segunda-feira, dezembro 29, 2014

IAZIDIS PERSEGUIDOS DE MORTE NO CALIFADO DA SÍRIA E DO IRAQUE

Jovem iazidi com a bandeira curda - uma das milhares de mulheres que corre risco de violação e de vida só por viver numa região dominada por muçulmanos que obedecem totalmente ao seu livro sagrado

Uma das religiões mais antigas do mundo está ameaçada. "Dizem que somos infiéis porque a nossa religião não é mencionada no Alcorão. Por isso é que nos matam", diz à Renascença um conselheiro do Governo autónomo do Curdistão.
O avanço dos terroristas do auto-proclamado Estado Islâmico (EI) no Iraque levou à fuga de centenas de milhares de pessoas, sobretudo pertencentes a minorias étnicas e religiosas. Entre estes encontram-se cerca de 400 mil yazidis, membros de uma fé particularmente desprezada pelos fundamentalistas islâmicos. Consideram-na satânica. 

Mirza Dinnayi é originário do Iraque e conselheiro do Governo autónomo do Curdistão, que acolheu os cerca de dois milhões de refugiados que fugiram ao EI e que trava uma luta contra os jihadistas no terreno. 

Em entrevista telefónica à Renascença, a partir do Iraque, Mirza Dinnayi diz que quando o EI ocupou Mossul, no Iraque, e as zonas circundantes deu aos cristãos três escolhas: fugirem, converterem-se ou pagar um imposto. Os yazidis só tiveram duas: a conversão ou a morte. 



Quem são os yazidis? 

Os yazidis são membros de uma religião antiga, com cerca de 5.000 anos. Somos cerca de um milhão, metade vive no Iraque. A maior vive na região de Sinjar – onde somos cerca de 320 mil – que foi atacada pelo Estado Islâmico. 
Somos uma das religiões monoteístas mais antigas do mundo, acreditamos num só Deus, mas somos diferentes do Islão e do Cristianismo. Fomos atacados pelo Estado Islâmico, que matou mais de 3.000 pessoas, raptou mais de 5.000 e escravizou e violou milhares de raparigas e mulheres. 
Dizem que somos infiéis porque a nossa religião não é mencionada no Alcorão. Por isso é que nos matam. Agora temos mais de 400.000 refugiados que escaparam das suas casas em Sinjar e outras áreas da planície de Nínive, agora controlada pelo EI, e que estão a viver em Arbil, capital do Curdistão Iraquiano. 

Em que condições estão a viver? 
As condições são muito más, porque a maioria das tendas nestes campos são muito simples, não estão preparadas para o Inverno, nem para o frio. São feitas de nylon e com um simples incêndio são destruídos em 45 segundos. 
Todas as semanas há acidentes com incêndios nas tendas. Estão a viver numa situação muito má, não têm perspectivas económicas, não têm recursos, não têm casas, e o governo autónomo local e o do Iraque não podem ajudar porque são tantos. A ajuda das organizações internacionais não chega, porque a situação é muito má e não conseguem chegar a todas as necessidades. 

Conhece algumas das pessoas nesta situação? 
Sim, claro. A minha vila de 35 mil pessoas fugiu toda e todos estão a viver nestas tendas. 

O facto de terem sido perseguidos juntamente aproximou os cristãos e os yazidis? 
As comunidades crista e yazidi são amigas. Nesta situação têm o mesmo problema com o Estado Islâmico, com uma diferença: os cristãos não foram atacados imediatamente. Quando o EI ocupou Mossul foram-lhes dadas três opções: converterem-se, fugirem ou pagarem um imposto. Os yazidis só receberam duas opções: converterem-se ou serem mortos. 
O EI também não fez reféns entre a população cristã, porque dizem que o cristianismo vem mencionado no Alcorão, por isso podem ser tratados um pouco melhor que os yazidis. Mas tanto cristãos como yazidis estão a sofrer muito às mãos do EI. 

Que solução é que existe para as minorias no Iraque? 
Penso que agora a comunidade internacional é responsável por encontrar uma saída para estas minorias no Iraque e deve-se implementar pelo menos uma de duas soluções: estabelecer uma região autónoma com apoio internacional e a ajuda de capacetes azuis nesta área de Sinjar e da planície de Nínive; ou então ajudar estas pessoas a abandonar o mundo islâmico, porque não sabemos o que vai acontecer nos próximos anos. Não sabemos se virá um novo grupo islamita. 
Todos os dias surge um novo grupo islamita radical e se não houver uma solução para esta zona, para proteger as pessoas e estabelecer a paz no país, será impossível permanecer. 

Acredita que o Estado Islâmico pode ser derrotado? 
O que se fez contra o Estado Islâmico até agora tem sido muito pouco. Não se pode vencer esta guerra apenas com ataques aéreos. É preciso homens no terreno, não só da comunidade internacional, mas também do mundo sunita. Eles devem pegar em armas contra o Estado Islâmico, porque este foi estabelecido sob o pano de fundo da religião islâmica. Agora o mundo islâmico, sobretudo o mundo sunita, tem de tomar uma posição e trabalhar contra o EI e contra o fundamentalismo. Precisamos de forças no terreno, caso contrário não será possível combater o EI. 

O EI cresceu por causa de forte descontentamento entre a população sunita. Antevê um futuro em que os sunitas e xiitas possam viver em paz no Iraque? 
Sou pessimista. Não penso que os sunitas e xiitas possam viver juntos num país centralizado. Penso que a melhor solução para eles será estabelecer um sistema federal, governado por moderados, não radicais, que possam servir e representar as suas populações. 
Ninguém sabe quem representa a comunidade sunita no Iraque. Será o EI? Um grupo radical? Os sobreviventes do partido Ba'ath? Ou os políticos no Parlamento? Não sabemos. 
A maioria das regiões sunitas está fora do controlo do governo iraquiano e dos políticos sunitas. Por isso, não conseguem representar essas comunidades. 

A maioria dos curdos são sunitas. Existe o perigo de o islão radical ganhar terreno entre os curdos também? 
Existe, sim. Nós, os membros das minorias, temos medo dos radicais no Curdistão. Estamos satisfeitos pelo facto de o governo ser secular, mas na comunidade existem radicais e o governo deve combater isso. 
Alguns paramilitares curdos juntaram-se ao EI, poucos, não sei ao certo quantos, mas talvez uns 300 ou 500, mais ou menos. Há fundamentalismo no Curdistão e estamos a tentar combatê-lo, para estabelecer uma comunidade liberal. 

Como classifica o papel da Turquia no meio disto tudo? 
O papel negativo da Turquia, de apoio ao EI, é sobejamente conhecido. Toda a gente sabe que no início a Turquia desempenhou um papel muito negativo de apoio aos grupos islamitas, sobretudo o Jhabat al-Nusra, e outros grupos islamitas, contra o Bashar al-Assad. 
Paira uma grande dúvida sobre a Turquia. Será que vai colaborar com a comunidade internacional, para bloquear os recursos do EI e adoptar uma atitude positiva? Até agora o seu papel não tem sido positivo. A Turquia não pode dizer que se vai manter neutra em relação à questão do EI, porque a Turquia desempenhou um papel negativo e agora devia mudar as suas políticas e ser positiva, em vez de negativa. 


Ouça a entrevista no programa "Princípio e Fim" da Renascença
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Fonte do texto: 
http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?fid=29&did=173246   (texto a itálico)
http://www.actualidadereligiosa.blogspot.pt/2014/12/christians-were-given-three-choices.html#.VKG5gsgk   
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Povo iazidi, estando algumas das mulheres trajadas com o seu estandarte nacional

Nada disto surpreende quem saiba o que é o Islão. Há muito que a dita «tolerância» muçulmana é denunciada pelos observadores islamófobos como historieta mal contada. Não se lhe pode chamar «tolerância» mas sim mera coerência doutrinal: o Judaísmo e o Cristianismo são aceites - em posição de inferioridade, claro... - pelos muçulmanos porque estão na origem do Islão:  o «Deus» de Moisés é o mesmo que o «Deus» de Jesus, que é o mesmo que o «Deus» de Maomé. Os muçulmanos reconhecem Moisés e Jesus como profetas. Moisés e Jesus fazem parte da religião muçulmana. Todas as outras religiões do mundo são inaceitáveis aos olhos do Islão, porque nada têm a ver com a sua linhagem espiritual, por assim dizer. Por isso todo e qualquer religioso que não seja nem muçulmano, nem judeu, nem cristão, em princípio só pode ou aderir ao Islão ou então pagar com a vida a sua «shirk», que é o termo muçulmano que se aplica ao maior dos «pecados», a saber, a adoração de outro que não Alá. E o Deus dos Yazidis não é Alá, é Taus-Melek, como já aqui foi referido, noutros tópicos, como por exemplo este, entre outros: http://gladio.blogspot.pt/2014/08/querem-nos-extinguir-linhagem-loira-diz.html  
Taus-Melek é um Deus de origem indo-europeia, tal como os Iazidis são de origem indo-europeia - os Iazidis são os curdos que se mantiveram leais à religião antiga dos Curdos. Os restantes curdos converteram-se ao Islão, sendo alguns deles muito radicais, como acima se lê, na entrevista. Se há no mundo refugiados que mereceriam especial auxílio por parte da Europa, os Iazidis estão ou deveriam ser a prioridade, mercê do perigo que correm e sobretudo da identidade étnica que, definindo-os, os faz parentes étnicos da Europa. 

Como seria um templo da religião iazidi, caso pudesse ser livremente construído no Curdistão