NATUREZA CIVILIZACIONAL
A Civilização diz respeito ao acervo cultural de todo um Povo, o seu desenvolvimento espiritual, intelectual, artístico, tecnológico. No cerne da Civilização há aquilo a que chamaria natureza civilizacional - o espírito da civilização em particular. Aquilo que está, digo eu, no fundamento da forma de ser do Povo que a cria. Trata-se de algo que actua ao longo de milénios e opera transformações no seio da própria civilização - a tendência natural que guia o conjunto civilizacional, algo de difuso e evidentemente muito contestável. Transforma até ao ponto de cortar com elementos que seriam inicialmente parte do acervo cultural do Povo. É neste contexto que se pode dizer que no mundo indo-europeu, por exemplo, já há milénios se observa uma tendência visível para a Democracia, que acaba até por derrubar a tradicional monarquia - e «rex», «rei», é uma palavra bem indo-europeia, eventualmente derivada de um hipotético «*reg», ou «*h₃rḗǵs» que origina o latino «rex», o céltico gaulês «rix», o irlandês antigo «rí», o gótico «reiks» e o sânscrito «rájan» - mas que só se começa a consolidar, tanto quanto se sabe, a partir de há uns escassos dois mil e trezentos anos, em Atenas, quando recebeu o nome que se lhe conhece. De lá para cá tem-se desenvolvido de diferentes maneiras, e estado rejeitada durante séculos, acabando por se impor na generalidade do mundo indo-europeu - significativamente seria, segundo o politólogo italiano, de Esquerda, Norberto Bobbio, o produto ideológico europeu que mais sucesso teve na Europa e menos sucesso teve fora dela. Com efeito, os países com mais alto índice de Democracia - ou democraticidade, chamo-lhe eu - do planeta são os países mais desenvolvidos da Europa e das partes do mundo mais europeizadas. Não quer isto dizer que um democratíssimo Japão seja «mais europeu» que uma democraticamente periclitante ou mesmo autoritária Rússia, evidentemente, mas as condições histórico-políticas que influenciaram ambos os países na segunda metade do século XX têm de ser tidas em conta - é de conhecimento comum que o Japão sofreu uma maciça influência ocidental, agressivamente ocidentalizante até, logo a seguir à sua época de imperial agressão autoritária que terminou com o seu próprio brutal esmagamento em 1945. De uma maneira ou doutra, a tendência é visível - a esmagadora maioria dos países mais democráticos do planeta são europeus, como aqui se pode constatar: https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%8Dndice_de_Democracia#Classifica.C3.A7.C3.A3o_de_2011 Logo à cabeça, os quatro países mais puramente germânicos do mundo, o que por coincidência ou não bate certo com o facto de que já nos tempos da antiga Germânia estava institucionalizada - há pelo menos dois mil anos, mais concretamente na altura de Tácito, ler a sua obra «A Germânia» - a assembleia do Povo, o Thing, mesmo que não lhe chamassem «Democracia» - depois disso muita água passou por debaixo da ponte, e os países actuais onde ficava a antiga Germânia, a Alemanha e a Áustria, tiveram autoritarismos imperiais, incluindo o totalitário Hitler (que por acaso chegou ao poder pela via democrática), o que de qualquer modo não será estranho quando se recorda que ambos os Estados herdaram algo de meridional com a referência ao Império Romano que ambos reivindicavam tradicionalmente, apesar do romantismo nordicista quase anti-meridional do Nacionalismo germânico (confuso mas factual), e com algumas raízes ou pelo menos fortes influências meridionais que o Nacional-Socialismo recebeu - do Fascismo italiano e, antes disso, do regime autoritário do turco Kemal Ataturk. Simplesmente está na natureza civilizacional dos Europeus a rejeição do autoritarismo e de qualquer outra forma de opressão dos mais fortes sobre os mais fracos, incluindo o imperialismo (que fez parte da civilização europeia mas que foi derrubado em todo o mundo por acção de ideologia nascida na Europa), a escravatura (que foi amplamente praticada por Europeus mas que foi exclusivamente abolida por Europeus tanto na Europa como no resto do planeta), a discriminação de género ou de orientação sexual, a caça e a tourada, elemento que faz parte da civilização europeia do sudoeste occitano-ibérico mas que a própria natureza civilizacional europeia está agora a abater.
4 Comments:
os media tem mostrado algumas celebridades a mostrar o seu apoio ao visitar campos de refugiados. Mas claro que nao ira mostrar os problemas que se passaram com eles.
http://www.mirror.co.uk/3am/celebrity-news/jude-laws-minders-attacked-calais-7455214
dizem que os imigrantes vem fazer os trabalhos que nao queremos, os trabalhos com pouca remuneraçao. Pois ha um novo estudo que diz que esses trabalhos serao dos primeiros a deixar de existir por causa da robotizaçao
"o governo dos Estados Unidos alerta para o risco de que pessoas que ganham menos de 20 dólares por hora poderem ser substituídos por robôs."
http://pplware.sapo.pt/informacao/robos-vao-substituir-profissionais-com-salarios-mais-baixos/
Não eras tu que dizias que, Hitler foi um produto do seu tempo e que, se o mesmo tivesse vivido nos dias de hoje, seria um democrata?
Hitler foi um produto do seu tempo, sem dúvida, mas mesmo no seu tempo havia democratas. Não me lembro de dizer que Hitler seria hoje um democrata, mas não acho impossível que o fosse. Seja como for e especulações à parte, a sua escola de pensamento é anti-democrática e por isso contra-producente no contexto do cxNacionalismo.
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