sexta-feira, fevereiro 19, 2010

«A ENCOMENDAÇÃO DAS ALMAS»



Num mundo rural em decomposição acelerada, minado pela poluição física e mental, pelos media e pelas arremetidas da "Aldeia Global", um homem de setenta anos e um adolescente aliam-se para construir um pequeno universo privado, fantástico, parado no tempo, onde vivem os velhos ritos e as superstições do passado.
Porém, esse universo, frágil e vulnerável, não poderá resistir durante muito tempo à sociedade hostil que o cerca. Então, é preciso encontrar uma saída...
História de uma amizade e de uma revolta, A Encomendação das Almas é também um retrato-caricatura do nosso tempo.


É uma descrição que faz juz à riqueza deste pequeno e vasto livrito, que se lê de uma assentada mas que, parecendo que não chega para a cova de um dente, contém em si uma riqueza insuspeitada. Uma riqueza patente inclusivamente nos pequenos pormenores, como por exemplo o modo como o olhar sereno mas imane de uma das personagens, conjugado com o seu estranho fascínio pelo céu, como que indicia o seu destino, afigurando-se porventura como um primeiro sinal de que por detrás de uma aparência comum e ingénua, mostrava-se porventura uma natureza verdadeiramente celestial e terrível, uma luz do Alto a ver-se através e para além da carne. O título assume assim um significado duplo na medida em que, ao mesmo tempo que diz respeito ao conteúdo concreto da obra, por outro lado também refere uma «salvação» das almas, na medida em que os dois heróis, socialmente marginais, cada qual à sua maneira, constituem um bastião, neste mundo moderno, de uma chama antiga que contra ventos e marés brilha ainda, talvez ao fundo do túnel, como sói dizer-se. Diante de uma sociedade estupidificada pela mutilação dos espíritos, mergulhados na lama de um mundo desencantado e genericamente despido de beleza, míope e tapado, ergue-se pois um baluarte da verdadeira grandeza intemporal, secreta porque esquecida, mas guardada na memória étnica que hoje parece estar somente preservada nos livros: a do Outro Mundo presente nas tradições folclóricas relativas às Moiras Encantadas, aos Lobisomens, à almas penadas e, em especial, ao Secular das Nuvens, sobre o Qual já aqui se apresentaram três tópicos, no Gladius...

E agora, o outro lado da coisa, digo eu...

Independentemente do brilhantismo com que o autor exprime o seu ponto de vista, que me parece essencialmente válido, há algo que precisa de ser visto - ironicamente, trata-se do «fantástico» presente na vida de todos os dias, nesta vida urbana, industrializada, mecanizada, aparentemente embrutecida. Pois não será magnífico o mundo da sofisticação tecnológica, alcançando proezas com as quais os nossos avós podiam apenas sonhar? Ao contrário do que João Aguiar talvez pense, há algo de excelente no «shopping», ou aliás, no centro comercial, no hipermercado, na luminosidade, asseio, grandeza e diversidade opulenta (de Ops, Deusa da Fertilidade) que oferece, na mesma luminosidade e diversidade «mercurial» que a televisão oferece também a quem a souber ver com os seus próprios olhos, na mesma luminosidade e diversidade dionisíaca da borga debochada dos jovens na noite urbana, na luminosidade e diversidade «mercurial» (de Mercúrio, Deus dos Caminhos e da Comunicação) que a Internet oferece, inédita na História humana conhecida. Não será isto um portal para o Outro Mundo, para quem o souber utilizar? Bem dizia Heráclito que «tudo está cheio de Deuses»...

3 Comments:

Blogger Matos said...

Red Sonja (2010)

http://www.imdb.com/title/tt0800175/

Imagens:

http://www.imdb.com/media/rm1194563328/tt0800175

http://www.imdb.com/media/rm1177786112/tt0800175

Red Sonja Video Interviews

http://www.youtube.com/watch?v=T5DHVG2RL_I&feature=fvw

19 de fevereiro de 2010 às 19:31:00 WET  
Blogger Caturo said...

Obrigado, belas imagens. Valha-nos a irascível ruiva, já que o sombrio cimério está entregue aos bichos...

19 de fevereiro de 2010 às 19:50:00 WET  
Anonymous Joey said...

Belíssimo livro. Li-o à 3 anos em Lamego (terra boa, de gente forte, minha terra-mãe. Recomendo-o vivamente, assim como a toda a obra do João Aguiar

20 de fevereiro de 2010 às 05:38:00 WET  

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