sexta-feira, junho 19, 2015

A PRIMEIRA QUINZENA DE JUNHO NO PAÍS POLÍTICO VISTA PELO PNR

> “Garantias” irresponsáveis da coligação | A poucos meses das Eleições Legislativas, a coligação PSD/CDS-PP apresentou as linhas orientadoras do seu programa eleitoral, assim como uma “carta de garantias”. O texto, intitulado “Portugal no caminho certo“, teve apresentação conjunta e repartida dos presidentes dos dois partidos, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas. Obviamente, ambos fazem um balanço positivo da sua governação e nomeiam agora três prioridades para a próxima legislatura: “A questão demográfica, a qualificação das pessoas e a competitividade das empresas e da economia”. Arrogam-se assim a ter capacidade para resolver os problemas que a sua incapacidade gerou: desemprego, emigração, desinvestimento. Em resumo, Pedro Passos Coelho quer oferecer aos portugueses “segurança, estabilidade e previsibilidade”, e Paulo Portas promete “garantias”. Sim, é seguro, garantido e mais que previsível que a situação dos portugueses se continue a deteriorar, como o comprova, por exemplo, mais um aumento dos combustíveis ocorrido por estes dias. Um programa eleitoral é um assunto muito sério, mas a ligeireza e superficialidade com que é tratado pelos publicitários dos gabinetes do PSD-CDS/PP, que escrevinham estes textos e encenam estas paródias de gente muito bem (mas que faz tudo muito mal), para além do riso inicial que provocam, geram depois um sentimento de desconforto, ao vermos este enunciado de banalidades proposto como um modelo de governação para Portugal. Afinal, são garantias de Passos Coelho e Paulo Portas, com tudo o que isso significa. Mas estas “garantias” não estão garantidas. pois aí surge uma série de condicionantes do estilo, “no que de nós depender”, “dentro do que está ao alcance de um Governo”, “se as condições económicas o permitirem”. Com isto, estão já a abrir caminho para a desculpabilização e a irresponsabilidade. Mas o que nos causa maior assombro, pelo descaramento, é “a garantia de que Portugal não voltará a depender de intervenções externas”, isto quando este e anteriores Governos nos conduziram à mais completa e absoluta dependência externa, que corre o risco de tornar-se perpétua se não forem rapidamente implementadas as políticas nacionalistas (centradas nos problemas de Portugal e não nos da União Europeia) que o PNR propõe. Das promessas, Passos Coelho e Paulo Portas passaram pois às garantias. Mas que garantia nos dá um vice primeiro-ministro que se demite de forma “irrevogável”? Paulo Portas dá também garantia de rigor orçamental, mesmo tendo, entre 2002 e 2006, pertencido a um outro Governo que aumentou esse mesmo défice de 3,5% para 6,8%.

> “Causas” banais do PS | Por seu turno, o PS contrapõe com as suas novas “21 Causas”; a luta política resume-se assim a questões lexicais. Os socialistas, galvanizados pelo eventual acesso aos “cofres cheios” com que Maria Luís Albuquerque fantasiava há semanas atrás, apresenta no seu programa 21 causas. Lido e relido, encontramos as boas intenções do costume, mas nada de concreto, nada de novo. O programa eleitoral do Partido Socialista, muito vago, oscila também entre generalidades e banalidades, sendo omisso quanto às questões centrais. Possivelmente elaborado pelos especialistas de comunicação política do PS, a nós no PNR, afigura-se como um mero exercício de retórica. Um Programa que já não mobiliza ninguém, fórmulas gastas repetidas até à exaustão, com promessas e mais promessas que já só enganam os tolos. Temos assim governos de esquerda com programas de direita e vice-versa, numa confusão ideológica e vazio programático que serve de base à permanente fraude eleitoral, com base em falsas promessas e propostas vagas. Mas apesar de todas as “divergências”, quando sentem a ameaça ao sistema que os sustenta e ao regime que os perpetua, não deixam de se unir para sua própria sobrevivência Na verdade são, todos eles, governantes negligentes que puseram em prática políticas sociais e educacionais erradas, políticas económicas desadequadas e políticas financeiras desastrosas e altamente prejudiciais para o próprio País. Pelo caminho, destruíram o aparelho produtivo nacional e venderam o património do Estado ao desbarato. Uma só palavra basta para classificar todos eles: traidores!

> “Confiança” autista de Cavaco | Durante o discurso de Cavaco Silva na cerimónia do 10 de Junho, na sua última intervenção enquanto Presidente da República, a “confiança” foi a palavra-chave, Quem lê os nove discursos de Cavaco Silva no Dia de Portugal fica com a imagem de um país sempre adiado. Há dez anos que ambiciona um Portugal mais rico e mais justo, uma sociedade com menos desigualdades, um território mais desenvolvido. Mas, enquanto governou, adoptou políticas que foram no sentido contrário, e, enquanto presidente, consentiu a intensificação dessas políticas anti-portuguesas. O PR aproveitou igualmente para atribuir as condecorações da praxe. Entre os condecorados, estava Teixeira dos Santos, ex-ministro das Finanças durante o governo de José Sócrates (que, ficámos a saber esta quinzena, se sente no Estabelecimento Prisional de Évora tal como em casa). É assim nesta 3ª República: arruína-se o País e ganha-se uma condecoração! A propósito de condecorações e de ruína, façamos aqui um à parte para referir que Mário Soares foi quem mais condecorações atribuiu, com um total de 2.505 em 10 anos de mandato, a um ritmo de quatro condecorações por semana. Porém, no seu último ano como Presidente da República, Jorge Sampaio haveria de estabelecer novo recorde, ao atribuir  802 condecorações, ou seja, duas por dia.

Voltando ao discurso de Cavaco Silva, retemos alguns aspectos: elogia as exportações, mas não refere que aquilo que estamos a exportar são produtos que nos fazem falta a nós e que depois reimportamos ao dobro do preço. Cavaco Silva vive e movimenta-se numa realidade paralela, no conforto do Palácio de Belém. Fala dos cientistas e da investigação tecnológica nas universidades e laboratórios sem mencionar que o orçamento para estes sectores diminuiu drasticamente. Fala de derrotismo e fatalismo, como se não fosse o próprio regime a incentivar o pensamento único do “nós ou o caos”. Mas é o próprio quotidiano que o desmente, pois a disparidade entre o país real e o país político, entre o país concreto e o país estatístico, é notória… Hoje, Portugal é o país da UE onde a repartição do rendimento tem sido mais desigual, onde a generalização da pobreza coexiste com uma minoria que usufrui de forma ilegítima de cada vez mais riqueza. Saiba ainda o PR que, de entre os 28 estados-membros, só a Bulgária e a Grécia revelam níveis maiores de insatisfação, segundo revelou o Eurostat. Não tenhamos dúvidas: a sociedade sente-se cada vez mais acossada, mas Cavaco Silva omite esses sinais que desmentem o seu “clima de confiança”. É pois com alegria que vemos mais este geronte do sistema chegar ao fim da sua carreira política.

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Fonte: http://www.pnr.pt/apontamento-do-quotidiano/11988/