sexta-feira, abril 29, 2011

HÁ MOIRAS E MOIRAS...

Anta da Arquinha da Moira (Lajeosa)
Deste magnífico trabalho
, retira-se o seguinte trecho:
(...)
Muitos conhecem as célebres lendas de mouras e mouros encantados, tão disseminadas por este País fora, do Algarve ao Minho e Trás-os-Montes.
É evidente que há também lendas de mouros e mouras a referirem-se especificamente ao povo que aqui habitou desde o séc. VIII, como é o caso da lenda de Moura ou da moura Ardinga, de Lamego. Mas não creio que pertençam ao mesmo paradigma. Nem que seja válido o argumento de que as primeiras são «encantadas», porque o povo que as criou se referia a um povo que lhe era estranho, pela atracção e terror simultâneos que inspiraria. Historicamente, esse povo mouro que aqui esteve foi, em boa parte, moçárabe e mudéjar (fruto bem misturado de cristão e muçulmano), onde a estranheza não estaria, decerto, assim tão presente.
Recordemos que, já no tempo de D. Afonso Henriques, Chaves era governada por um emir muçulmano (1160) e que o bispo de Lisboa se aliou à população contra as tropas do nosso primeiro rei, apoiadas pelos Cruzados, o que lhe valeu a decapitação.
Mais uma vez, convém fazer a destrinça entre a realidade da elite governativa e da classe dominante, por excelência urbana e cosmopolita, e uma outra realidade bem diferente, a do povo miúdo, sobretudo rural pagão, no genuíno significado desta palavra, o pagus, ou campo –, afinal o autor destas lendas e, simultaneamente, guardião essencial da nossa continuidade. E, de facto, estas são lendas de cariz popular e não erudito, pertencem à tradição oral e não escrita, como defendem também Alinei e Benozzo (op. cit.). Casos como lendas do tipo da de Moura ou de Lamego terão, talvez, um fundo histórico e erudito, enquanto as outras terão um fundo mítico-religioso, não confundível com o povo muçulmano.
Haverá, numa ou noutra lenda, e como é natural, um contágio inevitável, mas isso não impede que tenhamos de distinguir e de considerar dois paradigmas distintos. Porque tudo o que está subjacente nas lendas de mouras e mouros encantados é claramente diferente e tem um outro sentido, também claramente muito diverso. E esse sentido torna-se mais nítido e evidente se o virmos à luz desta nova teoria (ou PCP) e se o confrontarmos com o que sabemos da cultura celta primitiva.
Analisando este fenómeno das lendas das mouras encantadas, é curioso anotarmos que um dos instrumentos de que os arqueólogos se servem para localizar vestígios pré-históricos seja precisamente a existência persistente deste lendário em certas regiões e certos locais do País.
Coincidências? Por via de regra, onde há uma lenda de mouras encantadas, há uma anta, um megalito, um castro, uma gruta utilizada nesses milénios recuados ou uma outra qualquer manifestação, como a arte rupestre. Por via de regra, também, esses mesmos vestígios têm, «por coincidência», o nome de «pedra da moura», «cova da moura», «pala da moura», «casa da moura», «poço da moura», ou outro semelhante.
(...)

19 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Qual a percentagem de casais mistos em Lisboa???

29 de abril de 2011 às 22:31:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

http://www.humanevents.com/article.php?id=35753


Muslims Exempt from Death Penalty in U.S.?

30 de abril de 2011 às 04:04:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

http://www.destakes.com/redir/91963a6dfef993a093b59240638e335a

mais uns que se sentem com "direitos"
a casa nova , sim porque os tipos em troca dão mais "riqueza" .
1143-(não consigo comentar através da conta do Google)

30 de abril de 2011 às 12:13:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

"Vê-se que o espaço público falta cruelmente em Portugal. Quando há diálogo, nunca ou raramente ultrapassa as «opiniões» dos dois sujeitos bem personalizados (cara, nome, estatuto social) que se criticam mutuamente através das crónicas nos jornais respectivos (ou no mesmo jornal).
O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso. É uma espécie de argumento de autoridade invisível que pesa na discussão: se é X que o diz, com a sua inteligência, a sua cultura, o seu prestígio (de economista, de sociólogo, de catedrático, etc.), então as suas palavras enchem-se de uma força que não teriam se tivessem sido escritas por um x qualquer, desconhecido de todos. Mais: a condição de legitimação de um discurso é a sua passagem pelo plano do prestígio mediático - que, longe de dissolver o sujeito, o reforça e o enquista numa imagem «em carne e osso», subjectivando-o como o melhor, o mais competente, o que realmente merece estar no palco do mundo".

José Gil

30 de abril de 2011 às 12:29:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Reflexões sobre a Guerra

"As vantagens do aumento da amplitude das unidades sociais são principalmente evidentes em caso de guerra. De resto, a guerra foi em todos os tempos a causa principal desse crescimento, da transformação das famílias em tribos, das tribos em nações e das nações em coligações. Nas muito embora seja grande o interesse das nações poderosas em triunfar, algumas começam a compreender que há qualquer coisa preferível à própria vitória, que é evitar a guerra. No passado, a guerra era às vezes uma empresa proveitosa. A Guerra dos Sete Anos, por exemplo, proporcionou aos ingleses excelente rendimento em relação ao capital nela empregado, e os lucros conseguidos pelos vencedores nas guerras primitivas foram ainda mais evidentes. Mas o mesmo não sucede nos conflitos modernos, por duas razões principais: primeiro, porque os armamentos se tornaram extremamente caros; segundo, porque os grupos sociais envolvidos numa guerra moderna são muito importantes.
É um erro pensar que a guerra moderna é mais destruidora de vidas do que o foram os conflitos menos importantes de outrora. Antigamente, a percentagem das perdas em relação aos efectivos envolvidos na luta era por vezes tão elevada como hoje; e além das perdas em combate, as mortes causadas pelas epidemias eram em geral numerosas. Repetidamente se encontra, na história antiga e medieval, notícia de exércitos inteiros praticamente exterminados pela peste. A bomba atómica, evidentemente, é mais espectacular, mas mesmo onde ela foi empregada, a taxa de mortalidade não foi tão forte como em muitas outras guerras anteriores. A população do Japão aumentou cerca de cinco milhões durante a Segunda Guerra Mundial, ao passo que se calcula que a população da Alemanha, durante a Guerra dos Trinta Anos, ficou reduzida a metade. De um modo geral, não é verdade que a mortalidade causada pela guerra aumente com o aumento de eficiência das armas empregadas".

Bertrand Russel

30 de abril de 2011 às 12:32:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Caturo,acerca das Moiras...

http://my.opera.com/vinhopin/blog/show.dml/2840309

30 de abril de 2011 às 12:34:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Também para o sr. Caturo:

http://lendasecalendas.omeuforum.net/f3-lendas-mitos-e-contos-tradicionais-portugueses

30 de abril de 2011 às 12:36:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

O que acha o Caturo desta banda folk irlandesa?

http://www.youtube.com/watch?v=2KpNzalFKPo

30 de abril de 2011 às 12:49:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Da mesma banda,mas mais antigo,um belo tema tradicional da Irlanda,parte em gaélico parte em inglês,mas com a alma celta sempre presente.Julgo que etnicamente são celtas.
Espero que o sr Caturo aprecie este som folk de um grupo notável de cariz
tradicional.

http://www.youtube.com/watch?v=4ZP-4B7kHqA&playnext=1&list=PL9816CAF74F0F126E

30 de abril de 2011 às 12:54:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Para o blogger Caturo,uma canção folk do País de Gales,cantada integralmente em língua galesa.Uma pérola!
Ei-la:

http://www.youtube.com/watch?v=Nrkgdj0bVAo

30 de abril de 2011 às 13:10:00 WEST  
Anonymous Vera said...

"não consigo comentar através da conta do Google)"

Parece que então não é só azelhice minha.. Também deixei de conseguir comentar uma vez que não tenho gmail. Mas antes conseguia...

30 de abril de 2011 às 16:41:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«O «debate» é necessariamente «fulanizado», o que significa que a personalidade social dos interlocutores entra como uma mais-valia de sentido e de verdade no seu discurso.»

O argumento do «Magister dixit», de quem opta por se submeter aos «mestres» e alegadas «autoridades» para não ter de «perder» tempo a estudar ou sequer a raciocinar.

2 de maio de 2011 às 03:36:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«http://my.opera.com/vinhopin/blog/show.dml/2840309 »

Muitíssimo obrigado, é um bom trabalho, e por acaso até diz aí muito que também já aqui foi referido, nomeadamente a respeito da eventual raiz indo-europeia do culto a uma arcaica Deusa-Mãe Maia.

2 de maio de 2011 às 03:37:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«http://lendasecalendas.omeuforum.net/f3-lendas-mitos-e-contos-tradicionais-portugueses»

Outro tesouro, obrigadíssimo.

2 de maio de 2011 às 03:39:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«http://www.youtube.com/watch?v=2KpNzalFKPo»

Do pouco que ouvi, achei agradável. Em geral, contudo, alguma da música dita folk irlandesa não me inspira nada de especial. Um dos defeitos, a meu ver, de muitas dessas músicas, é o de serem cantadas em Inglês.

2 de maio de 2011 às 03:53:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«http://www.youtube.com/watch?v=Nrkgdj0bVAo»

Desta sim, desta gostei bastante.

2 de maio de 2011 às 03:53:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«http://www.youtube.com/watch?v=4ZP-4B7kHqA&playnext=1&list=PL9816CAF74F0F126E»

Por acaso gostei, mais do que da outra da mesma banda, apesar de cantada parcialmente em Inglês.

2 de maio de 2011 às 04:06:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

"http://www.youtube.com/watch?v=4ZP-4B7kHqA&playnext=1&list=PL9816CAF74F0F126E"


Os membros desta banda irlandesa são de etnia celta?
Obrigado.

2 de maio de 2011 às 09:58:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Para mim é óbvio que o são, se forem indígenas...

2 de maio de 2011 às 20:29:00 WEST  

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