«GUERREIRO DE ROMA»
Quem gosta de contemplar as raizes étnicas da Europa no seu vigor pagão, ou então simplesmente o épico histórico bem composto com erudição científica tranquilizante - tranquilizante na medida em que se pode confiar, relativamente, nas informações fornecidas na escrita - não deixará de saber apreciar a obra intitulada «Guerreiro de Roma», com três volumes já publicados em Portugal, da autoria do historiador e professor universitário inglês Harry Sidebottom. Trata-se basicamente dos feitos de um «general» de Roma, aliás, um «dux ripae» superficialmente, ou quase profundamente romanizado, que na verdade é um germano do Povo dos Anglos que viveu desde cedo entre romanos e a acaba por ter em si a convergência desses dois grandes blocos étnicos europeus da sua época. A acção tem lugar a partir da segunda metade do século III em diante, quando o Império Romano já começava a ser corroído pela Cristandade, que, como autêntica sociedade paralela, foi minando a Romanidade. É especialmente interessante, a este propósito, a passagem em que um dos cristãos que a princípio se assume como uma espécie de «moderado» é confrontado com as palavras do apóstolo Paulo a incitar os cristãos a não cumprirem a lei romana e aí despenca-se-lhe a compostura e a moderação, o que curiosamente não deixa de fazer lembrar o que actualmente sucede em solo europeu com um credo da mesma origem étnica e mesma natureza espiritual que o Cristianismo... Há também espaço para referir o que teriam sido as reacções pagãs mais radicais contra a subversão cristã.
A narrativa é variada e enriquecida, entre os detalhes etnográficos e religiosos sobretudo, a intriga palaciana particularmente envolvente, a violência brutal, e cruel, das batalhas e dos temperamentos, o orgulho tradicional da velha cepa romana, a fabulosa estética da Pérsia, conseguindo a conjugação dinâmica de tudo isto criar um quadro tão vivo quanto é possível em páginas de papel escritas...
Muitos dos pormenores da saga são quase inventados pelo autor - mas este tem a seriedade de, nas notas finais de cada volume, especificar o grau de rigor com que escreve isto ou aquilo. Reconhece por exemplo que há poucas probabilidades de a personagem histórica real que Sidebottom transformou em central deste épico, Marco Clódio Balista, ter sido realmente um germano... afirma de qualquer modo que se este não fosse germânico, outros líderes militares de Roma foram-no seguramente, ou na época ou pouco mais tarde...
Sendo inglês, o autor puxa naturalmente a brasa à sua sardinha, de maneira inofensiva e sem consequências, ao fazer de Balista, cujo nome original seria, na obra, Dernhelm filho de Isangrim, nada menos do que o filho de um líder anglo... dos Anglos, portanto, antepassados formais dos Ingleses, como o próprio nome ajuda a perceber. Coincidentemente, os seus «escravos», aliás, amigos subordinados, pertencem igualmente a grupos étnicos que de algum modo fazem lembrar o Reino Unido: Máximo é irlandês e Calgaco é caledónio, estes são aqueles a quem sói chamar-se companheiros de armas, e depois ainda há um rapazito grego que também tem a sua utilidade especificamente cultural. O que traz à mente a hipótese de o autor querer sintetizar ali a raiz do britânico actual - o inglês ou anglo é que manda, mas em (alegada) harmonia com o goidélico (o irlandês/escocês) e o britónico (o caledónio, nesses tempos; na actualidade, o galês e, teoricamente, o córnico); diversidade celto-germânica sobre um fundamento de cultura helénica e tudo isto unido e solidificado pelo enquadramento romano, ou não fosse Roma, odiada por muitos, a raiz estrutural do Ocidente, e mesmo étnica de boa parte do mesmo... E pelo meio ainda aparece fugazmente um hispano, que é «bófia» secreto (frumentarius) a espiar o herói, juntamente com um italiano de Roma e um norte-africano, mas que se porta com nobreza em combate e com nobreza morre. Mais uma vez, desta feita provavelmente por coincidência, ou porque eu esteja à procura da dita, a dualidade do hispano diante do britânico - por um lado, oponente (o castelhano), por outro, leal aliado (o português)...
Sendo inglês, o autor puxa naturalmente a brasa à sua sardinha, de maneira inofensiva e sem consequências, ao fazer de Balista, cujo nome original seria, na obra, Dernhelm filho de Isangrim, nada menos do que o filho de um líder anglo... dos Anglos, portanto, antepassados formais dos Ingleses, como o próprio nome ajuda a perceber. Coincidentemente, os seus «escravos», aliás, amigos subordinados, pertencem igualmente a grupos étnicos que de algum modo fazem lembrar o Reino Unido: Máximo é irlandês e Calgaco é caledónio, estes são aqueles a quem sói chamar-se companheiros de armas, e depois ainda há um rapazito grego que também tem a sua utilidade especificamente cultural. O que traz à mente a hipótese de o autor querer sintetizar ali a raiz do britânico actual - o inglês ou anglo é que manda, mas em (alegada) harmonia com o goidélico (o irlandês/escocês) e o britónico (o caledónio, nesses tempos; na actualidade, o galês e, teoricamente, o córnico); diversidade celto-germânica sobre um fundamento de cultura helénica e tudo isto unido e solidificado pelo enquadramento romano, ou não fosse Roma, odiada por muitos, a raiz estrutural do Ocidente, e mesmo étnica de boa parte do mesmo... E pelo meio ainda aparece fugazmente um hispano, que é «bófia» secreto (frumentarius) a espiar o herói, juntamente com um italiano de Roma e um norte-africano, mas que se porta com nobreza em combate e com nobreza morre. Mais uma vez, desta feita provavelmente por coincidência, ou porque eu esteja à procura da dita, a dualidade do hispano diante do britânico - por um lado, oponente (o castelhano), por outro, leal aliado (o português)...
Aguardo com receosa impaciência os dois volumes seguintes já publicados no Reino Unido, cuja acção tem lugar em áreas geográficas mais setentrionais, e digo que é temerosa esta irritação porque estou mesmo a ver que só com muita sorte é que vem um deles até ao Natal... a ver vamos.
13 Comments:
Ó Caturo, já viste esta notícia?
http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/caixa-vende-hpp-aos-brasileiros
Os portugueses - mais uns do que outros - são mesmo tontos. Agora cada aldeia ou vila quer converter-se em pólo turístico e cultural. Esta pretensão é demasiado ridícula para ser levada a sério. Onde estão os agentes culturais? Ainda não compreenderam que a mentira institucional chegou ao fim!!!
Nem uma palavra a respeito deste evento de produção nacional. Porquê?
http://cinema.sapo.pt/filme/as-linhas-de-wellington/detalhes#sinopse
"Império Romano já começava a ser transformado pela Cristandade, que, como autêntica sociedade transparente, foi destruindo o paganismo que a perseguia."
Fixed
Descobri Ken Follett ao acaso e foi assim, amor à primeira vista. Comprei todos e devorei-os. Os melhores: "Pilares da Terra", "Mundo Sem Fim" e "Nome de Código Leoparda". Vale muita a pena.
Agora é esperar pelo próximo da Queda dos Gigantes...
http://www.ken-follett.com/bibliography/index.html
Sem dúvida nenhuma o melhor romancista da actualidade.
É escrito de acordo com o acordo ortográfico?
neste momento estou a ler "minha luta" uma edição de 1939 , é sempre bom a divulgação quer de musica quer de livros
«"Império Romano já começava a ser transformado pela Cristandade, que, como autêntica sociedade transparente, foi destruindo o paganismo que a perseguia."»
Não, é mais correcto assim:
Império Romano já começava a ser infiltrado pela Cristandade que, como autêntica sociedade paralela, subversiva e parasitária, ia usurpando ao Paganismo o que não era seu, usufruindo, demasiadas vezes, da ingénua tolerância pagã.
"Império Romano já começava a ser infiltrado pela Cristandade que, como autêntica sociedade --------, ------- e -------, ia ------ ao Paganismo o que não era -------, usufruindo, demasiadas vezes, da ------- ------- pagã."
(Caturo=>introduzir tretas no tracejado)
Clear
«(Caturo=>introduzir tretas no tracejado)»
Não - o beato já fez isso (até nisso a hoste cristã é imitadora/usurpadora :) ).
«Clear»
Agora é que ficou realmente clear.
É escrito de acordo com o acordo ortográfico?
Por enquanto,não:)
"Por enquanto,não:)"
A pergunta era sobre o livro "Guerreiro de Roma". Estás-me a responder sobre isso?
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