do Iraque...