MORREU JOÃO AGUIAR

É de lamentar a morte, ontem, do escritor João Aguiar, aos sessenta e seis anos. Ideologicamente, inscrevia-se eventualmente num âmbito de patriotismo minho-timorista, a avaliar pela natureza da sua diatribe contra os skinheads, aquando do homicídio sucedido no Bairro Alto em 1995, pretendendo atirar-lhes à cara a velha balela desmobilizadora e atadora de mãos do «em-Portugal-somos-todos-mestiços». Repugnou-me o seu estilo argumentativo, o que de modo algum interferiu, tanto quanto puder constatar, na qualidade da sua escrita literária, nomeadamente aquela em que se tornou especialista: a ficção histórica. É memorável, e referência literária contemporânea, o seu «A Voz dos Deuses», narrando a gesta de Viriato, é bastante recomendável o seu «A Hora de Sertório», cujo título diz tudo, é magnífico o seu «Uma Deusa na Bruma», que lança um olhar detalhado, baseado em boa informação histórica (Garcia Albalat e não só), sobre as gentes galaicas contemporâneas de Viriato. E, já não na ficção histórica, mas ainda na área da cultura ancestral portuguesa, é «obrigatório» o seu esplêndido «A Encomendação das Almas», que já aqui referi. Na medida do brilhantismo literário que alcançou, e sobretudo no contributo que deu à cultura portuguesa contemporânea, pode dizer-se que foi mas ficou.