terça-feira, maio 24, 2016

SOBRE A EDUCAÇÃO NA FINLÂNDIA

A tão  sonhada educação gratuita e de qualidade é realidade na Finlândia. Líder do ranking global Pisa (sigla em Inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) em 2012, o país nórdico tornou-se um modelo de educação para o resto do mundo. Num sistema em que a escola é obrigatória, cerca de 540 mil alunos estudam por nove anos, desde os sete, nas chamadas escolas secundárias. Antes disso, a escola é voluntária, mas quase todos os pais usam desse direito. Praticamente 100% dos jovens completam o período exigido, e 98% estudam em escolas públicas.
Os segredos da educação na Finlândia são vários e estão inseridos numa conjuntura histórica e cultural que deve ser levada em conta. No entanto, o próprio Ministério da Educação e Cultura indica o caminho que pode ser seguido em qualquer país: um sistema educacional uniforme, professores altamente competentes e autonomia para as escolas.
A Finlândia já foi mais pobre e sem a alta tecnologia que possui hoje. Mas os Finlandeses sempre acreditaram que era preciso incentivar a educação, ainda mais tratando-se de um país pequeno que hoje conta com 5,4 milhões de habitantes (...). A profissão de professor é historicamente respeitada e valorizada. Em 1921, foi definido que independentemente da classe social, todos tinham direito à escola. Há quase quatro décadas foi implementado o estudo compulsório e desde então é exigido o grau de mestre para professores.
"A ideia básica da educação tem sido a igualdade”, afirma o professor finlandês Matti Salo. Trata-se de um reflexo da estratégia nórdica de estado de bem-estar social, afirma. A reforma educacional ocorrida nos anos 1970, buscou exactamente acabar com a distinção que havia entre um sistema de ensino curto para todos e um mais longo, que levava ao ensino superior. “Isso era contra a ideia de democracia na nossa sociedade”, diz Salo. Para procurar uma uniformidade no ensino, os Finlandeses tiveram de se dispor a pagar altos impostos, ressalta. De fato, a Finlândia tem uma das maiores cargas tributárias do mundo - a oitava, 25% maior que a brasileira.
A equidade do sistema dá-se em dois níveis. Num deles, procura-se garantir, através de um repasse de verbas, a mesma qualidade de ensino na capital Helsínquia ou numa pequena cidade do interior. Noutro, busca-se a igualdade dentro de sala de aula. Suely Nercessian Corradini, directora pedagógica do colégio paulista Vital Brazil, visitou escolas finlandesas para sua tese de doutoramento. Destaca a importância dada às aulas de reforço. Grupos de alunos que não conseguem acompanhar as aulas vão sendo reintegrados às classes com o apoio de um professor treinado especialmente para isso, durante até dois anos. As dificuldades são identificadas logo no início, mesmo na escola primária, e trabalhadas. O esforço em incluir esses alunos é factor decisivo na hora do Pisa.
O governo finlandês ainda fornece refeições e material escolar de graça. “Isto é uma das coisas mais importantes. Faz uma enorme diferença na aprendizagem ter o almoço grátis”, diz Salo. As instituições de ensino devem ser próximas das casas das crianças, caso contrário há transporte disponível. O professor destaca também o bom investimento em saúde, com psicólogos escolares, assistentes sociais e enfermeiros disponíveis.
Ao contrário do que muitos pensam, valorizar o professor não é somente pagar-lhe bem. Segundo relatório da OECD (sigla em inglês para Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico), o salário mensal do professor finlandês fica entre US$ 2,5 mil e US$ 4 mil (mais ou menos o mesmo em euros - nota do blogueiro) - um salário médio para o padrão nórdico. Tatiana Britto, consultora legislativa do Senado Federal para educação afirma: “O salário é baixo, mas é de classe média europeia. Ninguém acha que vai ser rico sendo professor, mas vai viver bem, com estabilidade e férias um pouco mais longas”.
Silvia Mutanen é brasileira, casada com um finlandês, e há quase dois anos actua como professora de crianças menores de sete anos na Finlândia. Para ela, se o salário não é dos mais altos, o ambiente de trabalho é bom. Dois factores contribuem para isso: a autonomia dos professores e a sua valorização.
Apesar de a recompensa financeira não ser um grande atractivo, a procura pela profissão é enorme. Segundo o Ministério da Educação, apenas um em cada dez candidatos a entrar na universidade para ser professor é aprovado. “Por ser uma carreira concorrida, desperta o desejo. E com isso eles atraem os melhores egressos do Ensino Médio”, afirma Suely. Assim, a profissão vai-se valorizando na sociedade. Salo diz que a popularidade da profissão deve-se a uma tradição de respeito pela educação. O grupo qualificado que consegue entrar na graduação continua a contar com um ensino sólido. A formação, que inclui mestrado, busca proporcionar um excelente conhecimento da língua e de matemática, uma boa capacidade de comunicação e a compreensão do papel social da profissão.
Ter professores de qualidade permite ao governo dar liberdade aos docentes. O professor Mati Salo diz que, mesmo que o Conselho Nacional de Educação e as autoridades locais dêem algumas orientações, as escolas têm autonomia em compor o currículo, e os professores têm liberdade metodológica para colocá-lo em prática. “Isso motiva os professores e permite a inovação”, afirma. Suely ressalta que o currículo nacional especifica somente os objectivos gerais e cada instituição complementa o currículo em conjunto com os professores. Uma tarde por semana é dedicada a planear e elaborar o currículo. “Aqui na Finlândia o professor tem total liberdade para preparar a sua aula, pode escolher os livros, o material, os recursos a serem utilizados. Há uma grande autonomia cercada de confiança e apoio”, conta a professora Sílvia. “O professor não vai apertar parafusos, mas formar pessoas”, diz Tatiana.
A liberdade dá-se também aos alunos. Não há períodos integrais, com muitas lições e tantas avaliações quanto no Brasil. Ainda assim, não é possível dizer que não haja pressão sobre os estudantes. Tatiana diz que, nos anos iniciais, o ensino é realmente mais lúdico, sem deveres de casa, mas há seriedade. “Eu visitei uma escola em semana de provas, com meninos de nono ano, totalmente voltados para aquilo. Toda a gente enfileirada com o professor a fiscalizar”, diz. O que não existe, de facto, é uma grande avaliação externa, um exame nacional. Para Salo, a avaliação não tem por função dividir os melhores alunos dos outros, mas ajudar a desenvolver métodos de ensino que apoiem os estudantes.
Mesmo com tudo isso, a preocupação dos educadores finlandeses é atrair os jovens para a escola. Salo relata que os estudantes, principalmente, em graus mais elevados, precisam interessar-se mais. É necessário fazê-los perceber que podem influenciar a vida escolar.
O investimento e a preocupação em formar bons professores ajudam a colocar a Finlândia no topo do Pisa, mas a educação não é papel só da escola. Segundo Sílvia, o contexto social e cultural do país faz da escola complemento e apoio do que a criança já traz consigo de casa.
*
Fonte: http://noticias.terra.com.br/educacao/com-98-dos-alunos-na-rede-publica-finlandia-e-referencia-em-educacao,c2b96b8eaeff1410VgnVCM10000098cceb0aRCRD.html

* * *

Típico de uma sociedade civilizada nos padrões e na tendência mais especificamente europeia, correspondente por outro lado ao que se considera próprio dos Nórdicos, a chamada «Lei de Jante», expressão de origem ficcional que se considera boa tradução da mentalidade popular nórdica, que impõe a igualdade entre todos os membros da comunidade e censura quem queira julgar-se melhor que os outros, como aqui se lê: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lei_de_Jante
Já César fazia notar, na «Guerra das Gálias», ou «De Bello Gallico»,  a forte tendência para a igualdade social entre os Germanos, dos quais os Nórdicos constituem grosso modo o ramo setentrional, e os Finlandeses, ali metidos entre eles, dificilmente escapariam à sua influência. Ou muito me engano ou a homogeneidade étnica permite que coisas destas perdurem através dos milénios.

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Até que os muslos botem a lei de Jante abaixo...

26 de maio de 2016 às 17:02:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Pois...

26 de maio de 2016 às 19:46:00 WEST  

Enviar um comentário

<< Home