PELO CONSUMO DE LEITE NACIONAL
Pelo futuro de Portugal, beba leite nacional...
O fim das quotas leiteiras significou, parcialmente, a renacionalização da Política Agrícola Comum para o sector do leite.
Até agora, a Europa controlava a produção dos vários países e aplicava multas aos que ultrapassavam a quota. Desde 1 de Abril, é cada um por si. Os produtores do Norte e Centro da Europa esperaram ansiosamente por esse momento. Na Irlanda até havia um relógio em contagem decrescente. As previsões da União Europeia prometeram um futuro risonho, baseado no aumento da população mundial e do consumo. Não havia nas previsões dos peritos qualquer referência ao embargo da Rússia, à redução da compras da China e à redução do consumo de leite devido à repetição de notícias com pouco fundamento mas muita capacidade de assustar o consumidor.
E agora, mesmo sentindo a baixa de preço e excesso de produção, os produtores do norte da Europa permanecem confiantes que vão resistir mais que os outros, e podem ter razão se a indústria que lhes compra o leite tiver melhor mercado. Recolhem agora os benefícios do investimento na inovação realizados nos últimos anos, por exemplo na produção de leite em pó infantil. Além disso, os produtores receberam melhor preço nos últimos anos e tem mais fundo de maneio (como diria a Ministra das Finanças, têm os cofres mais cheios) para resistir. Cada vez se torna mais real a anedota que já referi sobre o “amigo” que decidiu apertar os ténis para fugir ao leão mais depressa que seu companheiro. E assim, na mesma semana em que dezenas de produtores espanhóis foram abandonados pela indústria que lhes recolhia o leite, um produtor alemão anunciou num congresso que prevê dobrar a produção, passando de 500 a 1000 vacas, certamente com o acordo da indústria que lhe recolhe o leite.
E se o leite sobrar, porque a Rússia e a China já não compram como previsto, o que se faz? Manda-se para longe. E é assim que dizem chegar a Portugal queijo alemão a 2,3 Euros/kg e vemos leite embalado em França na marca branca dos dois maiores hipermercados nacionais. Admitindo que o queijo é verdadeiro, feito com 10 litros de leite de vaca, sobram 0,23€ por litro de leite, de onde será preciso tirar os custos de recolha, fabrico e transporte. Sabendo que o preço ao produtor nesses países permanece nos 30 cêntimos, aqui há gato!
Nestes tempos de “vale tudo e salve-se quem puder”, faz sentido renovar o apelo ao consumo de leite e produtos lácteos nacionais. Já fizemos esse apelo em 2009, mas os hipermercados preferem lavar a imagem com festas de apoio à produção nacional em vez de tornarem efectivo esse apoio comprando nacional e pagando um preço justo, capaz de suportar os custos de produção.
Faz sentido lembrar que produzimos leite de alta qualidade e em quantidade suficiente para as necessidades do país.
Faz sentido apelar aos consumidores para escolherem leite e produtos lácteos nacionais, com o símbolo PT, porque só essa opção defende a independência e segurança alimentar do nosso país.
Faz sentido desafiar a distribuição para que facilite e promova activamente o acesso dos consumidores aos nossos produtos, que tenha consciência da sua responsabilidade social e seja um parceiro estratégico na promoção da produção nacional. Por trás de um copo de leite há todo o trabalho de muitos outros milhares de pessoas, entre fornecedores de serviços e produtos aos agricultores e ainda outros milhares na recolha e transformação dos lacticínios.
PINGO DOCE
Ó Pingo Doce, quanto do teu leite
É leite de Portugal?
Quando teus corredores cruzamos,
como é difícil ver leite nacional!
Quantas vezes teremos de cá vir
Até que este grupo nos vá ouvir?
Valerá a pena? Vai valer a pena
porque esta luta não é pequena.
O leite que vende o produtor
Dá muito trabalho e muita dor.
Defender o leite nacional,
É defender o futuro de Portugal.
O CONTINENTE
O Continente, que já estava a ganhar
No meio da crise mais quis facturar;
Mandou fazer as marcas brancas,
No sítio do Mundo onde menos pudesse pagar.
E disse: «Quem é que me veio incomodar
Nas meus negócios que não desvendo,
Com produtos brancos do fim do mundo?»
E o homem do leite disse, tremendo:
«Aqui à porta, sou mais do que eu:
Somos produtores do leite que não é teu;
E mais que esta crise, que nos complica a vida
E espreme os mais fracos da produção nacional,
Dizemos ao povo, como única saída,
Que comprar português é cumprir Portugal!
(Os poemas adaptados e os 3 últimos parágrafos do texto foram escritos em 2009 mas permanecem actuais…)
Por Carlos Neves, presidente da Associação dos Produtores de Leite de Portugal
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Fonte: página de Facebook do PNR - https://www.facebook.com/116915155007941/photos/a.116919651674158.11367.116915155007941/1017747711591343/?type=1&theater
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