sábado, maio 17, 2014

EXTREMA-DIREITA CONTINUA A AVANÇAR JUNTO DAS POPULAÇÕES EUROPEIAS

Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: http://pt.euronews.com/2014/05/14/extrema-direita-continua-a-seduzir-com-mensagem-contra-a-ue/   (o texto da notícia foi redigido sob o novo aborto ortográfico mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa)

Para muitos cidadãos as eleições europeias serão a oportunidade de expressarem o descontentamento com as instituições europeias em Bruxelas. Os partidos da direita euro-céptica deverão beneficiar desse fenómeno.
Em França, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, e na Holanda, o líder do “Partido da Liberdade”, Geert Wilders, destacam-se nas sondagens e pretendem formar, em conjunto, um grupo no Parlamento Europeu.
O enviado especial da euronews, Olaf Bruns, foi saber o que está por detrás destes votos, tanto na Holanda como no norte de França.
Hénin-Beaumont é uma pequena e pacata cidade numa antiga região mineira do norte de França. Mas ganhou fama quando, em Março passado, a Frente Nacional, partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, venceu as eleições autárquicas.
Talvez por causa dessa fama, poucos querem falar de política para as câmaras de TV, já que foram rotulados de racistas e autoritários. Mas quando a pergunta é sobre a União Europeia (UE), já há mais vontade de conversar.
Ao nosso enviado, alguns habitantes disseram: “A Europa só nos dá ordens e mais ordens!”; “Penso que houve um recuo social, sobretudo para os trabalhadores”; “Fazem muitas promessas, mas nada muda!”; “Antes vivia-se tranquilamente, sem estas restrições e novos impostos e tudo o mais”.
A maioria dos habitantes trabalhava nas minas de carvão, mas isso pertence ao passado. A zona industrial foi transformada em museu e classificada Património da Humanidade pela UNESCO, mas não é daí que vem o ganha-pão.

As desilusões com Bruxelas
Outrora a maioria força política, o Partido Comunista parece também ter fechado portas. Aliás, muitos juntaram-se à Frente Nacional, segundo o novo vice-presidente da câmara, Laurent Brice, que aponta as instituições europeias como culpadas. “Bruxelas deveria proporcionar segurança, o que não aconteceu. Deveria ter criado mais emprego, mas isso também não aconteceu. Deveria haver mais paz, mas vemos vários conflitos por toda essa Europa. Isso é o que Bruxelas representa agora para os nossos cidadãos”, disse o autarca.
O enviado especial da euronews refere que “na Holanda, Geert Wilders, líder do chamado “Partido da Liberdade”, não conquistou nenhum município, mas em Volendam obteve quase metade dos votos nas eleições europeias de há cinco anos”.
A pesca da enguia trouxe fama a esta localidade ao norte de Amesterdão, capital holandesa, mas a actividade está há anos em decadência. Muitas peixarias já vendem enguias vindas de outras regiões holandesas.

Financiamento sim, burocracia não
Um novo projecto de aquacultura devolveu alguma esperança aos moradores. A comunidade juntou-se para conseguir financiamento europeu, mas já as regras e burocracia da UE são encarados como um problema.
O gestor do projeto, Hein Koning, explica que “a directiva europeia da água é uma coisa boa em termos de combate à poluição. Mas quando se retiram os fosfatos da água em demasia, deixa de haver plâncton e por isso acaba-se o peixe”.
Patrick Schilder é um dos poucos pescadores que decidiu não se deixar intimidar pelas regras da UE, nomeadamente a que proíbe que outros peixes sejam mortos durante a apanha da enguia. Inventou, por isso, um aparelho que permite devolver ao mar as outras espécies, mas ainda vivas.
“Os pescadores têm grandes problemas com algumas directivas europeias. Em especial com a directiva-quadro da água e a directiva dos habitats das aves. Se cumprirmos essas directivas à risca, deixa de haver lugar aqui para nós, os pescadores”, explicou Patrick Schilder.
Críticas ainda mais fortes podem ser ouvidas na chamada “Casa da Conversa”, local onde se reúnem os reformados. Ninguém quer falar muito sobre os políticos nacionais, nomeadamente a presença da extrema-direita, mas já sobre a UE há muitas opiniões.
“Dos 28 países que fazem parte da UE, pelo menos 14 nem sequer deveriam ter entrado porque esses países não são realmente europeus”, disse um. “Todo este dinheiro que se está a dar à Grécia e à Espanha… para depois os gregos e os espanhóis virem investi-lo aqui na Holanda!”, rematou outro.
“Não tem aparecido ninguém com boas soluções”
Para analisar as intenções de Geert Wilders e de Marine Le Pen para o Parlamento Europeu, Olaf Bruns falou com Chris Aalberts, investigador de Comunicação Política da Universidade de Roterdão.
Questionado sobre se estes líderes da extrema-direita vão conseguir “demolir” a Europa, como anunciaram, o académico disse não acreditar nessa possibilidade.
“A questão mais importante nas eleições europeias é saber se os quatro partidos pró-Europa vão ter a maioria e é quase certo que os social-democratas, em conjunto com os democratas cristãos, vão ter essa maioria. Logo, o ponto é saber se este novo grupo será capaz de mudar as políticas no Parlamento Europeu. E a resposta é não”.
Mas mesmo que não possam fazer muito, estes políticos representam muitos eleitores frustrados com a UE. Olaf Bruns questionou se se pode, de facto, ignorá-los.
“Não tem aparecido ninguém com boas soluções, com novas formas de lidar com a União e com a crise do euro, ou com o facto de tantas pessoas terem medo ou estarem zangadas com a UE e com o processo de integração. Vão ser precisos muitos anos para que apareçam novas ideias sobre a forma de resolver esta crise de legitimidade, como eu a classifico”, acrescentou Chris Aalberts.