terça-feira, abril 24, 2012

DIRECTOR DO PROGRAMA DE TEORIA DA FLUL CONDENA ACORDO ORTOGRÁFICO - E LUSOFONIA

Não por motivos estritamente nacionalistas, bem entendido, que uma coisa dessas seria boa de mais para ser verdade da parte de um tão destacado membro da elite... mais abaixo já se verá porquê:

Crítico do Acordo Ortográfico (AO), o director do programa em Teoria da Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa não reconhece ao Estado o direito de legislar sobre a língua. Na ideia de lusofonia que hoje serve para justificar o AO, Miguel Tamen vê a recuperação da mesma utopia que serviu à direita para defender o imperialismo colonial português. Pronta a passar atestados de incompetência aos cidadãos, “a esquerda portuguesa é, afinal, a direita portuguesa por outros meios”, lamenta.
(...)
Considero o acordo uma péssima ideia e uma ideia inútil, mas por razões diferentes daquelas que tenho visto apresentar. Há pessoas que dizem que o acordo é mau porque foi tecnicamente mal feito; há outros que consideram que o acordo é mau porque é inválido e porque, juridicamente, não está em vigor; há ainda as pessoas que criticam o acordo como erro político, uma cedência a países terceiros; aqueles que são contra por entenderem que o acordo é ineficaz, por não existir um modo exequível ou prático de o implementar; e, por fim, os que o rejeitam por acharem que coisas como a língua não devem ser objecto de legislação e acordos. Percebo todas estas posições e concordo essencialmente com a última, mas a minha objecção principal não coincide com nenhuma destas.
Qual é então essa sua principal objecção?
Eu acho que o acordo é mau porque a ideia de lusofonia é má. Na minha opinião, tudo o que invoque a noção de lusofonia me parece deplorável.
Porque considera má a noção de lusofonia?
Por duas ordens de razões. Começando pela mais abstracta, porque pressupõe que, como um dado adquirido, países ou pessoas possam estar unidos por uma língua. E pressupõe que uma língua faz parte de um património – e de um património que precisa de ser defendido. Não acho que as pessoas precisem de ser defendidas por uma língua, não acho que a língua seja património e, por isso, não acho que exista alguma necessidade especial de defender o património da língua. Esta é a primeira ordem de razões. Mas há outra, que é mais desagradável, que me faz entender a lusofonia como uma noção errada: a noção de lusofonia corresponde em Portugal, historicamente, a uma espécie de colonialismo de esquerda, à ideia de que, desaparecido o império colonial português, seria possível manter um seu substituto espiritual.
Uma espécie de irmandade de armas?
Sim, uma espécie de irmandade. É como que a versão de esquerda de uma causa que nos anos 40 era defendida com a ajuda de palavras como “fé”, “império” ou “religião”. Hoje já não se fala de fé, nem de império ou religião, mas fala-se de lusofonia. Com motivações muito parecidas. (...)
A ideia de excepcionalismo português é usada para encontrar justificações políticas para toda uma série de acções.
Quais, por exemplo?
Se um angolano for cleptocrata, só porque fala português é menos cleptocrata. E se um timorense for mártir, só porque fala português é mais mártir. Ora não é nem menos cleptocrata nem mais mártir. Falar português não acrescenta nem tira nada. Recorremos a esta noção para pensarmos que somos especiais. A ideia de imaginar que um país é especial por causa da língua é tão nefasta como imaginar que se é especial por motivo da raça ou da cor da pele, ou dos sapatos que calçamos, ou do penteado.
(...)
Os problemas de compreensão não ocorrem por causa da ortografia e não são resolvidos graças à ortografia. Os problemas de compreensão ocorrem, por exemplo, no caso daquilo a que se chama eufemisticamente “português do Brasil”, por causa da sintaxe, ocorrem por causa da pronúncia, ocorrem por causa de um sistema de formas de tratamento completamente diferente, ocorrem por um vocabulário que nalguns casos é completamente diferente e, portanto, nenhuma medida de ortografia e nenhuma medida de leis sobre ortografia vai resolver problema nenhum.
A favor do AO diz-se ainda que o número de palavras cuja grafia é alterada é relativamente pequeno.
É verdade, mas é igualmente verdade que as palavras cuja grafia sofre alteração tendem a aparecer concentradas em determinados contextos. De repente, vemos proliferar num ecrã de televisão palavras como “espetadores” e “atuais”. Ocorre-me a descrição de um fragmento muito conhecido de Fernando Pessoa no “Livro do Desassossego” que nunca é citado no seu conjunto. A primeira parte é “Minha pátria é a língua portuguesa” e o resto deste fragmento diz “Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal portuguez, não quem não sabe syntaxe, não quem escreve em orthographia simplificada, mas a pagina mal escripta, como pessoa própria, a syntaxe errada, como gente em que se bata, a orthographia sem ípsilon, como escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse”.
(...)

Pois, porque afinal Fernando Pessoa não era tão mundialisto-lusofoneiro como alguns querem fazer crer que era com a citação da primeira parte da sua conversa sobre a pátria ser a língua portuguesa... afinal ele referia-se à língua portuguesa escrita com as regras, e logo por acaso as regras de cá...

Não posso por outro lado concordar com o que diz Tamen sobre a língua nacional não ser património - pelo menos em termos étnicos é, seguramente, um dos pilares da identidade, tal como a raça, o folclore e a religião.
A respeito do que diz Tamen sobre a lusofonia e o imperialismo... o que Tamen não chega a dizer é o resto - sucede simplesmente que a Esquerda, como visceralmente internacionalista que sempre foi, quer usar todos os instrumentos possiveis e imaginários para romper as barreiras que impedem a construção de um mundo sem fronteiras. A língua é aqui, não um veículo para criar privilégio ou fazer alguém sentir-se especial, como ingenuamente se poderia pensar, mas precisamente para o contrário - a lusofonia é, nas mãos da Esquerda, bem menos uma fonte de privilégio do que de rompimento. A ideia não é pois exaltar «eleitos» mas sim deitar abaixo as fronteiras raciais e étnicas que diferenciam o Nós do Outro.
Assim, enquanto a «Direita» cristã e colonialista queria usar o idioma de Camões como veículo de afirmação imperial da Pátria, objectivo obviamente condenável à luz do Nacionalismo coerente, a Esquerda actual quer pegar na lusofonia para dela fazer um instrumento de diluição das fronteiras étnicas, objectivo que é evidentemente muito mais condenável ainda para qualquer perspectiva nacionalista. Não haja dúvida alguma de que, se por um lado a cambada lusofoneira politicamente correcta pode, numa primeira fase, pretender que o cleptocrata angolano é mais porreirinho que outros só porque fala Português, numa segunda fase, de resto há muito claramente ultrapassada, a mesmíssima cambada lusofoneira politicamente correcta acolhe com prazer o nigeriano das obras que seja bom atleta e saiba dizer duas palavras em Português - mas acolhe de braços (e pernas) abertos e sorriso entre o angelical e o maravilhado estampado nas fuças, não deixando de guinchar histericamente que «este é que é o português do futuro!, este é o caminho, a verdade e a vida e ninguém chega à Felicidade senão por ele, aleluia!!!»

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

«DIRECTOR DO PROGRAMA DE TEORIA DA FLUL CONDENA ACORDO ORTOGRÁFICO - E LUSOFONIA

Não por motivos estritamente nacionalistas,»

Não por motivos estritamente nacionalistas, nem por parcialmente nacionalistas, nem por nacionalistas sequer, mas sim por motivos esquerdistas: ele não fez mais do que dizer que o acordo é imperialista para os coitadinhos dos "lusófonos" do terceiro mundo e que nós somos os mauzões imperialistas.

Não há nada de nacionalista nas objecções desse homem ao Acordo.

24 de abril de 2012 às 21:27:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

não deixando de guinchar histericamente que «este é que é o português do futuro!, este é o caminho, a verdade e a vida e ninguém chega à Felicidade senão por ele, aleluia!!!»

eu ri muito..lolol

25 de abril de 2012 às 01:17:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Não por motivos estritamente nacionalistas, nem por parcialmente nacionalistas, nem por nacionalistas sequer, mas sim por motivos esquerdistas: ele não fez mais do que dizer que o acordo é imperialista para os coitadinhos dos "lusófonos" do terceiro mundo e que nós somos os mauzões imperialistas.

Não há nada de nacionalista nas objecções desse homem ao Acordo.

pois, agora temos argumentos de direita e esquerda contra o acordo..lol

25 de abril de 2012 às 01:18:00 WEST  

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