segunda-feira, maio 30, 2011

TELENOVELA BRITÂNICA «EASTENDERS» É AGORA BRANCA DE MAIS

Rita Simons, uma das actrizes de Eastenders - bons tempos em que todas as inglesas que se viam na cidade eram assim...
No Reino Unido, o director executivo da BBC, John Yorke, admitiu que a popular telenovela «Eastenders» é racialmente muito mais branca do que o verdadeiro East End, área da zona oriental de Londres...
Assim, a telenovela «Eastenders» não mais oferece um retrato realista da vida da classe trabalhadora, pois que não é tão multicultural como a verdadeira East End de Londres.
Yorke explicou: «não é realista nesse aspecto mas procuramos uma verosimilhança emocional
E acrescenta que a série é, de qualquer modo, «mais multicultural do que há cinco anos e é facilmente o programa mais multicultural na televisão
Justifica-se entretanto, dizendo que «a vida real muda muito mais rapidamente do que as suas representações na televisão. As telenovelas chegam a um ponto em que enfrentam uma grande decisão - manter-se fiéis à visão original ou deitá-la fora para se adaptarem a um mundo em mudança? Eu acho que a verdade está algures no meio.»

É curioso que esta questão seja sequer colocada... então no caso da série da BBC há pouco cancelada por ter quase só brancos, o mal era ter só brancos, mesmo que no meio retratado pela série haja quase só brancos... mas agora, no caso de uma novela que se passa num meio já miscigenado, agora o realismo já interessa... Em suma: o que interessa mesmo é meter imagens de negros em interacção com brancos pela casa adentro da população, porque sim, porque tem que ser, ao branco não pode ser deixado nenhum canto da sua existência que seja só branco...
Mas esta novela, Eastenders, por outro lado, e aparentemente em contradição, nem tem demasiados não brancos... Porque o que é preciso mostrar é que com o multiculturalismo isto fica eternamente equilibrado e nenhum Povo perde terreno, pois não... como na banda desenhada Disney, em que o Donald há-de sempre ser o Donald com os sobrinhos que nunca hão-de envelhecer...

Ou então é simplesmente uma manifestação da necessidade humana de estabilidade... o indivíduo gosta de acreditar que «tudo isto» à sua volta vai ser sempre como agora é, sem drásticas e negativas alterações que lhe infernizem a vida. Gosta de acreditar e na verdade acredita mesmo, porque de facto é verosímil - a maior parte da vida humana é feita de rotina e a rotina, por mais defeitos que lhe apontem, transmite e implica uma certa tranquilidade. Pelo menos uma sobrevivência estável. É por isso perfeitamente verosímil pensar-se que o nosso querido e pequeno paisinho à beira-mar plantado há-de ser toda a vida brando e pacato, e que se vai poder continuar ad aeternum a apanhar o autocarro na paragem junto ao prédio para ir trabalhar, tomar o pequeno-almoço no café do Chico, almoçar nalguma tasca jeitosa ali perto e às seis voltar placidamente a casa para ver televisão, passando as vistas sempre pelas mesmas pessoas e paredes. É a vidinha, a doce vidinha serena, que parece nunca vir a mudar até um dia em que muda mesmo. A vidinha «real», ou que o indivíduo tem a ilusão de ser sempre real, sem perceber, na maior parte dos casos, o quão vulnerável e mutável é esse estado de existência, como dizia René Guénon. Assim, para o cidadão comum, embrutecido ou anestesiado pelo rame-rame do trabalho e da vida familiar, dos transportes e dos cafés, do  futebol, dos telejornais e das séries televisivas de sucesso, não é fácil acreditar que o seu meio pode vir a transformar-se, em dez ou vinte anos, numa desgraça de violência tropical ou numa arena de mulheres tapadas até aos olhos e alfanges a pender sobre as cabeças dos infiéis que parecerem desrespeitar o Islão.
Mas é possível que tal disposição diante da realidade comece também ela a mudar... ao fim ao cabo, quem tiver alguma memória recorda-se que há vinte anos a sua cidade - seja Londres, no caso, ou Lisboa - era outra coisa, em todos os aspectos, e em tudo era diferente para melhor...
E pode voltar a ser, até melhor do que antes - mas só com um forte poder nacionalista.