terça-feira, março 27, 2012

JORNAL «I» PUBLICA REPORTAGEM QUE DENUNCIA O USO DE DINHEIROS PÚBLICOS PARA FINANCIAR TOURADAS

Fonte: http://semtouradas.posterous.com/rescaldo-de-uma-reportagem-do-jornal-i-sobre
O dossiê da jornalista Marta E. Reis – Touros. Sem subsídios, mas com milhares de euros vindos da Europa – é composta de três partes:

1) Campanha anti-tourada gera polémica ao acusar a EU de andar a financiar criação de touros. “Demagogia” respondem ganadeiros – o corpo principal;
2) “Tenho a certeza que as touradas serão banidas em Portugal” – entrevista com o Dr Jordi Casamitjana, zoólogo e etólogo; e
3) Fundos europeus para remodelar praças – obras na Azambuja, Estremoz e Santo António das Areias.

Foram ouvidas as duas partes sobre o assunto central que expuseram as suas razões. Mário Amorim «denunciou» o escândalo de subsídios. Os denunciados, Joaquim Grave e Diogo Costa Monteiro, agrupados em torno da «Federação das Portuguesa das Associações Taurinas», expuseram os argumentos, já sobejamente conhecidos, que «o touro não sofre» e que «o movimento [anti-taurino] é virtual». São ouvidos igualmente ganadeiros dirigentes da «Associação Portuguesa de Criadores de Touros de Lide» para exporem o seu ponto de vista. Um emaranhado de explicações para dizerem que não vivem na marginalidade da lei, não havendo sequer subsídios à tauromaquia, mas à produção de reses.
A acusação do Mário Amorim, como é reconhecido pela jornalista, tem uma denúncia reforçada pelo eurodeputado catalão Raúl Romeva i Rueda, «crítico das touradas» que foi ouvido e informa que a questão vai mais longe, já que fundos europeus foram usados para se construírem praças de touros. Uma confusão que o leitor menos atento não perceberá.
Aborda-se no dossiê um conjunto de autarquias, onde «desde 2005, 34 Câmaras Municipais gastaram 11,3 milhões de euros em apoios, compra de bilhetes ou corridas». Das 29 que constam do sítio da Associação Nacional dos Municípios Portugueses com actividade taurina, 6 responderam à jornalista nesta reportagem e «justificaram o investimento pela importância da tauromaquia no concelho e o retorno económico», mas nada que o movimento abolicionista da tauromaquia não soubesse já.
A entrevista ao Dr Casamitjana é interessante e equilibrada e aborda nas 4 questões colocadas, uma de importância fundamental para o conhecimento público: o sofrimento do touro. À pergunta da jornalista: O sofrimento dos animais está bem documentado na literatura científica? Responde o zoólogo e etólogo da Animal Protection Consultancy: Qualquer livro no mundo sobre biologia básica é um bom exemplo de documentação do sofrimento animal. …» A pergunta fazia todo o sentido, porquanto, o veterinário Grave, da PróToiro, não se cansa de repetir, e voltou a fazê-lo nesta reportagem, que «pode haver uma dor imediata, mas o sofrimento exige uma consciência reflexiva».
(...)
Em suma, uma reportagem interessante, onde se fica a saber com algum destaque público, que a União Europeia entrega dinheiro a ganadeiros, chame-se subsídios, apoios, donativos, ofertas, para criação de gado manso e bravio que vai parar às touradas, que há Câmaras (e Juntas) que entendem que é seu dever injectar fundos públicos num bem cultural e turístico da sua região porque «tem retorno». Quanto ao sofrimento dos animais, não restam quaisquer dúvidas, o Dr Casamitjana denunciou a ignorância.
Fiquei apenas a saber que um dos dois dirigentes da Federação Portuguesa das Associações Taurinas, Joaquim Grave ou Diogo Costa Monteiro, «falam de um ataque demagógico e “fascista” contra um espectáculo legal». Não deixa de ser interessante constar a existência da difamação e injúria a permearem a linguagem de aficionados, responsáveis e dirigentes associativos.
Resta saber se isto não deve ser matéria do conhecimento da Procuradoria-Geral da República para efeitos das suas competências exclusivas.
(...)

Faz de facto falta mais vigilância e menos bandalheira...