sexta-feira, fevereiro 19, 2010

A NAÇÃO E O SEU PRINCIPAL INIMIGO NA EUROPA - A MENTALIDADE CRISTÃ NA SUA RAIZ


É sempre de ter em lugar de destaque este magnífico artigo de referência ideológica, da autoria de António Lugano (in «Cadernos para Reflexão», textos não editados), em boa hora publicado no blogue «O Fogo da Vontade», do qual se retiram os seguintes excertos:

Na Antiguidade grega o conceito de nacionalidade (“Ellinikon Ethnos”) envolvia uma inequívoca noção de “etnia”, de particularidade morfogenética intrínseca. Digamos que era uma expressão “de fronteira”, do reconhecimento do “outro diferente”.
(...)
Ainda na Antiguidade grega (um regresso sempre necessário para reencontro com os fundamentos da nossa racionalidade) existia um sentimento de pertença a uma comunidade de valores culturais que se oponham a outros, diferentes, contrários ou contraditórios que eram expressão de outras comunidades, de outros povos que os gregos denominavam “bárbaros”. De notar que “bárbaro” provém de “barbaroi”, os que fazem “barr, barr”, uma onomatopeia em grego para expressar toda a pronúncia confusa, dura e rouca (para os gregos), e que assim identificava todos aqueles que se expressavam de forma ininteligível para eles, apesar de que o grego antigo não constituía uma língua única, mas sim um conjunto de dialectos mais ou menos inter-compreensíveis, dos quais se distinguia o iónico-ático (língua de Atenas) de que derivou o “koiné”, língua veícular que falava Alexandre o Grande.´
A língua foi pois um importante factor de afirmação da “nacionalidade” grega, acompanhada de uma mitologia reintegradora, que Hesiodo nos legou na sua “Theogonia”, transmitida e conservada pela memória colectiva que a idealizou, desenhando os contornos de um fundo cultural comum.
(...)
Com o decorrer dos tempos desenvolvem-se na Europa duas perspectivas diferentes perante o nacionalismo :

- uma que associa “nação” ao território (direito de solo – “jus soli”);
- outra que relaciona “nação” com a origem comum (direito de sangue – “jus sanguinis”).

Se o “jus sanguinis” está na base dos agrupamentos populacionais até à Idade Média, a criação dos feudos (territórios e população de propriedade privada) originou movimentos de população que impuseram (por interesse senhorial) o “jus soli”. As tradições (expressão cultural) misturaram-se e a imposição de uma doutrina religiosa monoteísta (cristianismo) diluiu grande parte da mitologia “fundadora” do universo cultural europeu.
A população de que dispunha o senhor feudal determinava-se pelo território onde nascera (“jus soli”), e onde imperava a “normalização cristã”, dissolvendo-se a noção de comunidade por “jus sanguinis”. Lutava-se “pelo estandarte do senhor Conde”, ou “pelo pendão de Cristo”, não pela defesa de uma “nação” da qual se havia perdido já qualquer referência.
(...)

E não pode deixar de me vir à memória o que diz Berdyaev, pensador tradicionalista cristão, «de Direita», sobre o confronto entre o Cristianismo e o Nacionalismo, Nacionalismo este que ele interpreta como um retorno moderno, contemporâneo, ao Paganismo, ao Politeísmo - é precisamente essa a natureza mais profunda do pensamento verdadeiramente restaurador do Ocidente, a um tempo pagã e nacionalista, como defendi neste artigo, que continua a ser o texto central do Gladius.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

o importante agora é amanhã os nacionalistas estarem todos juntos na manif pela família contra o casamento gay e contra a homessexualidade!

19 de fevereiro de 2010 às 11:54:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

«(...)é precisamente essa a natureza mais profunda do pensamento verdadeiramente restaurador do Ocidente, a um tempo pagã e nacionalista, como defendi neste artigo, que continua a ser o texto central do Gladius.»

Interessante... entendes portanto que o paganismo é indissociável do nacionalismo?

19 de fevereiro de 2010 às 13:11:00 WET  
Blogger Caturo said...

Indissociável, não direi. Mas que é o seu culminar, e o seu vértice superior, acho que sim.

19 de fevereiro de 2010 às 14:14:00 WET  

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