UM RETORNO

Pode ver-se acima o «Baco de Aldaya», estátua de mármore datada do século II d.c., encontrada em Aldaya, perto de Valência, e que está hoje no Museu Arqueológico Nacional de Espanha, sito em Madrid, uma peça de culto que tem uma curiosa e sintomática história, muito ilustrativa daquilo que é o cerne do Ocidente...

No século XIX, um camponês que arava as suas terras encontrou uma parte desta estátua e, julgando tratar-se de uma imagem de São Roque, guardou-a com o maior desvelo e veneração. Quarenta anos depois, um filho do camponês, arando o mesmo campo, encontrou o que restava da peça e constatou tratar-se não de um santo cristão mas sim de um Deus pagão, nada menos que o helénico Diónisos, ou Baco, Divindade do Êxtase, dos prazeres, subsequentemente do vinho, uma Entidade libertadora e ao mesmo tempo protector da fertilidade, que os Romanos consideraram equivalente a Líber. A estátua foi então vendida ao supracitado museu madrileno em 1931.

Um pequeno caso de fulgurante simbologia, como se no microcosmos reflectisse um macrocosmos - uma Verdade há muito combatida, reprimida, oficialmente esquecida e soterrada, que, como Verdade que é, volta ao de cima, à luz da vivência europeia, de maneira contraditoriamente, atravessando a barreira do engano cristão, mas desta feita em sentido contrário - tal como em tempos foi pela Cristandade derrubado e amaldiçoado, voltou na actualidade a um local de respeito através de um subproduto popular cristão, mas desde há séculos comprometido com o passado pagão que nunca fora totalmente esmagado, isto porque a Igreja, querendo capitalizar e cristianizar as formas culturais europeias, tentou sempre cristianizá-las, limitando-se em muitos casos a põr simplesmente um crucifixo por cima de património pagão...

Como aqui se pode ver, http://www.thyrsos.gr/englishevent121209.html, Baco é novamente celebrado com um sentido plenamente politeísta, e em particular nesta altura do ano, mais coisa menos coisa, nas proximidades do solstício de Inverno.