sexta-feira, julho 17, 2015

CONVERSOS MUÇULMANOS E SEUS ALIADOS QUEIXAM-SE DA REPRESSÃO NA RÚSSIA

Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: http://oglobo.globo.com/mundo/russia-persegue-cidadaos-convertidos-ao-isla-denunciam-ativistas-16751626#ixzz3g4bTMQhH   (o texto abaixo foi adoptado para o Português de Portugal e corrigido aqui e ali à maneira do blogueiro)
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Quando era adolescente em São Petersburgo, Maksim Baidak andava com neonazis e nacionalistas de Direita, mas quase não era incomodado pelo serviço de segurança da Rússia.
Foi só quando largou a supremacia branca eslava e encontrou Deus – como um convertido ao islão e líder de um grupo étnico de muçulmanos russos – que passou a ficar sob vigilância quase constante e várias vezes foi forçado a entrar em carros, sob a mira de uma arma, por agentes de segurança.
Então, numa manhã de 2013, comandos mascarados de uma unidade especial de contra-extremismo invadiram o seu apartamento e prenderam-no. Por dois dias, foi interrogado, algumas vezes com um capuz preto sobre sua cabeça – “torturado”, afirma ele, com asfixia, choques eléctricos e ameaças de morte.
“Fui preso como um terrorista”, conta Baidak, de 28 anos, que hoje vive em Erzurum, uma cidade universitária no nordeste da Turquia, para onde fugiu depois de um juiz o libertar por falta de acusações criminais. “Olhe para mim, sou jornalista, blogueiro”, diz. “Sou um activista político, com orientação pró-democracia, sufi, mas fui preso como – sei lá – bin Laden.”
Enquanto os países da Europa estão tentando lidar com o perigo relativamente recente de terroristas islâmicos nacionais, a Rússia tem há tempos vivido com o medo de um levantamento jihadista nas suas fronteiras, particularmente no Cáucaso, onde travou duas guerras brutais para suprimir os separatistas muçulmanos.
Para o presidente da Rússia, Vladimir Putin, os eslavos de etnia russa convertidos ao islão, como Baidak, apresentam uma ameaça especialmente subversiva, não apenas por alimentar a profunda paranóia russa sobre o extremismo separatista, mas por desafiar a identidade nacional cristã ortodoxa que ele tem usado para unir o país em lugar do comunismo soviético.
O governo também se preocupa com o facto de muçulmanos russos mostrarem um desejo de se unir a várias forças anti-Kremlim, incluindo nacionalistas, grupos pró-democracia e até organizações pelos direitos dos homossexuais.
“Trabalhei com uma sociedade LGBT; é incrível para os muçulmanos, não é?”, pergunta Baidak, descrevendo o grupo, Islamic Civil Charter, hoje proibido na Rússia.
“Não apoio essa orientação de homens e mulheres, mas não posso mudá-los”, conta ele numa entrevista. “Se eles são agentes da liberdade, e nós também lutamos por ela, temos valores em comum. Vamos brigar juntos, não vamos dividir-nos.”
O serviço secreto da Rússia, no entanto, não quer deixar que isso aconteça.
A repressão agressiva, que começou antes das Olimpíadas de Inverno em Sochi, nunca acabou, levando a prisões generalizadas não apenas no Cáucaso predominantemente muçulmano mas por toda a Rússia europeia. Chegou a regiões tão ao norte quanto Novy Orengoi, sob o Círculo Árctico, onde as autoridades demoliram este ano um prédio onde havia uma mesquita e uma pré-escola islâmica.
A pressão pelos serviços de segurança, baseado parcialmente numa crença, compartilhada por alguns especialistas em fundamentalismo religioso, que eles têm mais chances de abraçar o extremismo e cometer ataques terroristas.
Isso porque vários convertidos são adeptos do movimento salafista do islão sunita, que muitas vezes é associado ao extremismo, porque defende práticas religiosas mais ortodoxas.
Ainda assim, defensores dos direitos humanos acreditam que os serviços de segurança da Rússia agem com mão pesada e muitas vezes perseguem pessoas inocentes, igualmente entre muçulmanos e convertidos. “Estatisticamente, o número de convertidos que se volta para o islão fundamentalista, em oposição ao islão tradicional, é desproporcionalmente alto, não é surpresa que eles atraiam a atenção dos serviços de segurança”, explica Tanya Lokshina, directora do programa Human Rights Watch na Rússia.
Vyacheslav Ali Polosin, um ex-pastor russo ortodoxo que se converteu ao islão em 1999, diz que os russos cristãos tornam-se muçulmanos por muitas razões. Algumas mulheres adoptam a religião depois de se casar com um muçulmano, outras esperam encontrar um marido muçulmano por causa da proibição religiosa ao consumo de álcool.
“Elas sabem que os muçulmanos não bebem”, diz Polosin, lembrando da longa luta da sociedade russa contra o alcoolismo.
Outras, conta ele, são atraídas por razões políticas ou financeiras, preferindo a abordagem do islão às questões relativas ao dinheiro. E outras ainda, conta, escolhem puramente por uma questão de fé.
De qualquer maneira, afirma Polosin, os convertidos encontram a mesma discriminação profundamente enraizada que todos os muçulmanos na Rússia, incluindo esforços para prevenir a construção de novas mesquitas mesmo com o crescimento da população.
As estimativas são de que hoje a população muçulmana no país esteja entre 16 e 20 milhões incluindo os mais de dois milhões em Moscovo, onde existem apenas quatro mesquitas.
“Os ortodoxos russos andam dizendo que Moscovo é sua cidade sagrada e que só querem as tradicionais cúpulas das igrejas russas”, afirma Polosin. “Em Stavropol, há uma mesquita construída no tempo do czar, e eles não permitem que seja reaberta. Afirmam que Stavropol deixaria de ser Stavropol, porque o nome significa cidade da cruz.”