sexta-feira, junho 03, 2016

NA ALEMANHA: PEGIDA DENUNCIA SINAL DE SUBSTITUIÇÃO ÉTNICA EM EMBALAGEM DE CHOCOLATE E AFD FAZ O MESMO SOBRE A SELECÇÃO DE FUTEBOL

O vice-presidente do partido de Extrema-Direita Alternativa para a Alemanha (AfD) não gosta que a selecção de futebol do seu país tenha muitos jogadores de origem estrangeira. E exemplificou com o que só pode ser um ataque racista contra o jogador do Bayern de Munique Jérôme Boateng, cujo pai era do Gana e a mãe alemã: “As pessoas gostam dele enquanto jogador, mas não querem ter Boateng como vizinho.
As palavras de Alexander Gauland, numa entrevista à edição de domingo do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, causaram escândalo. O defesa Boateng, nascido em Berlim e um dos melhores jogadores do mundo, deve ser o capitão da selecção alemã no Euro 2016, que começa a 10 de Junho em França. Foi já uma peça fundamental na conquista do Mundial de 2014 pela Manhhschaft, que já há muitos anos é composta por jogadores de origens diversas, reflectindo o resultado de política de abertura à imigração e aos refugiados seguida pela Alemanha nas últimas décadas. O mesmo acontece com outras selecções europeias de países com muita imigração, como a de França.
Este líder da AFD, que durante 40 anos foi membro da CDU de Angela Merkel, mostrou ser um verdadeiro porta-voz dos receios dos simpatizantes do seu actual partido – reconhecidamente anti-imigração e islamofóbico, contra a política de portas abertas aos refugiados do Médio Oriente seguida pela chanceler no Verão passado (que entretanto mudou de tom). “Muitos temem que, aos nossos olhos, uma religião estrangeira não se adapte à nossa tradição ocidental”, afirmou ao jornal de Frankfurt, referindo-se ao islão. Mas no caso, Boateng é cristão, de forma bastante ostensiva – tem uma cruz tatuada no braço.
Esta semana, o movimento anti-islão e anti-imigração Pegida – que está ligado ao AfD – já tinha provocado escândalo ao criticar no Facebook a campanha publicitária dos chocolates Kinder por colocar fotos de crianças negras ou com um aspecto mediterrânico, em vez dos rapazes louros do costume. “Isto é mesmo para comprar ou é só uma piada”, dizia o post. Um outro comentário dizia “Isto só pode ser uma falsificação?!???”
Tanta indignação, no entanto, não levava em conta que as crianças retratadas nas embalagens dos chocolates são jogadores da selecção alemã – quando eram crianças. No caso das imagens partilhadas no Facebook, tratava-se do jogador Ilkay Gündogan, de origem turca e, mais uma vez de Jérôme Boateng.
Estes avanços racistas contra a selecção por parte do AfD e do Pegida foram considerados “indignos e inaceitáveis” pelo ministro da Justiça, Heiko Maas. O presidente da Federação Alemã de Futebol, Alexander Grindel, mostrou-se revoltado: “É simplesmente de mau gosto abusar da popularidade de Boateng e da selecção nacional para fazer propaganda política.”
Perante o escândalo, o vice-presidente do AfD tentou corrigir as suas declarações, diz a AFP. Emitiu um comunicado em que diz ter querido transmitir apenas a “opinião de algumas pessoas”, e saúda “a integração bem-sucedida do sr. Boateng”, sublinhando o facto de ele ser de “confissão cristã.”
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Fonte: https://www.publico.pt/mundo/noticia/partido-de-extremadireita-alemao-nao-gosta-de-boateng-na-seleccao-1733450?frm=ult

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Se o vice-presidente da AfD baqueia um bocado no fim, quando saúda a integração do africano, isso não esconde todavia que o seu partido está a dar sinais de vida e saúde cada vez melhores. Adentra já o campo difícil e legalmente minado da salvaguarda etnicista, não se limitando ao mais prudente e menos fulgurante bastião anti-imigração que é a posição do anti-islamismo radical. Os PEGIDAs brilham agora pela mesma razão - e que a antirraria tenha vindo dizer que «ai, as crianças nos chocolates Kinder não são estrangeiras, são jogadores da "nossa" selecção de futebol!!!», até acaba por ser útil: os antirras estão, sem perceber, a dar o alerta do ponto a que a infiltração étnica de não europeus atinge já a sociedade alemã...

Voltando à AfD, é de notar que alcança agora melhor popularidade de sempre, atingindo já os quinze por cento de apoio popular, apenas a quatro pontos do maior partido da oposição, o SPD, e já com metade do apoio que tem o partido do governo, a CDU/CSU, como aqui se lê: http://www.wahlrecht.de/umfragen/insa.htm
Mais uma vez, e mais uma, e mais outra, e mais outra ainda, se confirma - quanto mais os Nacionalistas falam ao Povo em discurso directo, mais o Povo vota nos Nacionalistas, pelo que a Democracia constitui uma aliada potencial do Nacionalismo, como a própria lógica das coisas facilmente faria prever: 
 - sendo o Nacionalismo a sistematização do espírito da Estirpe, 
 - sendo o espírito da Estirpe a tendência básica e vital de qualquer grupo humano etnicamente coeso dizer «a nossa salvaguarda como Povo em primeiro lugar», 
torna-se óbvio que quanto mais peso tiver no poder político a opinião popular, mais influente será aí uma força partidária cuja mensagem central seja «a nossa salvaguarda como Povo está em primeiro lugar».