quarta-feira, janeiro 16, 2013

CIVILIZAÇÃO GAULESA SERIA MAIS AVANÇADA DO QUE SE SUPUNHA

A notícia já tem uns anitos, mas vale sempre a pena divulgá-la.

Uma descoberta arqueológica no centro de França, mais concretamente numa escavação em Corent, perto de Lyon, levou a uma revisão significativa a respeito dos Gauleses, antiga gente céltica que viveu no actual território francês antes e durante a ocupação romana e que os Franceses costumam tradicionalmente dar como seus ancestrais por excelência. Esta novidade reforça a ideia, já em voga em certos meios desde há algum tempo, de que, contrariamente ao que foi popularizado, os Gauleses eram na verdade muito mais avançados do que é comum pensar-se. Em vez de viverem em toscas cabanas, por exemplo, parece que, segundo dizem os arqueólogos, os Gauleses (ou pelo menos parte deles) viviam em edifícios esteticamente desenvolvidos, com telhados, situados em vilas com praças públicas ou foruns, e faziam, os Gauleses, manufactura metalúrgica tão complexa como qualquer coisa produzida pelos Romanos, isto já antes da vitória romana de 52 a.c..
A descoberta de Corent acima referida poderá ser, acreditam os arqueólogos, nada menos do que o palácio de Vercingetorix, o famoso líder gaulês que em meados do primeiro século antes de Cristo conduziu o seu Povo ou pelo menos grande parte deste contra as tropas romanas invasoras, e que viria mais tarde a ser estrangulado em Roma, depois de ter sido feito prisioneiro pelas tropas da Águia Imperial romana.
Matthieu Poux, professor de Arqueologia que dirigiu as escavações, deixou claro aquilo de que se trata: «O que descobrimos aqui prova que os Gauleses eram muito mais civilizados do que pensávamos. Os álbuns de Ásterix terão de ser completamente revistos, uma vez que se baseiam na imagem típica dos Gauleses que foi transmitida ao longo dos séculos, a de gente pré-histórica que vivia na floresta. Descobrimos que eles não só tinham estruturas militares complexas, mas também estruturas civis e mercantis. Até agora os Gauleses eram para os Franceses um Povo que vivia em cabanas entre as árvores, assustando as pessoas. Os pais ameaçariam as suas crianças dizendo-lhes que as mandavam para os Gauleses se elas não fossem dormir. Mas descobrimos grandes edifícios e espaços públicos que provam que havia gauleses de considerável estatuto social. Magistrados muito elevados ou nobres viviam aqui, possivelmente até mesmo Vercingetorix. Pensamos que estamos a trabalhar no sítio onde lhe foi conferida a liderança sobre toda a Gália de modo a combater a invasão romana
A equipa arqueológica de Poux tinha já dado de caras com vestígios de técnicas de construção desconhecidas, alicerces elaborados e tectos com telhas, o que, em conjunto, sugere que a arquitectura na Gália era tão avançada como a de Roma em 80 ou 70 a.c..
Encontram-se ainda indícios claros de um forum de estilo romano para reuniões públicas e de uma galerias de lojas, além de ferramentas de manufactura do ferro, moedas e escalas. A escavação, que até se tem concentrado em pequenos e localizados sítios, será então expandida por várias milhas na esperança de desenterrar uma cidade inteira.
Comentando as novas descobertas e as observações a respeito dos estereótipos popularizados pela banda desenhada de Asterix, a porta-voz da editora Albert René, que publica os livros de Ásterix, disse que a questão da revisão das aventuras do baixote gaulês da bigodaça loira não se põe, uma vez que estas têm por objectivo fazer rir as crianças, mais do que servirem como material educacional.

Em busca de um artigo em Português a respeito da notícia acima, para ver se não tinha de perder tanto tempo a traduzir, encontrei isto:

Paris, 19 Out 2011 (AFP) -Nenhum capacete alado, menires ou javalis: os "ancestrais gauleses" não se pareciam de maneira nenhuma com a imagem de Astérix, revela uma exposição inaugurada nesta quarta-feira, em Paris, no Museu das Ciências e da Indústria que, entre as peças mais raras, apresenta um "carnix", um instrumento musical da época.
Intitulada "Gaulois, une exposition renversante", Gauleses, uma exposição surpreendente, programada para até 2 de Setembro de 2012, a mostra tumultua todas as ideias sobre uma civilização que, das "Guerras Gálicas" de Júlio César às histórias em quadradinhos de Uderzo e de Goscinny, nutriu o imaginário colectivo dos franceses e foi instrumentalizada de acordo com as mudanças políticas.
Longe de serem guerreiros hirsutos, bárbaros e desordenados expulsando os romanos e fartando-se de devorar javalis, os gauleses pertenciam a uma "sociedade mais refinada e muito estruturada, tanto no plano político quanto social", disse François Malrain, arqueólogo e curador científico da exposição, junto com Matthieu Poux, professor de arqueologia.
A imagem foi construída através dos outros, principalmente os romanos, porque não aparece nos raros textos gauleses conservados, explicou Maud Gouy, curador geral.
Abandonada pelos reis da França, foi "reabilitada" a partir dea Revolução Francesa, legitimando uma "nação ancorada num território" e a serviço "do aprumo nacional" nos "canteiros da juventude" de Vichy.
Descobre-se visões picturais "românticas" de Vercingétorix, pintado principalmente durante a queda de Alesia, em 52 antes de nossa era e todos os produtos (sabão, cerveja, pneus e cigarros) que a imagem publicitária do gaulês faz vender.
Mas, na realidade, os gauleses eram "agricultores astuciosos e criadores que dispunham de um savoir-faire e de uma destreza extraordinárias na metalurgia, não igualada por nenhum outro povo da Antiguidade" e "não esperaram os romanos e os gregos para se civilizar", destacou Malrain.
Pedagógica e lúdica, a exposição sintetiza as descobertas arqueológicas dos últimos 30 anos, feitas em sítios arqueológicos escavados junto a estradas e vias férreas, ou ao longo do canal Sena- Norte da Europa (Compiègne-Maubeuge), considera Malrain.
Objectos, filmes, canteiros arqueológicos e oficinas, e animações: concebida em cinco partes, entre elas a primeira, consagrada a "2000 anos do imaginário gaulês", permite um olhar ao quotidiano dos habitantes da Gália setentrional e central antes da conquista romana (entre 250 e 52 antes de nossa era).
No total, isso representa cerca de 60 tribos celtas, "nossos ancestrais tanto quanto os homens do Neolítico ou da Idade do Bronze", disse Paul Salmona, director de desenvolvimento cultural no Inrap (Instituto nacional de Pesquisas Arqueológicas Preventivas), um dos produtores da exposição.
O visitante descobre tesouros do santuário de Tintignac (sítio sagrado de Limousin), entre eles uma reconstituição em miniatura animada de uma cerimónia religiosa, com sacrifícios de animais, banquete, música e jogos.
Joias, moedas, armas, utensílios ou estátuas... a arte dos gauleses mostra uma modernidade impressionante que faz lembrar Picasso ou Brancusi.
A última parte da exposição convida o visitante a comparar a sua nova visão do mundo gaulês com a que tinha antes de chegar, uma visão cheia de mitos, "ainda veiculada nos manuais escolares", lamentam os arqueólogos.

De resto, já em antigos textos clássicos havia indícios claros de que os Gauleses não seriam tão boçais como alguns quiseram que eles parecessem. Pode por exemplo encontrar-se o seguinte trecho na obra de Júlio César intitulada «A Guerra das Gálias» (De Bello Gallico), livro VII, XXII:
«Ao singular valor dos nossos soldados, os Gauleses opunham todo o género de invenções: porque é uma raça de extrema engenhosidade, e que tem as maiores aptidões para imitar e realizar quanto vê fazer.»(...)


5 Comments:

Blogger Afonso de Portugal said...

Matthieu Poux disse...
«Até agora os Gauleses eram para os Franceses um Povo que vivia em cabanas entre as árvores, assustando as pessoas.»

Acho deveras surpreendente que um professor de arqueologia seja capaz de proferir uma obscenidade destas. Se fosse um cidadão francês comum, ainda era como o outro. Mas este senhor tinha obrigação de fazer melhor.

Então se até os homens das cavernas do sul de França, que viveram há mais de 30 000 (trinta mil) anos atrás, revelaram grande sensibilidade e precisão
nas gravuras rupestres que deixaram
, como é que os seus descendentes Gauleses, que apenas desapareceram há cerca de 2000 (dois mil) anos, haviam de ser primitivos?

17 de janeiro de 2013 às 19:46:00 WET  
Blogger Caturo said...

Não, caro camarada, ele estava precisamente a caricaturar esse estereótipo...

18 de janeiro de 2013 às 01:05:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"os seus descendentes Gauleses"

Não existem provas arqueológicas ou antropológicas em como os Gauleses fossem descendentes dos povos paleolíticos que pintaram as grutas de Lascaux.

18 de janeiro de 2013 às 10:40:00 WET  
Blogger Afonso de Portugal said...

Caturo disse...
«Não, caro camarada, ele estava precisamente a caricaturar esse estereótipo...»

De facto, pondo a afirmação no seu devido contexto, é isso que se deduz.

18 de janeiro de 2013 às 18:19:00 WET  
Blogger Afonso de Portugal said...

Anónimo disse...
«Não existem provas arqueológicas ou antropológicas em como os Gauleses fossem descendentes dos povos paleolíticos que pintaram as grutas de Lascaux.»

Também não existem provas em contrário. Portanto, é perfeitamente razoável colocar a hipótese de que as tribos celtas que deram origem aos gauleses se tenham misturado, pelo menos parcialmente, com os habitantes pré-celtas da Gália.

De resto, eu não pretendi afirmar taxativamente que TODOS os gauleses descendem dos povos que pintaram as grutas. O que eu pretendi dizer é que me parecia pouco razoável alguém vir sugerir que os Gauleses eram um povo de selvagens atrasados quando já havia outros povos muito antes deles na região, que até tinham demonstrado grande sensibildiade artística. E que até poderiam ser -pelo menos em parte- ancestrais dos Gauleses.

Seja como for, a gruta a que eu me referi, Chauvet-Pont-d'Arc, não faz parte do sistema de Lascaux.

18 de janeiro de 2013 às 18:39:00 WET  

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